Ora viva!
Há que tempos que estou para partilhar contigo um artigo que aborda a realidade de um fenómeno cada vez mais flagrante: pessoas que moram sozinhas.
Como já aqui referi, divido casa com mais duas colegas (uma conterrânea e outra tuga), não por vontade própria (vê-se logo), mas por falta de condições financeiras para sustentar um cantinho só meu. Não se quiser continuar a residir no centro da cidade.
Na minha terra, por duas vezes vivi sozinha. Arrumada, asseada, amante do sossego, ciosa da privacidade e cada vez mais adepta do silêncio, ter um espaço só meu é o meu sonho de consumo, desde sempre. Nessas ocasiões, fui de tal modo feliz que faço questão de manter viva a esperança de conseguir voltar a viver esse sonho aqui em Portugal, de preferência na Estefânia Street, a Manhattan de Lisboa, como gosto de chamar o meu adorado bairro.
O artigo, cujo primeiro parágrafo começa por referir que este é um fenómeno em crescimento nos países mais desenvolvidos e ligado à melhoria das condições socioeconómicas e à emancipação das mulheres, faz uma análise detalhada do perfil de quem vive só.
Para além de dados estatísticos (p.e., em duas décadas, o fenómeno quase duplicou em Portugal), cita vários testemunhos de quem escolheu esse modo de vida. Pelo meio, o texto (extenso, porém compensador) faz referência a estudos sobre a temática, abordagens sociodemográficas, dados de recenseamento populacional, pareceres de peritos na matéria, e por aí fora, culminando nesses termos: "um futuro em que viver só seja uma escolha cada vez mais acessível a quem quer fazê-la e cada vez menos significado de solidão, isolamento e olhares oblíquos, porque é apenas isso: uma escolha".
O que importa aqui salientar é que nunca como nos dias de hoje, tanta gente viveu sozinha. E mais: quem escolhe viver sozinho não quer outra coisa, isso posso garantir. Convém é saber se esta realidade é "resultado de constrangimento, de escolha, de constrangimento que se tornou escolha ou de escolha que acabou em constrangimento".