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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Nas minhas andanças pela rede descobri no blog obvious um artigo que, citando o sociólogo polaco Zygmunt Bauman, faz um retrato sem filtros da realidade atual das relações interpessoais.
Amor Líquido, talvez a obra mais popular deste que é um dos intelectuais mais respeitados da atualidade, analisa de forma simples e prática as relações amorosas e algumas particularidades da sociedade atual, a que ele chama de "modernidade líquida".
Segundo ele, vivemos tempos líquidos, onde nada é feito para durar, tão pouco sólido. Não obstante o desejo comum a todos, os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos feito água, devido à nossa dificuldade de comunicação afetiva, seja por medo ou insegurança.
Para este pensador, as relações terminam tão rápido quanto começam. Perante a adversidade e a contrariedade, resolve-se a situação cortando de imediato os vínculos. O que acaba por acumular (mais) problemas aos já existentes.
É um mundo de incertezas, cada um por si. Temos relacionamentos instáveis, pois as relações humanas estão cada vez mais flexíveis. Acostumadas com o mundo virtual e com a facilidade de "desconectar-se", as pessoas não conseguem manter um relacionamento a longo prazo. É um amor criado pela sociedade atual (modernidade líquida) para tirar-lhes a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros. Pessoas estão sendo tratadas como bens de consumo, ou seja, assim que dá defeito descarta-se - ou até mesmo troca-se por "versões mais atualizadas".
O romantismo do amor parece estar fora de moda, o amor verdadeiro foi banalizado, diminuído a vários tipos de experiências vividas pelas pessoas, as quais se referem a estas utilizando a palavra amor. Noites de sexo sem compromisso são apelidadas de "fazer amor". Não existe mais responsabilidades de se amar e a palavra amor é usada mesmo quando as pessoas nem fazem ideia do seu real significado.
Para melhor explicar as relações amorosas, Bauman estabelece uma relação entre parentesco e afinidade, afirmando que o primeiro seria o laço irredutível e inquebrável - aquilo que não nos dá escolha -, e o segundo voluntária, ou seja escolhida. No entanto, o objetivo da afinidade é ser como o parentesco. Só que, vivendo numa sociedade de total "descartabilidade", até as afinidades estão se tornando raras.
A questão do amor próprio também não escapou à análise deste sociólogo, que considera que as pessoas precisam sentir que são amadas, ouvidas e amparadas. Precisam igualmente saber que fazem falta. Ser digno de amor é algo que só o outro pode nos classificar, cabendo a nós aceitar (ou não) essa classificação. Contudo, perante tantas incertezas e relações sem forma - líquidas - nas quais o amor nos é negado, como garantir o amor próprio? Os amores e as relações humanas de hoje são todos instáveis, e assim não temos certeza do que esperar. Relacionar-se é caminhar na neblina sem a certeza de nada - uma descrição poética da situação.
Ainda admiram por eu estar (ainda) solteira. Num mundo em ninguém parece ter tempo, nem paciência e muito menos vontade de investir numa relação verdadeira, duradoura e sustentável.
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