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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Ora viva! 👊🏽
Vêm aí as eleições legislativas e, num momento tão crucial das nossas vidas, todo e qualquer voto conta, inclusive o voto da comunidade negra, a quem quero dirigir esta crónica, na esperança de que se consciencialize do seu poder de decisão nas urnas, logo nos destinos do país.
Muitas vezes, a abstenção prende-se com falta de conhecimento do verdadeiro poder de uma simples cruz num boletim de voto. Por experiência própria, estou em condições de afirmar que a indiferença e o "alienismo" cívico prende-se essencialmente com ausência de cultura política, inexistência de influência no meio envolvente e falta de consciência do nosso valor enquanto cidadão.
Porque o mundo está a pender para alas perigosas da política, com o extremismo da direita a galopar com vigor em direção ao poder, é com todo o gosto que não só apoio como junto-me ao movimento Voto Negro, do qual quero dar-te conhecimento neste post. E ninguém melhor do que os próprios mentores desta iniciativa para explicar a essência e a intenção de tal ação.
Voto Negro é uma campanha de mobilização do voto que pretende combater a abstenção e a exclusão social e política dos afrodescendentes em Portugal. Com o objetivo de aproximar a política de todos os cidadãos e relembrar que o voto é também um mecanismo de transformação social, o Voto Negro surge como um espaço de informação, onde será possível consultar as propostas de todos os partidos candidatos às eleições legislativas de 2022, no âmbito da discriminação e igualdade étnico-racial.
A equipa do Voto Negro pretende ainda contextualizar a situação dos direitos e integração dos afrodescendentes em Portugal, recorrendo a estudos e pareceres nacionais e internacionais. Acreditamos que a sub-representação e marginalização destes nos processos de decisão política pode ser combatida através do acesso à nacionalidade portuguesa. Assim, o Voto Negro pretende também informar, de forma clara e objetiva, quem está em condições de requerer a nacionalidade portuguesa, nomeadamente os novos perfis previstos na lei (após as últimas alterações de 2020) referentes a filhos de estrangeiros.
O Voto Negro é uma campanha apartidária que pretende contribuir para um voto informado e refletido, independentemente de preferências ideológicas. Nesse sentido, todos os programas eleitorais serão apresentados, tendo em conta as propostas que envolvam questões étnico-raciais.
Para alcançar o maior número possível de eleitores informados nas próximas eleições legislativas de 30 de janeiro de 2022, pedimos o vosso apoio e divulgação das páginas Voto Negro no Instagram e Facebook, onde iremos publicar todos os conteúdos.
Meu bem, daqui a menos de duas semanas somos de novo chamados a exercer o nosso direito e dever cívico de votar numas eleições (antecipadas) despoletas por uma crise política que a todos diz respeito e à vida de todos os residentes em Portugal toca. E porque é importante escolhermos quem nos irá representar, apoiemos a campanha "Voto Negro 2022". Esta é uma oportunidade para nós negros mostrarmos a nossa força no combate à abstenção e à ascensão da extrema direita, que se apresenta como uma ameaça à nossa democracia.
Para além de apoiar esta iniciativa, lanço um apelo público a todos os negros elegíveis para exercerem o seu poder de voto: não fiquem em casa, e motivem os vossos amigos e vizinhos a votar. Unidos fazemos a diferença!
Aquele abraço amigo!
Viva! ✌️
Hoje quero partilhar contigo a minha terceira crónica para o portal Balai Cabo Verde, publicado esta terça-feira e que versa sobre a importância do voto. Boa leitura.
Agora que a azáfama da campanha eleitoral é memória recente, estou em condições de pronunciar-me sobre o voto, na verdade sobre a ausência dele nestas últimas legislativas. Antes de desenvolver o assunto, sinto-me no dever de escrever, com todas as letras, que não sou do partido A, menos ainda do B, quanto mais do C. O meu partido é CV, sempre foi e sempre será. Talvez por isso tenha demorado tanto para despertar a minha consciência política.
No passado dia 18 de abril, o povo cabo-verdiano foi chamado às urnas, com vista à escolha dos órgãos legislativos. A taxa de abstenção, de 42,5%, e as conversas "captadas", aqui, ali e acolá, despoletaram em mim uma palpitante inquietação. Logo eu que sempre fiz questão de zelar por uma postura alienada, não obstante o meu fascínio pela ciência política, disciplina na qual destaquei-me como uma das melhores alunas do Liceu Domingos Ramos, com muito mérito do professor Domingos Júnior, a quem aproveito para prestar uma mais do que merecida homenagem.
A bem da verdade nunca exerci o direito ao voto na terra que me viu nascer. O ter ido estudar para fora, em ano não eleitoral, e as incoincidências entre as estadias e a agenda eleitoral justificam, em parte, esta realidade. Fiz questão de referir em parte porque a outra razão – aquela que realmente pesa – prende-se com uma arrogante indiferença para com o sistema político, o qual sempre acreditei cumprir o único propósito de conferir poder a uma elite cujo interesse em zelar pelo bem-estar da nação é mais privado do que público. E nem o facto de ter colaborado durante vários anos com a nossa missão diplomática em Portugal abalou essa convicção, tanto que sequer dei-me ao trabalho de recensear, ainda que tenha sido alertada vezes e vezes para o fazer.
O ter sido apanhada - ainda que de forma involuntária - no vórtice das eleições (aterrei no aeroporto internacional Nelson Mandela 10 dias antes da ida às urnas) mudou de forma indelével a minha perceção das coisas. E a tomada de consciência do meu papel, fundamental, nos destinos do meu país instigou-me a escrever esta crónica, na firme expectativa de que através dela os leitores, sobretudo os do sexo feminino, possam aperceber-se do real poder do voto na sua vida e na vida dos seus.
O que despoletou o clique? Ter vivenciado a campanha eleitoral in loco, a par da maturidade cívica e da consciência política de que eu faço a diferença, de que enquanto eleitor tenho voz. Assim, o meu voto é a minha voz, o meio (legal) de que disponho para dizer sim ou não, para querer ou rejeitar, para validar ou censurar, para aplaudir ou vaiar, para aceitar ou repudiar. Estar ciente de que tenho o poder de escolher o rumo que quero para o meu amado Cabo Verde torna ainda mais gritante essa tal indiferença nos meus quase 25 anos de cidadania ativa. Constatar que outras mulheres possam estar envoltas nessa mesma "neblina" política tem um sabor particularmente amargo no meu propósito de "desencardidora" de mentes.
A participação ativa, e efetiva, na vida política, mais do que um direito é um dever, de todos e de cada um. A não comparência às urnas representa um atentado à democracia, uma conquista árdua e sofrida, como bem sabemos. O cidadão que opta por abrir mão do voto, como foi o meu caso durante anos a fio, é acima de tudo um irresponsável, que delega aos outros a missão de conduzir a sua própria cidadania. O que ele esquece, ou talvez não saiba, é que aquilo que com tanta leveza despreza com demasiado esforço foi conquistado por quem se importou. Que aquilo que tanta indiferença lhe causa é o sonho de milhões que tiveram o azar de nascer sob regimes políticos opressores, nos quais não têm voz nem vez. Que aquilo que lhe maça - abrir mão de apenas uma hora entre as 43 800 que perfazem cinco anos – é um privilégio pelo qual tantas personalidades deram sangue, suor, lágrimas e até a própria vida.
Termino com um sentido apelo ao género feminino para que assuma de uma vez por todas o seu papel na vida política e faça bom uso do seu direito ao voto, já que esse é o meio por excelência de exercer a sua cidadania, a sua liberdade, a sua equidade, no fundo, o seu empoderamento. Não fazê-lo é deixar por conta de outrem o destino da sua vida, da vida dos seus filhos, da vida do seu país. Mulher cabo-verdiana, o teu voto é a tua voz, portanto, faz-te ouvir, em alto e bom som!
Ora viva!
Votei pela primeira vez na vida. O que pode parecer coisa pouca para aqueles que escolhem alienar-se do exercício da democracia, é para mim um momento histórico. O ter deixado o país que me viu nascer aos 19 anos e o ter adquirido a nacionalidade portuguesa há bem pouco tempo justificam o facto de só agora, aos 43 anos de idade, ter podido exercer a cidadania na sua forma mais contundente.
Gosto de política, sempre gostei. No secundário fui uma das melhores alunas de todo o liceu nesta disciplina. Considero-a, na sua essência, um dos melhores meios para atingir o fim nobre que é contribuir para o bem-estar coletivo e defender os interesses dos fracos e oprimidos. Não fosse o sistema que a sustenta tão corrupto, e corruptível, é mais do que provável de que nela aventurar me ia, quiçá na gestão autárquica.
Se reluto em registar publicamente as minhas opiniões políticas é porque sinto que estas pouca diferença fariam. Com tantos politiqueiros à solta por aí, o que teria a dizer uma blogger de solteirice que merecesse a pena ser levado a sério? Acredito piamente que cada macaco deve permanecer no seu galho, ou seja, que cada um deve falar com conhecimento de causa e não opinar só para não estar calado. Contudo, volta e meia, sinto necessidade de expressar o que me vai na alma, como é agora o caso.
O dia de ontem foi um drama, como de resto é habitual na minha vida. Crente de que não poderia votar, por não ter feito o recenseamento, contava eu seguir as eleições de camarote, no aconchego do lar. Por volta da hora do almoço, recebo um sms da minha amiga, e vizinha, a perguntar se já tinha ido votar. Lamentando a minha sina, lá expliquei o motivo porque não poderia fazê-lo. Nisto, vejo a passar no rodapé da RTP 3, canal através do qual ia seguindo o desenrolar dos acontecimentos, uma informação sobre como saber onde votar. Mais por curiosidade do que por outra coisa qualquer, enviei um sms para o número indicado, convicta de que, a obter uma reação, esta viria confirmar o que já sabia: o meu nome não constava dos cadernos eleitorais. Qual não foi a minha surpresa quando recebo uma resposta com a indicação do local do voto. Sabia lá eu que, em Portugal, o recenseamento é feito de forma automática...
Como era dia de jejum, sair imeditamente de casa estava fora de questão, sob pena de correr o risco de passar mal, caso tivesse que esperar muito tempo na fila. Assim, só às 18 horas e 25 minutos do dia 24 de janeiro do ano de 2021, após um belo desjejum, foi-me possível expressar o meu primeiro voto, depositado naquele que viria a ser reeleito presidente da República Portuguesa. Não é segredo nenhum que tenho estima pelo professor Marcelo Rebelo de Sousa, com quem privei de perto muito antes da sua chegada a Belém, pelo que não vou estar com rodeios sobre o meu sentido de voto.
Em relação aos resultados destas eleições presidenciais, dois aspetos parecem merecedores de particular atenção, e reflexão: o estado anémico da esquerda, especialmente a ala mais radical, e a escalada galopante da extrema direita, cujo partido sequer completou dois anos de vida. É óbvio que a decadência de um é inversamente proporcional à ascensão de outro.
Identifico-me com a ideologia esquerdista, mas confesso que já não posso ouvir falar da Catarina Martins, menos ainda do Jerónimo de Sousa. Já não há paciência para ouvi-los a dizer mal de tudo e de todos, o tempo todo, numa atitude típica de quem levou calote da vida. Pessoalmente, acredito que é isso que tem contribuído para o seu tombo ladeira abaixo. Já as últimas legislativas tinham dado a entender isso mesmo...
Enquanto cidadã atenta, sinto que, no momento em que o país mais precisou, eles simplesmente tiraram o corpo fora e optaram por assistir à gestão da crise pandémica da bancada. Fizeram questão de não fazer parte da solução, mas sim da oposição, uma oposição que tudo critica e nada edifica. Nestes últimos meses, o PSD foi mais aliado político do governo do que o PCP e o Bloco de Esquerda juntos. Não pensem eles que este tipo de postura não pesa na decisão dos eleitores. Espero que os respetivos líderes partidários saibam tirar as devidas ilações e repensem a sua estratégia política.
Quanto ao partido da extrema direita, cujo nome considero indigno de aqui ser pronunciado, o meio milhão de votos obtido representa um claro sinal de que a onda racista, fascista, xenófoba, homofóbica, misógina e intolerante não é coisa passageira, muito menos fruto de uma visão populista e demagoga. É sério, e como tal deve ser encarado. Outro dado inquietante prende-se com o facto de esta ala extremista reunir muita simpatia nos estratos sociais mais elevados, precisamente onde se concentram as tomadas de decisões.
Moral da estória: entre uma ala e outra, fico-me pelo Iniciativa Liberal, que esse ao menos tem demonstrado cortesia e respeito pelas regras do jogo.
Por hoje é tudo, voltarei na quarta com novidades sobre as duas lives que vou protagonizar esta semana. Aquele abraço amigo!
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