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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!

28
Out19

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Viva!

Numa busca frenética por um tema inspirador para este post, lá me lembrei de espreitar os rascunhos que vou atirando para os bastidores do AS, à medida que vou sendo acometida por espasmos epifânicos. Foi assim que acabei por resgatar um artigo do Público sobre as selfies, datado de 18 de setembro deste ano. Por se tratar de um assunto atual e pertinente, logo digno do nosso olhar acutilante, eis-me aqui a desafiar-te para um tête-à-tête sobre o fenómeno do autorretrato digital.

Para começo de conversa, não é de hoje que ouvimos, aqui e acolá, que por detrás de muito selfie existe um perfil narcisista, carente e pouco confiante. Verdade seja dita, quem de nós não possui no seu círculo de amizade virtual alguém cujo perfil corresponde na perfeição a esta descrição? Dado que a selfiemania parece ter vindo para ficar – se bem que já tenha visto dias melhores – proponho dissecá-lo comme il faut. Afinal, a ela ninguém sai ileso.

Publicar muitas selfies nas redes sociais leva os fotografados a parecerem mais egocêntricos, inseguros, menos bem-sucedidos, menos simpáticos e menos abertos a novas experiências. Especialmente se essas fotografias intentam evidenciar certas partes da sua anatomia. Por outro lado, publicar fotografias tiradas por outros, posies, está associado a uma maior autoestima e espírito aventureiro. Pelo menos é esta a conclusão de um estudo publicado recentemente no Journal of Research in Personality.

"Mesmo quando duas contas tinham conteúdos semelhantes, os sentimentos dos outros sobre a pessoa que publicava mais selfies eram mais negativos", resume o professor de psicologia Chris Barry, da Universidade do Estado de Washington, na apresentação dos resultados de uma pesquisa que comparou a forma como as pessoas são percecionadas com base no tipo de fotografias que publicam no Instagram. "É a prova de que, independentemente do contexto, há certas dicas virtuais que podem desencadear respostas positivas ou negativas nas redes sociais."

A experiência académica notou também que todos os utilizadores que publicavam fotografias para acentuar alguma caraterística física eram considerados egocêntricos. Nos casos das selfies foram ainda considerados solitários, maus amigos, pouco empáticos para com outros e pouco dispostos a vivenciar novas experiências.

Muito se tem escrito e discutido sobre a cultura selfie estar na raiz de uma geração mais narcisista do que nunca, exposta a novos meios onde o "eu" está acima de tudo e todos. "Estamos cada vez mais acostumados a pessoas vaidosas e posers que não têm mais nada a oferecer que não elas próprias e a sua necessidade de estar numa plataforma pública", considera Jeffrey Kluger, escritor sénior da Time, revista que em 2013 dedicou uma das suas edições à The Me Me Me Generation, onde na capa vinha estampada que "os millennials são narcisistas preguiçosos e egocêntricos que ainda vivem com os pais".

Segundo o jornalista que assina o artigo, "mais do que o narcisismo, os millennials são famosos pelo efeito dele: agir como se o mundo lhes devesse alguma coisa. Não só têm falta de empatia para se sentirem preocupados com os outros, como têm dificuldade em perceber o ponto de vista das outras pessoas, afinal cresceram a ver reality shows, que na sua maioria são documentários sobre o narcisismo", remata Joel Stein.

Se és da safra 1980-2000, mas não te identificas no acima descrito, tens mais do que motivos para te sentires afrontada com tais afirmações. Pudera, não são nada benevolentes, ainda que tenham o seu quinhão de verdade.

Por não fazer parte dessa turma da igualmente apelidada pela sociologia de Geração Y, sinto-me perfeitamente à vontade para mandar este bitaite: independentemente da faixa etária, da classe social ou do traço de personalidade, é incontestável que o mundo anda precisado de mais criaturas desconectadas do virtual, logo conectadas com o real; a sociedade precisada de mais pessoas focadas no outro, logo menos no "em si mesmo"; e nós humanos absolutamente ávidos por menos "me" e mais "we".

Dado que está o recado, dou por concluído este artigo, não sem antes deixar-te com aquele abraço amigo de sempre. Voltarei na quarta!

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handshake-3382503_960_720.jpgViva!

Quão distante parece estar aquele tempo em que se angariavam pretendentes – e se colecionavam admiradores – na escola, na praia, na discoteca ou numa esquina qualquer da vida. Nos dias que correm, a dificuldade, para não dizer impossibilidade, de conhecer alguém fora do universo virtual é claustrofóbico. E pelo que tenho visto, lido e ouvido, este é um mal transversal a todas as faixas etárias, com especial incidência nos "enta".

 
Académicos das universidades do Novo México e de Stanford vêm precisamente confirmar a realidade acima descrita. Um estudo por eles levado a cabo, envolvendo 3.510 casais heterossexuais, apurou que, atualmente, as pessoas conhecem-se cada vez mais online e cada vez menos no dia-a-dia. A partir da análise de dados de 2017, estes académicos chegaram à conclusão que 39% da amostra se conheceu pela primeira vez no ciberespaço. Em contrapartida, o número de casais que se conheceu pelos métodos tradicionais baixou. Uma constatação de que, em matéria de relacionamento amoroso, o virtual está a superar o real; pelo menos num primeiro momento.
 
A título de curiosidade, em 1995, apenas 2% dos casais conheceu-se pela internet; em 2000 a percentagem passou para 5%; em 2010 o valor quadruplicou, atingindo os 20%; e em 2017 chegou aos 39%. O mais provável é que, às portas de 2020, estes valores já estejam perto dos 50%.
 
De acordo com este estudo divulgado há coisa de um mês, apesar de ainda não ter sido publicado, o contacto inicial entre casais é maioritariamente feito pela internet ou pelo telemóvel. Quatro razões parecem estar na base desta crescente tendência: uma maior variedade de pessoas à disposição, um sítio livre onde as preferências e atividades podem ser expressas sem o julgamento da família ou dos amigos, uma informação atualizada sobre quem está disponível e a promessa de compatibilidade por parte de aplicações.
 
De um modo ou de outro, o online está cada vez mais presente na vida de (quase) todos nós. Portanto, o amor, como parte essencial da nossa existência, não poderia manter-se alheio a essa realidade. Aspetos como falta de tempo, apetência patológica para a praticidade e o comodismo, inexperiência e/ou inaptidão na arte da conquista, receio da rejeição, medo da acusação de assédio sexual e facilidade no acesso às apps de engate fazem com que cada vez mais corações solitários tentem a sorte no amor através da internet. Daí que seja perfeitamente compreensível o porquê do online estar a roubar espaço, e protagonismo, aos tradicionais métodos de engate.
 
Single mine, por hoje é tudo. Conto regressar na quarta com mais um post sobre um assunto digno de aqui ser abordado. Até lá fique bem e cuide desse coração, que (solitário ou não) a ti cabe o dever de preservar.

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