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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Viva! ✌️
Nesta última sexta-feira do primeiro mês do ano 2022 quero falar-te de um dos maiores flagelos da atualidade no que toca a relacionamentos amorosos: a violência. Para tal, inspirei-me na socióloga, ativista social, mentora do projeto Mon na Roda e da página Sem.tabus, Miriam Medina, que reuniu no livro Se causa dor, não é amor relatos de jovens que viveram um relacionamento abusivo.
Através de uma recolha que fez em todo o arquipélago de Cabo Verde, enquanto ministrava palestras sobre violência no namoro nas escolas secundárias, tendo tido a oportunidade de falar com mais de três mil jovens, Medina reteve uma dúzia de histórias, contadas na primeira pessoa, para dar corpo a um livro, que, nas palavras da própria, "pretende chamar a atenção da sociedade para essa problemática que está a afetar a sociedade cabo-verdiana".
Dado que este não é um fenómeno exclusivo à sociedade cabo-verdiana, pelo contrário, eis-me aqui a abordá-lo, com o intuito de proceder à sua exposição e consequente desmistificação. Porque é preciso falar, é preciso relatar, é preciso denunciar, é preciso educar, é preciso socializar, é preciso alertar, é preciso fazer algo. Caso contrário, estaremos a ser coniventes com algo que compromete claramente o bem-estar físico, emocional e psicológico de toda uma geração.
A violência é um comportamento inerente à condição humana e existe deste que o mundo é mundo. A violência na relação - ou doméstica como é comumente conhecida – é disso reflexo. Só que, nos dias de hoje, assume um protagonismo inédito e mediático, mais não seja porque os meios de denúncia e apoio à vítima são cada vez mais diversos e consistentes.
É ingénuo pensar que a violência baseada no género acontece apenas entre os adultos. Ela é também visível no seio dos jovens, com forte probabilidade de continuar na vida adulta, caso estes não consigam por termo a esses relacionamentos abusivos. Por estar bem ciente dessa realidade, Miriam Medina defende que é necessário ensinar os jovens a dizer "não", a valorizarem-se e a terem em conta que o amor é para ser vivido a dois e de forma saudável.
Após tomar conhecimento de tantas histórias, que considerou "graves", a autora assume que a violência no namoro é uma questão de saúde pública. Daí que lança um apelo às famílias no sentido de estarem mais presentes na vida dos jovens. A batalha contra este flagelo social só será possível quando a família, a sociedade e a escola se unirem numa frente única, considera Miriam.
Porque é que os miúdos, com uma vida inteira pela frente, submetem-se a este tipo de relacionamento abusivo, eis a pergunta que não nos cansamos de fazer. A explicação está numa "carência muito grande", que já vem do núcleo familiar, e estes, muitas vezes, para chamarem atenção acabam por se submeterem a um relacionamento abusivo, porque em dado momento vão ter o carinho que não encontram na família.
Meu bem, onde há amor, não há dor, não pode haver. Amor é para fazer feliz, não para causar sofrimento. Se causa dor, não é amor! Ponto final parágrafo travessão. E isso vale para miúdos e para graúdos, para Cabo Verde e para o resto do mundo.
Aquele abraço amigo de bom fim de semana!
Ora viva! 👋
Nos últimos dias, a sociedade cabo-verdiana tem testemunhado a uma inquietante onda de homicídios, com a violência patente em cada um deles. Para além do estupro, e consequente assassinato, de uma menina de 13 anos, cujo corpo foi barbaramente largado num sítio ermo da ilha do Sal, registaram-se ainda dois crimes passionais: uma mulher que matou o companheiro à facada (também na ilha do Sal) e um homem que matou a tiro a companheira (na ilha de Santiago).
Quem me conhece minimamente sabe que não sou apologista de dar tempo de antena a acontecimentos nefastos ao bem-estar mental e emocional. A realidade é suficientemente dura para estar a dar protagonismo ao seu lado perverso. Contudo, volta e meia, abro uma exceção para falar de casos que me tocam particularmente, tamanha a sua relevância para a harmonia social, sobretudo quando põe em xeque a problemática do género.
É à luz desta contextualização que eis-me aqui a partilhar este poderoso desabafo da escritora e ativista social Natacha Magalhães, a propósito dos episódios acima mencionados.
Ontem uma mulher assassinou o marido com uma faca. Hoje um homem (agente policial) mata a esposa com tiros.
Vejo comentários do tipo "até quando?", "quantas mais terão que perder a vida?", "nossa sociedade está doente".
Não. Paremos com isso! Nem toda a sociedade está doente. Não somos todos assim.
O que se passa, nesses casos, é que pessoas estão em relações sem sentido, com medo de ficarem sozinhas ou para darem uma satisfação à sociedade, que aprova mulheres e homens casados (ainda que mal casados) do que solteiros e felizes. Há muita pressa, pouca paciência, muita irracionalidade. E é o que se vê. Quantas/os se submetem a relações infelizes, onde o parceiro não tem nada a ver com a parceira e vice-versa, mas o casal só lá permanece apenas porque um ou ambos não conseguem viver sós? Quantos estão em relações baseadas no sexo e não na amizade, cumplicidade e respeito? Quantas mulheres e homens precisam aprender a amar e respeitar a sua própria pessoa, ao ponto de sair da relação tóxica ou quando as coisas chegam a um ponto que claramente há sinais de desgraça eminente?
O que há nessa sociedade é muita falta de amor, incluindo amor-próprio. Muita falta de cuidar da alma, de cultivar a fé e os valores.
Há autoridade capaz de resolver isso? Não! Essa é a nossa responsabilidade, enquanto pais e educadores. Lá em casa, ensinar as meninas e os meninos a autoestima e auto-respeito, a respeitar o outro, a gerir emoções, a aceitar opiniões contrárias.
Mais amor. Amor-próprio. Amor ao próximo.
Despeço-me com aquele abraço amigo e votos de Boas Festas.
Ora viva!
Porque nunca é demais vestir a camisola desta causa; porque a violência é um atentado ao mais básico direito humano; porque a tolerância da sociedade para com tal prática deve ser zero; porque as vítimas não devem ficar caladas; porque os agressores não podem ficar impunes; porque quem cala torna-se conivente; porque mulher merece ser tratada com afeto e respeito; porque este é o tipo de coisa que me revolta; porque antes solteira do que numa relação abusiva; partilho contigo uma publicação da atriz Camila Pitanga sobre os vários tipos de agressão (física, psicológica, moral, sexual, etc.) a que pode estar sujeita uma mulher.
Toda e qualquer violência física e psicológica contra a mulher deve, sim, ser repudiada. Quando se fala em agressão, não devemos pensar apenas em socos, tapas e chutes. A agressão também se faz com palavras, atitudes e manipulações que ferem a nossa dignidade. Estar presa em um relacionamento abusivo é também não ter real dimensão da gravidade da situação. É preciso que fique claro aqui que as atitudes de Marcos Harter são de truculência e violência, principalmente psicológica, contra Emilly Araújo. Sempre é importante destacar: a lei Maria da Penha enquadra a tortura psicológica como violência doméstica.
Para além dessa nossa fala, o protagonismo do público em denunciar e amplificar o caso é comovente. Que nossa voz ecoe e ajude a não deixar uma de nós só. Porque se mexeu com uma, mexeu com todas, SIM.
Acredito que este tomar de posição, não só dela, mas de muitas outras figuras públicas e anónimas, seja uma reação ao caso de assédio sexual que envolveu, há coisa de dias, um conhecido galã das telenovelas brasileiras.
Junta-te a nós neste retumbante não à violência contra a mulher partilhando este artigo. Juntas somos mais fortes.
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