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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Como qualquer jobless que se preze, diariamente acabo por consumir dezenas de anúncios de ofertas de emprego. Mas não só. Devoro igualmente artigos, recheados de dicas, sugestões, conselhos e instruções, sobre as melhores práticas a serem aplicadas aquando da busca, da entrevista e do follow-up.
Acabei de ler há instantes mais um, bastante interessante por sinal, pautado por um discurso claro, fluido e pertinente, sobre erros a evitar numa entrevista de emprego. Dado que nas últimas semanas devo ter ido já a umas 10 (às tantas começo a perder a conta), não é de estranhar que me tenha identificado com algumas das situações narradas e tenha feito um break para vir aqui divagar sobre o assunto.
Por mais gentil que eu queira ser para com a minha pessoa e amaciar o meu ego, a esta altura do campeonato sensível e carente, vejo-me impelida a reconhecer, com a sobriedade que me é exigida, que, de facto, tenho estado a cometer alguns dos erros mencionados no texto. De forma inconsciente, porém reiterada. Essa é que é essa!
Já não há margens para dúvidas que, de entre os oito tópicos listados, os meus maiores pecados são dois: a arrogância e falar mal do antigo empregador. Não pensem que desatei a insultar ou a criticar a entidade. Não de todo! Até porque é contra os meus princípios falar mal de quem quer que seja, ainda mais quando essa personagem já não faz parte da minha vida, logo está destituída de qualquer significância para a minha pessoa. Apenas cometi a ingenuidade, melhor dizendo, a insensatez, assumo e faço mea culpa com a devida humildade que tanto preciso exercitar, de revelar aspetos nada abonatórios relacionados com o meu último emprego.
Afinal que esperavam que eu fizesse? Perguntaram-me e respondi ipsis verbis como as coisas se passaram. Eu e essa minha língua comprida (bem que a minha progenitora sempre diz que a minha boca é que me mataria), maldita sina de dizer a verdade, sem anestesia, make-up ou acessório.
Torna-se agora imperativo que eu intensifique a minha ação formativa (e normativa) na matéria de aprender a filtrar melhor o que digo, a não contar tudo e menos ainda relatar fielmente os episódios mais suscetíveis de ferir a sensibilidade do entrevistador (esta soou bem, admitam lá!).
É aqui que entra o meu (eterno) dilema moral: se não fiz nada de errado, na verdade até fui eu que me despedi, na medida em que aquele trabalho atentava contra os meus princípios morais e éticos mais básicos, porque devo distorcer a verdade dos factos? Qual o problema de chamar as coisas pelos nomes e fazer um relato fiel dos acontecimentos? Se questionam é porque querem saber, certo? E se querem saber, porque não haveria esta criatura aqui escusar-se a dizer a verdade, somente a verdade e nada mais do que a verdade?
Pelos vistos, os entrevistadores com os quais cruzei-me nos últimos tempos não partilham desta minha visão das coisas. Tanto assim é que continuo em casa a chorar as minha mágoas neste blog. Assim, se quiser ser bem sucedida na próxima entrevista, convém elaborar um guião e decorá-lo na íntegra. Já assumi que ao entrevistador pouco interessa a veracidade dos factos, mas antes aquilo que lhe soe a politicamente correto.
Perante tamanha formatação de pensamento e práticas empresariais, não admira que o mercado laboral nacional abunde com assalariados incompetentes, dessimulados e oportunistas que tiveram a sabedoria (ou será esperteza?) de, ao longo do processo de recrutamento e seleção, revelar exatamente aquilo que deles se esperava ouvir, conquistando assim o seu lugar ao sol junto da população ativa. Trata-se de uma estratégia inteligente, não tenho como negar (tiro-lhes o chapéu por isso). Afinal, o mais importante é conseguir aquilo a que se propuseram: um trabalho.
Eu é que tenho que abrir a pestana, adaptar o parlapiê às expetativas dos recutadores e fazer-me à estrada. Sabem que mais? Vou mas é retirar a última experiência profissional do meu currículo, que assim ficarei salvaguardada do risco de falar demais. Como correu sempre tudo pelo melhor nas restantes experiências laborais, nada terei a temer quando me inquirirem sobre o assunto.
Sábia decisão Lego e com esta volta à tua busca pelo trabalho, que este blog não te paga as contas.
Meus amigos, fui!
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