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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Ora viva! ✌️
Durante as próximas semanas vou estar dedicada a um projeto que me vai exigir dedicação total, motivo pelo qual temo que a disponibilidade e a criatividade que te tenho dedicado possam ficar comprometidas. De tudo farei para que não te ressintas disso, mas o facto é que voltar a dar expediente todos os dias úteis, das 9 às 18, terá, com toda a certeza, um significativo impacto na performance de qualquer mortal que labuta em mais do que uma frente, como é o meu caso.
Seja como for, tudo se faz quando a alma não é pequena e a determinação é grande. Ilustro o que acabei de dizer: comecei a escrever esta crónica às seis da manhã de uma segunda-feira, mas, por motivos óbvios, só agora consigo concluí-la. 😉 Além de ter que voltar a cumprir horário, coisa que não acontecia há seis meses, o meu despertar madrugador prende-se em parte com a inesperada constipação que adentrou pelo meu organismo há coisa de três dias. Como sou avessa a fármacos, o jeito é confiar no meu sistema imunitário e esperar que ele depressa neutralize o inimigo e volte à sua máxima força.
Introdução à parte, hoje quero falar de algo que acordou comigo no pensamento: alegria de viver, ou brio para desfrutar da vida, como lhe quiseres chamar. A maioria dos mortais que conheço ambiciona permanecer vivo por muito tempo, sem, contudo, atentar-se ao facto de que deve empregar mais vida nos dias ao invés de almejar mais dias na vida. Respirar, dormir, trabalhar, pagar as contas e por aí fora não é viver, mas sim existir, ou vegetar nos casos mais críticos.
De forma a entenderes com exatidão o que quero dizer, vou partilhar contigo o caso de uma das minhas colegas de casa, a (des)inspiração para este desabafo. Com cerca de vinte e poucos anos (ou seja, na flor da mocidade), ela é a ilustração perfeita daquilo que chamo de vegetante, como descrevi no post Vivemos ou vegetamos. Se raramente o fazia antes de a pandemia rebentar, com a imposição do teletrabalho, a sua única aventura para lá do batente da porta de entrada é a ida dominical ao supermercado, para efeitos de abastecimento da despensa. Ou seja, há mais de ano e meio que ela não fica longe de casa por mais do que uma hora. E nem é por ter receio do covid, vê lá tu. É por, segundo palavras da própria, "não ter vontade de fazer nada".
Escuso dizer que uma pessoa com a minha forma de estar na vida é incapaz de atinar com tal postura existencial. Na idade dela, eu fazia precisamente o contrário, só queria estar na rua a desfrutar de tudo o que me fosse permitido, o máximo que pudesse. Ao que me consta não tem amigos, colegas de trabalho ou faculdade com que se relacionar. Só sai do quarto quando berram as necessidades fisiológicas, sempre de pijama e fones nos ouvidos, sua companhia inseparável durante cerca de 17 horas diárias. Tem estado a queixar-se da queda de cabelo. Pudera! Em tempo algum apanha sol, muito menos ar puro (acredites ou não, nem a janela do quarto abre... yep).
E antes que perguntes, não parece padecer de qualquer patologia psiquiátrica ou estética. É portadora de saúde, juventude, beleza, formação e saber estar. De namoro e essas coisas, tão essencial na sua faixa etária, nem me atrevo a levantar o véu, pois imagino que consegues tirar as tuas próprias conclusões. Esta jovem é, pois, o retrato falado do tipo de pessoa que vegeta: existe mas não vive.
Porque não ir à praia, não apanhar sol, não comer fora, não viajar, não sair para bater perna por aí, não ir ao cinema/teatro, não conviver, não arranjar-se, não praticar exercício físico, não 'sexar', não respirar ar puro ou não ter contacto com a natureza não é viver. Viver é desfrutar da nossa existência com vontade, alegria, gratidão, brio mesmo. É por isso que alerto todos à minha volta para a urgência de terem mais vida nos dias ao invés de mais dias na vida.
Por hoje é tudo, conto voltar aqui na quarta, se conseguir dar conta do recado. Beijo no ombro e brio na vida.
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