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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Viva!
A propósito dos tais programas televisivos que tanto deram que falar na semana passada e que até cheguei a comentar no post Os "dating shows" são decadentes, contudo viciantes, a seguidora NV acedeu partilhar connosco a sua perspetiva deste tema que não se esgota na sua futilidade:
Podia ser uma segunda-feira como outra qualquer... Daquelas cinzentonas, pesarosas, difíceis de digerir. Ou podíamos ser ainda alimentados pelos restos requentados do Conan, da Cristina, do Marcelo ou do futebol. Mas não... explodiu nas redes sociais a partir de uma bolha de fluídos suspeitos depois de uma orgia domingueira em frente à caixinha mágica.
Egos inflamados pelos valores, pelo correto, pelo errado, pelo feminismo, pelo machismo, pela falsa moral, a masturbarem palavras em manifestações de exibicionismo. Eis os senhores da virtude e da razão (virtual). E a razão? Dois programas televisivos, gémeos, separados à nascença. Ambos diferentes e simultaneamente semelhantes, saídos da National Geographic, a retratarem alguns espécimes da nossa sociedade através dos mais vincados estereótipos, ora no seu estado mais natural, com aroma a PVC, ora com um cheiro mais urbano e bairrista, com fêmeas alpha a fazerem de mãe e a revelarem, logo de caras, a razão dos filhos estarem solteiros.
Afinal, nada anormal para quem já utiliza o sentido de observação no dia-a-dia e lida com os frequentadores dos cafés lá da zona, daqueles onde se fala dos romances da bola e onde se "abancam" os "experts" da geopolítica estratégica mundial da batata, frequentadores de transportes públicos onde se ouvem os desabafos de dramalhões infindáveis, enquanto a vizinha do lado lê a TV 7 Dias, ou quando se visitam os cabeleireiros de bairro, onde as minas disparam bitaites com mais rapidez do que o Marcelo lê um livro, revelando uma capacidade multitasking fenomenal ao falar do novo namorado da filha da vizinha, da toilete que a princesa Meghan usa, ao mesmo tempo em que vendem um creme da Oriflame.
A sociedade fast-food pariu o pseudoamor, instantâneo e descartável, superficial, que nos deixa esfomeados e sequiosos de outra coisa qualquer assim que damos a primeira trincada numa atração de borracha. O desespero cria o sonho idílico que o amor pode estar nas coisas simples da vida e que talvez entre ovelhas e cabras se pode afinal encontrar um sapo que se transformará em príncipe, ou que uma sogra poderá ser a fada madrinha que oferecerá o seu mais-que-tudo que não sabe cozinhar ou passar a ferro, mas com um laçarote no topo.
Desenganem-se as alminhas puras e inocentes se realmente pensam que ali poderão encontrar o verdadeiro amor. Este será apenas um meio para atingir os seus fins, e basicamente todos saem a ganhar. Os próprios sabem isso. Aguçados pela sede de audiências, os canais apenas revelam de forma pornográfica (leia-se bruta e explícita), a realidade da nossa sociedade e do nosso querido Portugal…
E manifestam-se então as criaturas virtuosas das redes sociais ou as politiqueiras de serviço, que se degladiam com espadas de cartão face aos moinhos da pimbalhice, enquanto deixam escorrer uma pinguinha de azeite pelas pernas abaixo de tamanha excitação... Afinal, têm pezinhos de barro como qualquer um dos mortais, e também lhes corre um pouquinho de bimbalhice, parolice e pimba pelas veias, debaixo de toda aquela maquilhagem, silicone e roupa de marca. São as mesmas pessoas que não irão escolher um parceiro desdentado e obeso ou não irão querer a sua prole enrolada com atrizes de filmes para adultos. Oh, santa demagogia que abençoaste esta malta.
Desejo-te uma semana cintilante!
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