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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Ora viva!
Depois de um fim de semana cansativo, contudo produtivo, eis-me de volta ao teu convívio, desta feita com uma crónica sobre o recém-publicado livro do psicólogo clínico Eduardo Sá, intitulado Quem nunca morreu de amor, no qual ele defende, entre outras coisas, que estamos a viver uma "solidão assistida"; que não há verdades absolutas no amor; que fomos muito mal educados para as relações amorosas; que há uma diferença entre morrer para a vida e morrer de amor; que namorar dá trabalho, daí que se deva ter um 'namorário'; que somos preguiçosos em relação ao amor; e que precisamos de ter alguém, já que não somos completos sozinhos.
De entre os vários aspetos abordados numa entrevista ao Observador, partilho contigo alguns dos trechos mais pertinentes a este forum:
Não há verdades absolutas no amor
Acho que o amor é provavelmente a mais fantástica demonstração das imperfeições humanas, isso é fascinante. Imaginá-lo com verdades absolutas era tudo o que faria dele outra coisa que não amor. O grande desafio do amor é que, independentemente de sermos todos muito parecidos, todos ficamos a ferver por dentro de paixão e gelados de medo. Todos fugimos do amor. Quando nos cruzamos com alguém que acende muitas luzes — e que sentimos que, de alguma forma, pode ser o nosso amor —, o nosso impulso não é correr atrás dela, mas sim fugir, como se as pessoas com quem sonhamos só existissem no nosso desejo e não fossem palpáveis, não tivessem um rosto e não fossem como nós. De repente, há alguém que nos adivinha por dentro, há alguém que somos capazes de intuir de uma forma tão fina que até parece que criamos as coincidências e que adivinhamos o pensamento dessa pessoa.
Fomos muito mal educados para as relações amorosas
Acho que todos nós fomos muito mal educados para as relações amorosas. À medida que fomos crescendo, fomos criando a ideia de que as relações entram num patamar muito semelhante às atividades curriculares. Tenho a noção de que só aprendemos a descobrir as pessoas que são importantes na nossa vida, que ocupam o lugar na fila da frente do nosso coração, quando morremos de amor. Precisamos morrer algumas vezes de amor para percebermos o que queremos da pessoa ao nosso lado e o que é que temos para lhe dar. Há pessoas que, ou porque já estão muito fragilizadas por diversos motivos ou porque se sentem sós, preferem estar mal acompanhadas. Talvez não sejam assim tantas as pessoas que se sentem bem amadas. Às vezes, quando olhamos para as relações de casal sentimos que já não são relações amorosas — passaram a ser amizades coloridas e pouco mais.
Há uma diferença entre morrer para a vida e morrer de amor
Precisamos desesperadamente de amar para que a nossa vida tenha sentido. Por vezes, há uma discrepância tão grande entre aquilo que esperamos e aquilo que as pessoas que estão ao nosso lado são capazes de nos dar que, no fundo, tecnicamente, estamos acompanhados mas a viver uma espécie de solidão assistida. Uma relação amorosa é só o grande projeto de toda a vida. Há uma diferença entre morrer para a vida e morrer de amor: só não morre para a vida, quem morre de amor.
Namorar dá trabalho
As relações mais importantes são profundamente frágeis, porque estão sempre debaixo de um sufrágio muito apertado da nossa parte. Esperamos dessas pessoas o que não esperamos de mais ninguém. Se facilitamos nestas relações, que são absolutamente indispensáveis, abrimos feridas muito difíceis de cicatrizar. Acho que somos muito demissionários das pessoas que nos são mais importantes.
Há que ter um 'namorário'
Temos uma agenda absolutamente esclarecida para os nossos compromissos profissionais e um calendário das atividades dos nossos filhos. Mas, depois, não temos uma agenda de namoro, sem a qual vamos ficando infelizes devagarinho. Acho que devia haver um agenda de namoro, uma espécie de 'namorário'.
Somos preguiçosos em relação ao amor
Temos uma posição um pouco infantil em relação ao amor. À medida que vamos tendo uma atividade profissional e uma vida familiar há rotinas que se tornam irrespiráveis e é preciso dar um safanão. É preciso perguntarmo-nos como é que devemos furar este cerco para conhecer pessoas novas. Encontrar um amor ao virar da esquina nunca é coincidência, precisamos de trabalhar para isso. Às vezes, contentamo-nos com uma primeira relação a sério, não porque estejamos completamente contentes com ela, mas porque temos um pouco de medo de que… não venha mais ninguém.
Precisamos de alguém, não somos completos sozinhos…
Acho brilhante como se fazem alguns slogans ['Se eu não gostar de mim, quem gostará'] e como, de uma forma hábil, justificamo-nos com eles. Quando pomos as coisas dessa forma é como se estivéssemos a dizer que a outra pessoa da nossa vida, a quem à priori estamos a conceder a importância das importâncias, afinal não é tão importante assim — é como dizer que a outra pessoa não é o protagonista na nossa vida, antes uma personagem secundária.
Quem nunca morreu de amor que atire a primeira pedra. Com isto quero dizer que está lançado o repto para um debate sobre as declarações deste especialista.
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