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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Ora viva!
Contigo partilho hoje a segunda parte do conto A humanidade, a imunidade e a impunidade, cuja narração iniciei na passada quarta-feira, completa hoje uma semana.
Há muito que andava a chocar algo, pressentia a humanidade. Um espirro aqui, um sintoma ali, uma dorzinha acolá... Uma virose, consolava-se. E assim foi adiando o inevitável, até ao início do ano 2020, altura em que a sua imunidade colapsou, sucumbindo a um novo coronavírus chamado SARS-CoV-2.
Coisinha de nada, pensou na altura, um mal-estar passageiro que logo logo passaria, como tantas outras de que padeceu... Só que desta vez aquilo que a princípio pensou tratar-se de uma mera gripe sazonal foi-se revelando cada vez mais fatal, cada vez mais letal, cada vez mais mortal.. com consequências jamais vistos, ou previstos.
O que não viu, ou não quis ver, acabou por atingi-la de forma avassaladora. Demasiado ocupada a viver, a conviver, a experimentar, a explorar, a inventar, a inovar, a ousar... descurou o seu bem mais precioso: a saúde. Constantemente atarefada, nunca encontrara tempo para abrandar e prestar atenção aos sinais de alerta: o cansaço cada vez mais incapacitante, a pele cada vez mais baça, a boca seca, os olhos vidrados, a enxaqueca constante, o stress, a ansiedade, a depressão...
Há muito que vivia cada dia como se fosse o último... Quando tomou consciência de que poderia, de facto, ser o seu último dia entrou em histeria total... No dia em que perdeu a imunidade, a humanidade descobriu o (real) significado da impunidade. Claro ficou que a sua intemporalidade foi-se esvaíndo na futilidade... Que de tanto levar uma vida frenética, desregrada e inconsequente, a sua imunidade foi baixando até deixá-la vulnerável ao mais temível dos inimigos: aquele que não se vê, não se ouve, não se cheira, não se toca, não se sente...
Nesse momento, prometeu a si mesma que mudaria de atitude, que passaria a comportar-se melhor, que se aproximaria dos vizinhos, que seria mais solidária, que mimaria os idosos, que passaria mais tempo com os entes queridos, que trabalharia menos, que desfrutaria com consciência, que respeitaria mais o ambiente, que cuidaria melhor da sua imunidade... Em suma, que olharia mais por si e pelos outros...
Foi preciso ficar privada do seu estilo de vida, jamais questionado até então, para a humanidade se consciencializar de coisas desconhecidas ou apenas relegadas a laivos de memória: que o setor terciário é essencial, que os idosos importam, que a solidariedade conforta, que a saúde é fundamental, que a imunidade não é inexpugnável e que a impunidade cedo ou tarde acaba.
Finalmente, assumiu que unida resiste e que dividida sucumbe...
Conseguirá ela debelar a doença e curar-se? Caso sim, ficará com sequelas? Dar lhe á o universo uma nova oportunidade para ser e agir diferente? Se sim, saberá aproveitá-la para ser mais e melhor? Os próximos tempos o dirão!
Ora viva!
Hoje quero partilhar contigo a primeira parte de um conto, cuja redação iniciei em abril, em pleno confinamento geral da população portuguesa. Com ele pretendia eu concorrer ao Prémio Contos da Quarentena, promovido pela Livraria Lello. Dado que não cheguei a terminá-lo a tempo, eis-me aqui a dar-lhe alguma utilidade, não vá perder-se no meio das dezenas de rascunhos que tenho espalhado pela rede. Espero que gostes.
Era uma vez uma linda criatura chamada Humanidade. Filha do Sol e da Terra, afilhada predileta da Lua e amiga íntima das Constelações, foi criada com todo o esmero e dedicação. Airosa como nenhuma outra, a ela não faltava beleza, saúde, educação, conhecimento, luxo, divertimento, progresso...
Bastava querer que tudo conspirava a seu favor... tinha tudo o que quisesse, ainda que não quisesse tudo o que tinha. O que lhe interessava era ter, possuir, comprar, adquirir, acumular... mais e mais... sem atentar-se às possíveis consequências de todo esse consumismo desenfreado.
Incapaz de estar quieta, a vida era uma eterna paródia, um espetáculo que tinha de continuar não importasse como... Gastava rios de dinheiro em festas, festivais, concertos, espetáculos, jantares...
Viajava a toda a hora, por toda a parte, saltitando de continente em continente, de país em país, de cidade em cidade... pelos motivos mais surpreendentes. De avião, de jato, de navio cruzeiro, de carro, de autocarro, de moto... o que lhe permitisse não estar parada, não vá a rotina acomodar-se.
Adepta do desporto, apadrinhava todo o tipo de competição, sobretudo as transnacionais, por lhe lembrarem que a sua existência não conhecia fronteiras, barreiras ou limitações.
O verde, no início, e o cinza, no final, eram as suas cores favoritas.
Vaidosa compulsiva, mostrava-se incapaz em resistir ao charme industrial, em especial aquele que emanava do vestuário, do calçado, do automóvel, da tecnologia e do entretenimento, ainda que isso implicasse recorrer ao crédito. Estava (cada vez mais) endividada, sabia-o, mas o importante era a aparência e um padrão de vida digno de cobiça.
A sua existência só tinha valor se pudesse exibir-se. Por isso inventou as redes sociais, uma espécie de espelho mágico que lhe dizia, sempre que quisesse ouvir, que era a mais bela de todas. Como tal, era cada vez maior o tempo que lhes dedicava... afinal, além de não exigirem esforço acrescido, dedicavam-lhe atenção constante e... absoluta.
Quanto mais sacrificava o seu tempo, a sua inteligência, a sua socialização e a sua essência, mais realizada demonstrava estar...
Com o passar do tempo foi-se assumindo cada vez mais mimada, caprichosa, vaidosa, egoísta e fútil... desafiando os princípios mais básicos de existência e da convivência. A ela tudo lhe parecia descartável: as pessoas, os relacionamentos, os sentimentos, os laços familiares, os objetos, os serviçais...
Era-lhe mais caro o trabalho do que a família, o sexo do que o amor, o chat do que a conversa, os amigos do que os parentes, a rua do que o próprio lar, os outros do que ela mesma, o virtual do que o real, o superficial do que o essencial...
Desfrutava do hoje como se não houvesse amanhã, vivia o presente como se o futuro pouco importasse.
Quando jovem, só queria estar em comunhão com o que a rodeava. Com o passar do tempo, foi deixando pelo caminho o altruísmo e a sensibilidade. O materialismo fazia-se cada vez mais presente na sua atuação. A sua ideia de abundância tornou-se indissociável da prosperidade económica e financeira. Tudo o resto era de importância secundária, considerava ela...
Encontrava magia nas coisas e não nas pessoas...
Essa existência desregrada e desenfreada traria consequências sérias, alertavam-na aqueles que lhe tinham verdadeira estima... Focada, unica e exclusivamente, em alimentar os prazeres do corpo, não era do seu interesse inteirar-se da real gravidade do mal de que padecia. Fazia questão de ignorar os sintomas cada vez mais flagrantes...
De tanto brincar aos deuses acabou por esquecer que não passava de uma mera mortal, que, a uma velocidade estonteante, acumulava pecados atrás de pecados. Achava a Humanidade que a imunidade era o garante para a impunidade.
Quanta ingenuidade, quanta ignorância, quanta arrogância... mal sabia ela o que lhe estava reservado para o ano de 2020.
Continua...
Viva!
Vivemos tempos duros, é certo. Provavelmente, vai endurecer ainda mais daqui a um par de semanas. Com o passar dos dias, o isolamento social trará à tona novos problemas, sejam eles financeiros, conjugais, familiares, emocionais, psicológicos e até psiquiátricos. Ainda que não seja especialista na matéria, estou em crer que casos relacionados com ansiedade, ataques de pânico, depressão, suicídio, divórcio, obesidade e falência vão disparar em flecha.
Há coisas que não conseguimos controlar, daí que não valha a pena estarmos a perder tempo com elas. Concentremo-nos antes naquilo que depende de nós, especialmente no que podemos fazer para atenuar ou melhorar a situação. O isolamento social não tem que estar associado apenas a coisas más. Como tudo na vida, também ele possui um lado positivo, por mais que não pareça. Apelando à minha experiência pessoal, dou vários exemplos de como esta quarentena imposta pode ser boa para a nossa vida. Anota aí:
Mais hora de sono
O regime de teletrabalho tem-me proporcionado mais uma hora de sono. Em vez de me erguer às sete, agora só às oito horas digno elevar o meu património físico da cama. Garanto-te que ele não se tem queixado dessa hora extra.
Ora viva!
Momento conturbado este que estamos a viver. Não só pelo Covid-19, mas sobretudo pelo clima de medo, incerteza e hipocondria que à sua volta paira, e da qual nenhum de nós está a conseguir manter-se indiferente. Dada a nossa pouca margem de manobra em relação ao rumo dos acontecimentos, proponho para hoje algumas dicas de felicidade.
Por acreditar que ao reforçarmos o nosso positivismo estaremos a reforçar a nossa capacidade de resposta a estes dias de dificuldade, eis-me aqui a partilhar contigo algumas atitudes - lições de vida, no fundo - recomendadas por especialistas àqueles que querem ser mais felizes.
1. Medo de fazer algo
Anthony Freire, diretor clínico de um centro de saúde mental nova-iorquino, considera que a forma mais eficaz para nos livrarmos de sentimentos como medo, receio, vergonha ou culpa é "assumir que eles existem porque dissemos a nós mesmos que deveríamos sentir-nos assim". Portanto, não deixar de fazer nada por medo, enfrentar a situação e lutar pelo que se quer é a melhor estratégia para superarmos a questão, aconselha o psiquiatra.
2. Inquietação com situações que nos ultrapassam
Stress e preocupação são inerentes à condição humana, pelo que é impossível bani-los da nossa vida. Contudo, é possível reduzi-los ao inevitável, ou seja, focarmo-nos apenas nos pensamentos e acontecimentos que realmente podemos mudar. "Faça uma lista dos problemas que a estão a assombrar e escreva o que pode fazer para mudar a situação. Reveja as questões com as quais pode fazer algo e esqueça as restantes", aconselha a terapeuta Osibodu-Onyali.
3. Guardar rancor
É facto assente que o rancor é altamente prejudicial ao nosso bem-estar físico, emocional, psíquico e espiritual. É por isso que "encerrar histórias antigas" ou "tentar retomar" algo que valha a pena, seja a recomendação desta especialista. Claro que isso não significa que devemos deixar (re)entrar pessoas tóxicas na nossa vida, mas antes que, perante algo que está mal resolvido, tentar levar a questão a bom porto ou, não sendo possível, deixá-la ir; sem mágoa nem ressentimento.
4. Comparação com os outros
O ciberespaço, em especial as redes sociais, tem tanto de bom como de mau. Ele tanto aproxima como afasta, tanto integra como marginaliza, tanto enaltece como desmerece, tanto aceita como rejeita, tanto enobrece como desgraça; tudo isso à mercê da conveniência e da mestria de cada um. Como tal, devemos ter sempre em mente que as pessoas partilham apenas uma parte da sua vida, uma parte que muitas vezes é meramente ilusória. Daí que compararmos a nossa vida com a dos outros não contribui nem um pouco para a nossa felicidade. Pelo contrário!
5. Sobrevalorização da opinião alheia
Estamos nós cientes de que viver em sociedade implica seguir normas e códigos de conduta. Nenhum de nós está imune a isso. Todavia, isso não quer dizer que a nossa vida deva ser regida em prol da opinião dos outros. Quanto a isso, Osibodu-Onyali é taxativa: "Nem toda a gente tem de gostar de nós" e nós devemos estar bem com essa situação, não nos privando, por isso, de viver como queremos.
6. Querer ter sempre razão
É normal que, quando estamos a discutir com alguém, queiramos ter sempre razão. No entanto, esta atitude pode fazer mais mal do que bem à nossa saúde mental. Anthony Freire aconselha a deixarmos de lado a constante necessidade de "vencer", até porque esta ação "consome muita energia". "Quantas vezes é que insistimos numa discussão apenas por teimosia de querer ter razão? Muitas das vezes acabamos por dizer coisas que não queríamos e depois até acabamos por pedir desculpa", explica o especialista.
Meu bem, espero que encares estes conselhos de quem sabe como (mais) um lembrete de que a tua felicidade, na maior parte das vezes, está ao alcance da atitude que tomas perante situações e acontecimentos com que te deparas ao longo da tua existência. Esta pandemia é apenas mais um acontecimento na tua vida, assim como na de todos nós, e da qual podes sair mais ou menos ilesa, dependendo da atitude que resolveres assumir.
Aquele abraço amigo (agora mais precioso que nunca), e até breve. Fica bem, fica em casa!
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