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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Ora viva! ✌️
Em modo filosofia, hoje acordei a pensar no poder, mais concretamente na sua importância para o ser humano. Que fique bem claro que quando me refiro ao poder não estou a falar de força de vontade, mas sim de vontade à força. De acordo com a Wikipedia, o poder define-se, geralmente, como a habilidade de impor a sua vontade sobre os outros, mesmo se estes resistirem de alguma maneira.
O que mais abunda por este planeta azul são criaturas obcecadas com poder, ao ponto de, na sua busca desenfreada, atentarem contra a vida e a dignidade alheias, sem escrúpulos nem remorsos. Falando por mim, a maioria daquelas com as quais tenho a oportunidade - ou o azar - de privar consideram (erroneamente, claro) que este consiste em dar ordens, incutir temor ou exigir respeito. Não é à toa que sentencia o ditado: "se queres conhecer uma pessoa, dá-lhe poder!"
Na minha forma de ver as coisas, o (verdadeiro) poder consiste em inspirar pessoas, influenciar decisões, mudar vidas e transformar mentes. Daí que o considere acima de um cargo, um título, um status, uma conta bancária ou uma crença. E tu, meu bem, alguma vez te questionaste sobre o poder do poder na tua vida? Se sim, importas-te de partilhar comigo o teu ponto de vista?
Agora que está dado o recado, vou bazar que muito trabalho me aguarda - sim, estou ciente de que já passam das sete da noite de uma sexta-feira, mas vida de profissional (muitas vezes) tem destas coisas. Sei que foi curta a minha passagem aqui hoje, mas prometo voltar na segunda, inspirada e revigorada, para mais uma conversa amiga.
Aquele abraço de bom fim de semana!
Viva! ✌️
Hoje quero partilhar contigo a minha terceira crónica para o portal Balai Cabo Verde, publicado esta terça-feira e que versa sobre a importância do voto. Boa leitura.
Agora que a azáfama da campanha eleitoral é memória recente, estou em condições de pronunciar-me sobre o voto, na verdade sobre a ausência dele nestas últimas legislativas. Antes de desenvolver o assunto, sinto-me no dever de escrever, com todas as letras, que não sou do partido A, menos ainda do B, quanto mais do C. O meu partido é CV, sempre foi e sempre será. Talvez por isso tenha demorado tanto para despertar a minha consciência política.
No passado dia 18 de abril, o povo cabo-verdiano foi chamado às urnas, com vista à escolha dos órgãos legislativos. A taxa de abstenção, de 42,5%, e as conversas "captadas", aqui, ali e acolá, despoletaram em mim uma palpitante inquietação. Logo eu que sempre fiz questão de zelar por uma postura alienada, não obstante o meu fascínio pela ciência política, disciplina na qual destaquei-me como uma das melhores alunas do Liceu Domingos Ramos, com muito mérito do professor Domingos Júnior, a quem aproveito para prestar uma mais do que merecida homenagem.
A bem da verdade nunca exerci o direito ao voto na terra que me viu nascer. O ter ido estudar para fora, em ano não eleitoral, e as incoincidências entre as estadias e a agenda eleitoral justificam, em parte, esta realidade. Fiz questão de referir em parte porque a outra razão – aquela que realmente pesa – prende-se com uma arrogante indiferença para com o sistema político, o qual sempre acreditei cumprir o único propósito de conferir poder a uma elite cujo interesse em zelar pelo bem-estar da nação é mais privado do que público. E nem o facto de ter colaborado durante vários anos com a nossa missão diplomática em Portugal abalou essa convicção, tanto que sequer dei-me ao trabalho de recensear, ainda que tenha sido alertada vezes e vezes para o fazer.
O ter sido apanhada - ainda que de forma involuntária - no vórtice das eleições (aterrei no aeroporto internacional Nelson Mandela 10 dias antes da ida às urnas) mudou de forma indelével a minha perceção das coisas. E a tomada de consciência do meu papel, fundamental, nos destinos do meu país instigou-me a escrever esta crónica, na firme expectativa de que através dela os leitores, sobretudo os do sexo feminino, possam aperceber-se do real poder do voto na sua vida e na vida dos seus.
O que despoletou o clique? Ter vivenciado a campanha eleitoral in loco, a par da maturidade cívica e da consciência política de que eu faço a diferença, de que enquanto eleitor tenho voz. Assim, o meu voto é a minha voz, o meio (legal) de que disponho para dizer sim ou não, para querer ou rejeitar, para validar ou censurar, para aplaudir ou vaiar, para aceitar ou repudiar. Estar ciente de que tenho o poder de escolher o rumo que quero para o meu amado Cabo Verde torna ainda mais gritante essa tal indiferença nos meus quase 25 anos de cidadania ativa. Constatar que outras mulheres possam estar envoltas nessa mesma "neblina" política tem um sabor particularmente amargo no meu propósito de "desencardidora" de mentes.
A participação ativa, e efetiva, na vida política, mais do que um direito é um dever, de todos e de cada um. A não comparência às urnas representa um atentado à democracia, uma conquista árdua e sofrida, como bem sabemos. O cidadão que opta por abrir mão do voto, como foi o meu caso durante anos a fio, é acima de tudo um irresponsável, que delega aos outros a missão de conduzir a sua própria cidadania. O que ele esquece, ou talvez não saiba, é que aquilo que com tanta leveza despreza com demasiado esforço foi conquistado por quem se importou. Que aquilo que tanta indiferença lhe causa é o sonho de milhões que tiveram o azar de nascer sob regimes políticos opressores, nos quais não têm voz nem vez. Que aquilo que lhe maça - abrir mão de apenas uma hora entre as 43 800 que perfazem cinco anos – é um privilégio pelo qual tantas personalidades deram sangue, suor, lágrimas e até a própria vida.
Termino com um sentido apelo ao género feminino para que assuma de uma vez por todas o seu papel na vida política e faça bom uso do seu direito ao voto, já que esse é o meio por excelência de exercer a sua cidadania, a sua liberdade, a sua equidade, no fundo, o seu empoderamento. Não fazê-lo é deixar por conta de outrem o destino da sua vida, da vida dos seus filhos, da vida do seu país. Mulher cabo-verdiana, o teu voto é a tua voz, portanto, faz-te ouvir, em alto e bom som!
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