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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Viva!
Quem me conhece sabe que não sou pessoa de pedir desculpas a torto e a direito, na mesma proporção que não gosto que me peçam desculpas por tudo e por nada. A razão por detrás desta minha forma de estar na vida assenta no dito popular de que desculpas não se pedem, evitam-se.
Duvido genuinamente que um pedido de desculpa, por mais sentido que seja, é a melhor estratégia para quando fazemos asneira, sobretudo naquelas alturas em que ferimos os sentimentos alheios ou prejudicamos alguém. Abro aqui um parêntesis para frisar que a deliberação do ato praticado não está sendo aqui tido nem achado.
Claro que, como humanos que somos, erramos. Eu erro, tu erras, ele/erra, nós erramos, vós errais, eles erram. Contra isso nada a argumentar, pois é da nossa natureza. Dado que todos erramos, a minha forma de encarar as coisas leva-me a assumir que o termo mais adequado será "perdão" e não "desculpa". Quando dizemos a alguém "perdoa-me", além de arrependimento, demonstramos humildade e um profundo respeito pelo outro. Para quem tem dificuldade em proferir essa expressão, um "sinto/lamento muito" pode ser igualmente eficaz.
Quando dizemos "des+culpa", como a própria composição da palavra indica, estamos a distanciar o sujeito da ação, ou seja, estamos a separar o eu do ato praticado. Para mim, isso mais não é do que uma tentativa patética e infantil de nos isentarmos de toda e qualquer responsabilidade pela falha praticada. Como se a "merda" que fizemos fosse mais uma ação que correu mal do que propriamente uma consequência direta de algo que poderia ter sido evitado caso tivéssemos tido mais atenção às consequências.
Quando o pedido de desculpa traz atrelado o "não foi por mal", aí é que fica o caldo entornado, pois disparo à queima-roupa: "se não foi por mal foi por que raio então?"
Uma das coisas que eu mais prezo na interação social é a capacidade que cada vez menos pessoas demonstram em por-se no lugar do outro, antes de agir. Pensar em como eu próprio me sentiria se o que estou prestes a fazer/dizer viesse do outro. O meu respeito pelos sentimentos alheios, aliado a uma aversão insana pelo confronto verbal, é de tal ordem que prefiro ferir os meus sentimentos a ter que ferir os alheios. Como tal, passo a vida num sofrimento constante, já que os outros ou não se apercebem desta minha postura e tomam-me por idiota ou se apercebem e mesmo assim levam a deles avante na expectativa de que não serei capaz de os enfrentar.
Quando mais jovem, não deixava passar nada – como se diz na gíria, não levava desaforro para casa. Quanto desgaste emocional, quantas desavenças, quantas recriminações (infligidas ou autoinfligidas), quanto desperdício de tudo e mais alguma coisa. Com a maturidade, rendi-me à evidência de que mais importante do que ter razão é ter paz.
Por isso, fui-me calando, deixando passar, relevando, justificando. Só que essa opção, como tudo na vida, também tem o seu preço, muitas vezes mais alto que a primeira. Só eu sei o quanto me corrói a alma cada vez que "engulo um sapo", pois não é da minha personalidade "comer e calar". Assola-me uma cataplana de sentimentos como angústia, inquietação, revolta, injustiça, cobardia e culpa. Sim culpa. Sabe-se lá porque carga de água (por acaso até sei), sinto-me culpada mesmo quando são os outros a falharem comigo.
A esta altura da vida, já nem sei qual a melhor tática: enfrentar ou resignar; refilar ou revelar; argumentar ou calar; contestar ou aceitar. Dizem os mais ponderados que a solução encontra-se algures pelo meio, só que eu ainda não consegui reunir skills suficientes para a pôr em prática com sucesso.
Na firme convicção de que ainda conseguirei atingir esse nirvana, remato esta crónica com um profundo pesar por constatar que pedir desculpa virou rotina. Usa-se por tudo e por nada. Portanto, ao invés de pedirmos desculpas, evitemos precisar fazê-lo, pois quando eliminamos as desculpas passamos a extinguir as razões pelas quais as pedimos!
Bom fim de semana e até breve!
Ano novo vida nova, não é o que se costuma dizer? Mas de que adianta desejar uma vida nova se não formos capazes de deixar para trás tudo aquilo que não contribui para a nossa felicidade?
O post de hoje debruça-se sobre o perdão e o seu benefício para a nossa saúde física, mental e espiritual. Alimentar rancor, vingança ou ódio é o pior que podemos fazer a nós próprios. Perdoar, diz a ciência, faz-nos mais felizes e torna-nos mais saudáveis. Afinal, isso não é tudo o que queremos?
O perdão, tradicionalmente estudado pela filosofia e um dos tópicos prediletos da teologia, há muito que saltou também para o campo da psicologia e da ciência, sendo que esta última defende que perdoar é o melhor remédio.
A forma mais objetiva de definir perdão é como um processo mental que elimina ressentimentos ou rancores em relação a outra pessoa ou a nós próprios. Mas talvez a mais poética seja esta que Fred Luskin, o diretor do Stanford University Forgiveness Project propõe: perdoar é a experiência de poder estar em paz, independentemente do que aconteceu na nossa vida há cinco minutos ou há cinco anos. Perdoar não é esquecer, é viver tranquilamente com o que não se esquecerá. "Tal como é estudado na psicologia, é um ato de amor e compaixão para com alguém cujo procedimento nos magoou, mas também uma forma de nos libertarmos de sentimentos de vingança e ressentimento, que geram emoções negativas", considera a psicóloga Catarina Rivero.
Camarada de luta, companheira de dramas e aliada das batalhas diárias em busca da felicidade, proponho que neste novo ano façamos do perdão uma das nossas grandes prioridades. Perdoemos. Não o façamos pelos outros (o merecimento destes é o que menos importa a esta altura do campeonato), mas sim por nós: pela nossa saúde, pela nossa alma, pelo nosso coração, pela nossa paz de espírito, pela nossa confiança na humanidade. Por tudo. Por nada.
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