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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Ora viva!
A inspiração - que andou arisca na última semana, provavelmente escaldada pelo tempo - parece ter voltado em força, graças à LL, uma seguidora que partilhou comigo o drama de estar numa relação com alguém centrado, unica e exclusivamente, em si mesmo. O seu desabafo mais não me pareceu do que um grito de infelicidade e impotência, um claro pedido de socorro.
Escuso dizer que a minha primeira reação foi sugerir que mandasse o gajo à merda, mas como percebi que, para ela, a solução não era tão simples quanto isso, comprometi-me a escrever sobre o assunto, na expectativa de que mais alguém se identifique, ao ponto de querer partilhar a sua experiência, dando assim à LL uma luz sobre o rumo a dar a uma estória que de amor só tem dele para ele mesmo. Confusa? Já vais entender!
Do que depreendi do nosso bate-papo, e mesmo sem qualquer qualificação profissional na área da mente, atrevo-me a diagnosticar a personalidade do dito cujo com quem ela anda metida, a raíz de toda a sua angústia. Em resultado da pesquisa que fiz, é-me possível reconhecer nele os traços de um narcisita de primeira linha. Vejamos: o gajo acha-se melhor do que os outros (ela inclusive); vive num permanente estado de competição; quer sempre tudo sem dar nada em troca; demonstra grande dificuldade, incapacidade até, em compreender o ponto de vista dela; não faz nada a custo zero; lida muito mal com a frustração; esforça-se demasiado para ser admirado, para ser o centro das atenções; raramente mostra empatia para com as necessidades ou sentimentos alheios; encara a relação amorosa com superficialidade, dando a entender que esta só serve para lhe afagar o ego; revela uma postura arrogante, soberba, insolente e crítica, sempre centrado nos seus pontos de vista e jamais nos dos outros.
Uma vez traçado o perfil dessa pessoa totalmente focada em si, analisemos, à luz da psicologia, o seu comportamento no contexto amoroso-sentimental. "À primeira vista, é relativamente fácil gostar de um narcisista, já que é uma pessoa sedutora, atraente, com carisma e que se mostra extrovertida, autoconfiante e determinada", esclarece Rita Fonseca de Castro, da Oficina de Psicologia. "Quando estabelece um objetivo, é muito persuasivo pelo que, se estiver interessado em se relacionar com alguém, para sua própria gratificação, fará com que o alvo da sua cobiça se sinta especial e desejado." Foi precisamente isso que aconteceu com a protagonista deste melodrama. No início, o fulano demonstrou ser um encanto de homem, com uma personalidade impossível de resistir.
Envolver-se com um narcisista é entrar numa montanha-russa de emoções, que de um modo geral termina rápido e mal. "Alguém com uma personalidade assim tende a estabelecer relações de curta duração e superficiais, sempre focadas nos seus ganhos pessoais. Quem tem uma relação com uma pessoa com esta patologia acaba por investir tudo (sozinho) na relação, e só se apercebe verdadeiramente disso quando acaba", alerta a psicóloga.
Cara LL, para o caso de ainda teres alguma dúvida, retém isto: o teu namorado já encontrou o grande amor da sua vida: ele mesmo! Motivo pelo qual é-lhe francamente difícil entregar-se genuinamente a outra pessoa. Ele pode até sentir-se - e mostrar-se - apaixonado, só que as suas motivações nunca serão verdadeiramente altruístas. Por muito que te custe ouvir, não há como dourar a pílula: a ele só lhe interessa os benefícios que a vossa relação lhe proporciona. É da sua natureza preocupar-se apenas consigo mesmo, pelo que, por mais que queiras, ele não vai mudar. Nem por ti, nem por ninguém. Afinal, uma onça jamais perde as suas pintas, por mais que as tente camuflar.
Um abraço afetuoso meu!
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