
Viva!
Sou como S. Tomé; só creio no que vejo, no máximo no que ouço alguém próximo contar que viu. Por isso mesmo, e farta de estar constantemente a levar com frases feitas sem nenhum fundo de garantia empírico, vari o ciberespaço à procura de fundamentação científica para algumas questões que a sociedade nos impinge como factos e não convicções.
Assim, cumpre este artigo o doloroso dever de deitar por terra algumas crenças que correm de boca em boca, ultrapassam gerações, proliferam pelas redes sociais e assentam raízes no imaginário coletivo. Eis aqui uns quantos mitos que deves mandar às favas, uma vez que estão longe de estarem certificadas pela Dra. Ciência:
1 - Usamos apenas 10% do nosso cérebro
A ideia de que usamos apenas 10% do nosso cérebro nasceu há mais de um século e perdura até aos dias de hoje. Várias investigações têm demonstrado que nenhuma área do cérebro está completamente adormecida e que há funções fundamentais ativas em quase todas as zonas.
2 - Rapar o pelo faz com que ele cresça mais rápido e mais forte
Esta crença há muito que assombra aqueles que, como eu, não suportam pelos abaixo da linha dos olhos. Apesar do senso comum parecer ir de encontro a ela, a verdade é que estudos atestam que rapar não provoca o aparecimento de novos pelos nem engrossa os que já existem.
3 - Preocupações causam cabelos brancos
Desta máxima estava eu firmemente convencida até começar a escrever este artigo. O que não sabia é que as células responsáveis pela pigmentação são programadas geneticamente para deixarem de produzir o pigmento do cabelo a partir de uma certa idade, um processo que não é influenciado por um maior ou menor grau de stress na nossa vida.
4 – Não se arrancam cabelos brancos porque nascem mais
Por experiência própria sei que este mito não tem fundamento nenhum. Há vários anos que arranco os meus fios brancos e posso garantir que nascem exatamente o mesmo número de fios que se arranca. Isto porque cada fio cresce a partir de um folículo próprio, pelo que arrancar um não vai fazer com que nasçam dois no mesmo folículo.
5 - Ler com pouca luz dá cabo da vista
Quem nunca ouviu essa dos pais que vá agora para a caixa de comentários deixar o seu testemunho. A maioria dos oftalmologistas assegura que não existem provas de que ler com pouca luz danifique a visão. Os efeitos da fadiga ocular são temporários, pelo que é pouco provável que possam provocar danos permanentes.
6 - Tempo frio e húmido provoca constipação
Apesar de 80% das pessoas acreditarem nisso, não está provado que se apanha uma constipação por andar ao frio, apanhar chuva ou sair com o cabelo molhado para a rua. A constipação é causada pelo contacto com as secreções respiratórias de pessoas infetadas e também pela inalação de minúsculas gotas de saliva contaminadas e suspensas no ar quando alguém constipado espirra, tosse ou mesmo fala.
7 - Vitamina C previne gripe e constipação
Esta deve ser o maior de todos os mitos, pois até os profissionais de saúde nela creem. Estudos recentes demonstram que uma dose suplementar diária de vitamina C não produz efeitos relevantes na prevenção das constipações ou na redução da duração ou da gravidade das mesmas.
8 - Comer chocolate provoca borbulhas
Mais uma crença à qual eu subscrevi durante toda a minha vida. Hoje sei que não é o que comemos que potencia o aparecimento da acne, mas sim fatores como a hereditariedade e, até certo ponto, os cuidados de higiene com a pele. Resumindo e concluindo: o que leva ao surgimento das borbulhas é a obstrução dos poros com gordura ou bactérias e não a alimentação.
9 - Não se deve tomar banho depois de comer
Já todos ouvimos que depois de comer é preciso esperar algum tempo antes de se ir ao banho, sob pena de termos uma congestão. De facto esse perigo existe, mas só quando se refere a alguma atividade que requeira esforço, como nadar. Quer isso dizer que um simples banho ou duche com a água a temperaturas amenas não representa um risco acrescido.
10 - Antibióticos reduzem a eficácia da pílula
Do meu próprio médico de família ouvi eu que o antibiótico condiciona a eficácia da pílula. Contudo, não existe na literatura médica nada que comprove que os antibióticos comuns reduzam a eficácia da pílula, a não ser aquele que normalmente se usa contra a tuberculose.
11 - Precisamos beber oito copos de água por dia
Esta recomendação, mais do que batida, corresponde a uma meia verdade, já que não existe na literatura médica qualquer estudo que a sustente. Muita da água que o nosso organismo necessita está nos alimentos e nos outros líquidos que ingerimos. Cada organismo funciona segundo as suas próprias regras, daí que não se pode determinar uma dose exata para todos eles.
12 - Antitranspirantes provocam cancro da mama
Admito que quando tomei conhecimento deste alerta, que viralizou na rede há uns anos, passei a evitar os antitranspirantes. Ignorância e excesso de zelo, já que estudos realizados não encontraram qualquer associação entre o uso destes artigos e o cancro da mama.
13 - Não se deve comer muitos ovos
Não obstante conterem níveis de colesterol mais elevados do que outros alimentos, os ovos são uma das mais importantes fontes de proteínas. Portanto, é falso que não devamos comer mais de dois ou três por semana, pois o aumento do 'mau' colesterol (LDL) depende da alimentação no seu conjunto, do tabaco, do stress e de fatores genéticos.
14 - Café descafeinado não tem cafeínaAo contrário do que se pensa, o descafeinado não é isento de cafeína. Uma chávena pequena de café tem cerca de 150 mg de cafeína, e um descafeinado, dependendo da marca e do lote, ainda pode ter entre 8 e 30 mg.
15 - Comida integral é mais saudável
Mesmo tomando conhecimento de que alguns produtos têm (para potenciar o sabor) mais gorduras trans, não concordo que a comida integral não seja mais saudável. Tem é que ser o rótulo e verificar todos os componentes do alimento. Uma coisa reconheço, o excesso de fibras presentes nos produtos integrais pode diminuir a capacidade de o intestino absorver as vitaminas. Daí que tenhamos que consumi-los com peso e medida.
16 - Não é possível engravidar durante o período
Apesar de pouco provável, não é impossível. Existem casos em que há uma possibilidade maior de a mulher ovular quando o período ainda decorre. Além disso, um espermatozóide pode permanecer durante uma semana no corpo de uma mulher, pelo que, mesmo tendo entrado durante o período, pode ainda sobreviver após o final deste.
Penso que este artigo deixou claro que muitas das crenças em que acreditamos estão longe de estarem comprovadas. A verdade por trás de muitas delas, que tomamos como dados adquiridos, não passam de reproduções amadoras do senso comum por parte de mentes que, em vez de questionarem a realidade das coisas, apenas as assimilam e reproduzem.
Por hoje é tudo que o dia já vai longo. Até à proxima!