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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Ora viva!
Votei pela primeira vez na vida. O que pode parecer coisa pouca para aqueles que escolhem alienar-se do exercício da democracia, é para mim um momento histórico. O ter deixado o país que me viu nascer aos 19 anos e o ter adquirido a nacionalidade portuguesa há bem pouco tempo justificam o facto de só agora, aos 43 anos de idade, ter podido exercer a cidadania na sua forma mais contundente.
Gosto de política, sempre gostei. No secundário fui uma das melhores alunas de todo o liceu nesta disciplina. Considero-a, na sua essência, um dos melhores meios para atingir o fim nobre que é contribuir para o bem-estar coletivo e defender os interesses dos fracos e oprimidos. Não fosse o sistema que a sustenta tão corrupto, e corruptível, é mais do que provável de que nela aventurar me ia, quiçá na gestão autárquica.
Se reluto em registar publicamente as minhas opiniões políticas é porque sinto que estas pouca diferença fariam. Com tantos politiqueiros à solta por aí, o que teria a dizer uma blogger de solteirice que merecesse a pena ser levado a sério? Acredito piamente que cada macaco deve permanecer no seu galho, ou seja, que cada um deve falar com conhecimento de causa e não opinar só para não estar calado. Contudo, volta e meia, sinto necessidade de expressar o que me vai na alma, como é agora o caso.
O dia de ontem foi um drama, como de resto é habitual na minha vida. Crente de que não poderia votar, por não ter feito o recenseamento, contava eu seguir as eleições de camarote, no aconchego do lar. Por volta da hora do almoço, recebo um sms da minha amiga, e vizinha, a perguntar se já tinha ido votar. Lamentando a minha sina, lá expliquei o motivo porque não poderia fazê-lo. Nisto, vejo a passar no rodapé da RTP 3, canal através do qual ia seguindo o desenrolar dos acontecimentos, uma informação sobre como saber onde votar. Mais por curiosidade do que por outra coisa qualquer, enviei um sms para o número indicado, convicta de que, a obter uma reação, esta viria confirmar o que já sabia: o meu nome não constava dos cadernos eleitorais. Qual não foi a minha surpresa quando recebo uma resposta com a indicação do local do voto. Sabia lá eu que, em Portugal, o recenseamento é feito de forma automática...
Como era dia de jejum, sair imeditamente de casa estava fora de questão, sob pena de correr o risco de passar mal, caso tivesse que esperar muito tempo na fila. Assim, só às 18 horas e 25 minutos do dia 24 de janeiro do ano de 2021, após um belo desjejum, foi-me possível expressar o meu primeiro voto, depositado naquele que viria a ser reeleito presidente da República Portuguesa. Não é segredo nenhum que tenho estima pelo professor Marcelo Rebelo de Sousa, com quem privei de perto muito antes da sua chegada a Belém, pelo que não vou estar com rodeios sobre o meu sentido de voto.
Em relação aos resultados destas eleições presidenciais, dois aspetos parecem merecedores de particular atenção, e reflexão: o estado anémico da esquerda, especialmente a ala mais radical, e a escalada galopante da extrema direita, cujo partido sequer completou dois anos de vida. É óbvio que a decadência de um é inversamente proporcional à ascensão de outro.
Identifico-me com a ideologia esquerdista, mas confesso que já não posso ouvir falar da Catarina Martins, menos ainda do Jerónimo de Sousa. Já não há paciência para ouvi-los a dizer mal de tudo e de todos, o tempo todo, numa atitude típica de quem levou calote da vida. Pessoalmente, acredito que é isso que tem contribuído para o seu tombo ladeira abaixo. Já as últimas legislativas tinham dado a entender isso mesmo...
Enquanto cidadã atenta, sinto que, no momento em que o país mais precisou, eles simplesmente tiraram o corpo fora e optaram por assistir à gestão da crise pandémica da bancada. Fizeram questão de não fazer parte da solução, mas sim da oposição, uma oposição que tudo critica e nada edifica. Nestes últimos meses, o PSD foi mais aliado político do governo do que o PCP e o Bloco de Esquerda juntos. Não pensem eles que este tipo de postura não pesa na decisão dos eleitores. Espero que os respetivos líderes partidários saibam tirar as devidas ilações e repensem a sua estratégia política.
Quanto ao partido da extrema direita, cujo nome considero indigno de aqui ser pronunciado, o meio milhão de votos obtido representa um claro sinal de que a onda racista, fascista, xenófoba, homofóbica, misógina e intolerante não é coisa passageira, muito menos fruto de uma visão populista e demagoga. É sério, e como tal deve ser encarado. Outro dado inquietante prende-se com o facto de esta ala extremista reunir muita simpatia nos estratos sociais mais elevados, precisamente onde se concentram as tomadas de decisões.
Moral da estória: entre uma ala e outra, fico-me pelo Iniciativa Liberal, que esse ao menos tem demonstrado cortesia e respeito pelas regras do jogo.
Por hoje é tudo, voltarei na quarta com novidades sobre as duas lives que vou protagonizar esta semana. Aquele abraço amigo!
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