Viva!
É urgente abrandar, desligar então, imperativo! É desta forma, sem meias palavras, que dou o pontapé de saída a esta crónica que intenta escancarar um dos grandes temas da atualidade: o burnout ou stress profissional, para quem não está familiarizado com o termo. Por burnout entende-se o esgotamento físico e mental causado pelo exercício de uma atividade profissional.
Descrito como "uma síndrome resultante de stress crónico no trabalho que não foi gerido com êxito", o burnout tem assumido tamanha proporção que a Organização Mundial da Saúde (OMS), na sua última assembleia-geral, deu luz verde à sua inclusão, a partir de 1 de janeiro de 2022, na lista de doenças reconhecidas pela comunidade científica. Importa referir que na origem desta determinação do organismo máximo em matéria de saúde mundial estiveram conclusões de peritos de todo o mundo.
Intrinsicamente associado ao trabalho, o burnout pode resultar de uma carga horária excessiva, da falta de valorização por parte da chefia ou de um descontentamento generalizado em relação ao próprio trabalho. Outros fatores como excesso de responsabilidades, pouca autonomia para tomar decisões, falta de justiça e conflitos de valor podem igualmente desencadear esta síndrome, que em terras lusas afeta dois terços dos médicos.
Pelo facto de os seus sintomas serem muitas vezes semelhantes aos de outras doenças como a ansiedade e a depressão, o diagnóstico desta síndrome peca por tardio ou até mesmo inexistente. Para que não restem dúvidas, cansaço excessivo (físico e mental), irritabilidade, alterações repentinas de humor, dor de cabeça frequente, alterações no apetite, problemas relacionados ao sono, dificuldades de concentração, depressão e ansiedade, alteração nos batimentos cardíacos, distanciamento da vida pessoal e falta de prazer nas atividades são considerados indícios inequívocos.
Eu mesma venho sofrendo desta condição há já uns meses. Tudo começou no ano passado quando andava a labutar em três frentes profissionais, sem falar no Ainda Solteira, um amante generoso, contudo exigente e possessivo. Em outubro, quando fiquei com a responsabilidade de gerir uma formação para quase duas centenas de pessoas, o stress profissional foi tal que explodiu numa crise aguda de acne, que ainda hoje estou a tentar debelar.
De lá para cá, vi-me forçada a encetar algumas mudanças na minha vida profissional; e não só. Passei a ter apenas um único trabalho e, depois da conquista do Sapo do Ano, vi-me livre daquela pressão em ter que provar o meu valor enquanto escritora/blogger. Fora isso, adotei umas quantas atitudes, simples na sua génese mas evidentes na sua eficácia: não atender telefonemas profissionais fora do horário normal de expediente, não consultar/responder emails fora do escritório, não "cronicar" com tanta frequência, investir em conteúdos audiovisuais que exigem menos emprego dos neurónios (leia-se Instagram), meditar de manhã e à noite e dormir entre 8-9 horas.
Contudo, a maior de todas elas foi, sem dúvida, aceitar que não sou Deus, logo que não faço milagres. Com isso quero dizer que aceito que não consigo dar conta de tudo, por mais que assim o queira. Continuo a dar o meu melhor no sentido de fazer o que me compete, mas sempre consciente de que o tempo, a ação de terceiros, as decisões superiores e o reconhecimento alheio do meu esforço são coisas que me ultrapassam; logo que não posso controlar.
É este o meu segredo para gerir o burnout: consciencializar e aceitar, sem desresponsabilizar, que há coisas que não dependem de mim, por mais que faça nesse sentido. Espero que esta minha partilha ajude, de um modo ou de outro, alguma alma desasossegada que esteja a sofrer deste mal tão revelador de uma cultura laboral ciosa de tantas coisas, mas ainda demasiado negligente no que toca ao bem-estar emocional dos seus trabalhadores.
É neste sentido que, em nome da nossa própria sanidade, é cada vez mais imperativo que aprendamos a abrandar o ritmo e a desligar do trabalho.