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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Viva!
Contigo partilho hoje o relato do regresso a casa da minha última viagem, a qual se revelou um pesadelo de todo o tamanho. Só agora falo publicamente sobre o assunto porque, como pessoa decente que gosto de pensar que sou, dei à empresa em questão um tempo mais do que razoável para resolvermos a questão longe do burburinho da internet. Dado que já se passaram dois meses e dela não obtive nem mesmo um email a acusar a receção da reclamação, já não vejo motivos para zelar pela sua reputação. Pelo contrário, quero é ver o circo pegar fogo, pois o que aconteceu é demasiado grave para que fique por isso mesmo.
De modo a que possas ficar por dentro do sucedido, publico a carta (em inglês, uma vez que sequer consideram contactos que não sejam em língua alemã ou inglesa), que lhes enviei no passado dia 8 de janeiro.
Caros responsáveis da Flixbus,
Venho através desta dar-vos conhecimento de um episódio deveras grave, que pôs em perigo o meu bem-estar físico, emocional e psicológico, quiçá a minha própria vida.
Escrevo da Place des Basques, em Bayonne (França), onde passei a noite ao relento, à espera de um autocarro vosso, com destino a Lisboa, que nunca chegou a aparecer. A noite de ontem foi um pesadelo, a pior de sempre, da qual tão cedo não recuperarei, e à vossa empresa imputo a responsabilidade pelo sucedido que passarei a explicar de seguida.
Na passada quarta-feira, 1 de janeiro, comprei um bilhete de autocarro de regresso a casa, após ter passado a época festiva com familiares em ...., uma vila localizada a cerca de 22 quilómetros de Bayonne. Como poderão comprovar pela imagem em anexo, o local de partida neste indicado é Place des Basques, com embarque previsto à 01:20 do dia 4 de janeiro. O documento informa ainda que o passageiro deveria apresentar-se 15 minutos antes da hora indicada. Ainda não era meia-noite quando cheguei ao local. Por lá fiquei até há pouco (entenda-se 09:00). Na busca por informações, desesperada e banhada em lágrimas, fiquei a saber, pelos residentes locais, que o embarque dos passageiros com destino internacional tem sido ultimamente feito noutro local, o Quai de Lesseps, precisamente o sítio onde desembarquei de um outro bus vosso, no passado dia 21 de dezembro.
Como é que me explicam isso? Como é possível que uma empresa que lida intimamente com a segurança, e a vida, das pessoas permite-se cometer um erro tão grosseiro, tão irresponsável, tão imperdoável? Por não ter para onde ir, nem como deslocar-me (já que tinha lá chegado de transporte público), passei uma noite inteira ao relento, à mercê do frio, do sono, do cansaço, de fome, das necessidades fisiológicas e da sorte. Sim, da sorte, porque uma mulher sozinha na rua, de madrugada, numa cidade que lhe é desconhecida, acompanhada apenas por uma mala de viagem e uma mochila, poderia ter sido atacada, assaltada, estuprada ou até mesmo assassinada.
Volto a questionar: como explicam isso? Como é possível ter acontecido tal situação? Entretanto, porque tenho mesmo que voltar a casa, vi-me obrigada a comprar um novo bilhete (em anexo), desta vez pelo triplo do valor, onde consta (novamente) a informação de que o local de embarque é Place des Basques, quando está mais do que óbvio de que não é. Andam a brincar com a vida, o tempo, o dinheiro, a segurança e a sanidade mental daqueles que, como eu, em vós confiam para lhes levar aonde precisam ir?
Toda esta situação é demasiado comprometedora para que passe incólume. Assim, quero saber que providências pretendem tomar de modo a que eu seja ressarcida pelos danos financeiros, físicos e mentais. No mínimo, exijo o reembolso do valor do segundo bilhete, assim como uma compensação monetária à altura da gravidade do caso.
Conto com o vosso bom senso, a vossa boa vontade e o vosso sentido de responsabilidade para que possamos resolver esta questão - lamentável a todos os níveis - de forma amigável. Caso contrário, recorrerei a todas as instâncias ao meu alcance. Meios e conhecimentos para denunciar este filme de terror não me faltam. Contudo, como profissional de comunicação que sou e pessoa consciente de que erros todos cometemos, dou-vos assim esta oportunidade de resolver a coisa a bem, longe dos holofotes.
Conto com uma resposta vossa para breve.
Sara S.
Como essa resposta nunca chegou, resolvi expor publicamente o caso, bem como formalizar uma queixa junto da entidade que, em Portugal, gere esse tipo de questão: a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes.
Bom fim de semana e vê lá se te manténs longe do Covid.
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