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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Ora viva! 🖖
Apesar de estar a ser difícil arranjar tempo para aqui vir deixar-te aquela palavra amiga, não penses que esqueci de ti. Tanto é que, com apenas 15 minutos de pausa entre uma tarefa e outra, fiz questão de vir aqui trazer-te a minha última crónica para o Balai Cabo Verde, publicada na manhã desta segunda-feira.
Sororidade: o segredo da aliança feminina
No vasto panorama da vida, onde as cores e texturas da sociedade se emaranham, existe um laço especial que muitas vezes passa despercebido, mas que é essencial para o progresso das mulheres num mundo onde as sombras do patriarcado insistem em persistir. Este laço é um compromisso tácito entre mulheres para se apoiarem, colaborarem e caminharem juntas, lado a lado.
Como tal, se me pedissem para escolher uma palavra que melhor descrevesse este ano, não hesitaria em eleger a sororidade. Com algum embaraço, assumo que dela só ouvi falar há coisa de meses, cinco para ser mais precisa. Foi por altura dos preparativos para a segunda edição do Empodera-te!, movimento social em prol do empoderamento feminino por mim criado em janeiro último e pelo qual acabo de ser distinguida, na Assembleia da República, com o Prémio de Mérito Migrante. De lá para cá, adotei-a como filosofia de vida e propósito maior da causa que me move.
Caso não estejas familiarizado com o termo, abro aqui um parêntesis para esclarecer que ele está relacionado com a irmandade, empatia e união das mulheres e que é aquele que na perfeição descreve a solidariedade e a parceria entre elas. Assente na ideia de que devem apoiar, empoderar e ajudar umas às outras, ao invés de competir, criticar ou desmerecer, ele reconhece que as mulheres enfrentam desafios únicos, os quais só serão eficazmente superados quando entre elas reinar a união.
Como tal, a sororidade é uma poderosa ferramenta para a criação de comunidades mais fortes e igualitárias. Por desafiar nocivos estereótipos e normas comportamentais, ela ajuda a construir um mundo onde as mulheres possam prosperar juntas, enfrentando os desafios que a sociedade reiteradamente apresenta. Numa era (ainda) moldada pela desigualdade de género, as mulheres têm enfrentado obstáculos desde que da costela de Adão Deus fez Eva. Essa sociedade patriarcal de que tanto se ouve falar e que o mais recente mega sucesso de Hollywood achou por bem colorir de rosa, muitas vezes as empurra para uma competição insana, injusta e inglória, como se houvesse apenas um lugar no topo para uma delas.
A verdadeira sororidade rejeita tal narrativa, limitada, incapacitante, castradora. Ela celebra o sucesso de cada mulher como uma vitória coletiva. Ela se manifesta na forma como uma discípula de Eva apoia a colega no trabalho, oferece palavras de encorajamento quando a autoestima da sua semelhante vacila e compartilha conhecimento e oportunidades com as restantes, num claro lembrete de que, quando se unem, são capazes de alcançar mais do que poderiam sozinhas.
A rivalidade feminina, tantas vezes alimentada e perpetuada por quem dela só sabe tirar proveito, é um obstáculo que a sororidade tenta superar. Em vez de ver outras mulheres como ameaças, ensina a vê-las como aliadas, lembrando que o sucesso de uma não diminui o potencial de outra. Pelo contrário, quando uma sobe, ela cria degraus para que outras a possam seguir.
Por experiência própria, estou em condições de recomendar a sororidade como uma boleia de luxo para o empoderamento feminino. Ela não só nos nutre a confiança, como nos encoraja a encontrarmos a nossa voz e a reivindicar a nossa vez, ao mesmo tempo que nos inspira a correr atrás dos nossos sonhos e a assumir o comando da nossa vida, imunes ao status quo que o tempo todo nos diz que não seremos capazes. Quando nos apoiamos uma às outras, tornamo-nos mais fortes, mais resilientes e perfeitamente capazes de desafiar as normas dessa tal sociedade patriarcal que o filme Barbie romantizou.
Engane-se quem tiver a ingenuidade de pensar que a sororidade é um caminho fácil. Ela exige que enfrentemos inseguranças e preconceitos entranhados há tanto tempo no nosso ADN social e familiar que chegamos a acreditar que não sabemos ser diferentes. Ela demanda que reconheçamos que cada uma de nós enfrenta lutas únicas e que a colaboração é a chave para as superarmos.
À medida que olhamos para o futuro, a sororidade afigura-se como uma força vital para a equidade de género e igualdade de oportunidades. Ela desafia as estruturas de poder arraigadas, que há demasiado tempo perpetuam a descriminação e a marginalização feminina. Portanto, é minha intenção contribuir para que a sororidade continue a florescer, iluminando os nossos caminhos em direção a uma sociedade mais justa e igualitária. Afinal, estamos a falar da aliança secreta que desafia as sombras do patriarcado, mostrando que a solidariedade entre mulheres é um poderoso catalisador para a mudança.
Que a sororidade esteja contigo. Hoje e sempre. Até breve!
Ora viva! 🖖
Para encerrarmos a semana em grande, convido-te a ler a minha crónica de setembro para o Balai Cabo Verde, publicada há instantes. Boa leitura e um esplendoroso fim de semana.
Quem não é bom ímpar...
Por dias a fio, dei voltas à cabeça tentando decidir qual seria o tema da crónica deste setembro, o mês da rentrée, aquele que nos renova o ânimo para o resto do ano.
Era minha intenção falar sobre o Prémio de Mérito Migrante com o qual acabo de ser distinguida na Assembleia da República portuguesa, pelo meu desempenho em prol do empoderamento feminino. Temendo cometer o pecado da bazófia, achei mais altruísta dissecar o poder da dificuldade, título de um livro sobre empreendedorismo feminino, cujo prefácio assinei e em cuja cerimónia de lançamento estou diretamente envolvida.
Nova mudança de ideias levou-me a cogitar a hipótese de escrever sobre a diáspora cabo-verdiana, cujo movimento associativo promoveu, na semana passada, um grande encontro em Lisboa, com o qual tive a oportunidade de colaborar. Por não ser a minha área de atuação, ou seja, para não correr o risco de dar bitaites sem real conhecimento de causa, optei por alterar o rumo dos pensamentos.
A essa altura do brainstorming ocorreu-me anunciar a chegada do Empodera-te! a Cabo Verde, mais concretamente à Praia, minha cidade-natal. Por ainda não querer levantar (publicamente) o véu sobre um evento que irá inspirar, impactar e capacitar as mulheres da minha ilha, acabei por decidir-me por um tema neutro e no qual estou perfeitamente à vontade; até porque já faz alguns meses que não escrevo sobre relacionamentos. Assim, intenta esta crónica esclarecer porque motivo aquele que não é bom ímpar jamais poderá ser bom par, isto é, porque quem não sabe ser feliz solteiro jamais poderá ser feliz emparelhado.
Toda vez que ouço dizer que se quer encontrar alguém para ser feliz sou imediatamente acometida de uma aguda crise de urticária emocional. Tal crença é pura falácia, (convenientemente) alimentada, primeiro, pela literatura e, depois, pelo cinema, duas indústrias que descaradamente lucram bilhões à custa de ingénuos que acreditam piamente que alguém vai irromper pelas suas vidas com a missão de os fazer conhecer a (real) felicidade.
O amor, esse sentimento que inspira poetas e escritores desde os primórdios da civilização moderna, e que tantas vezes nos faz embarcar numa obsessiva odisseia em busca da alma gémea - a tal metade que é suposto completar-nos - pode ser uma dor sem tamanho para aqueles que são incapazes de compreender um detalhe crucial: para ser um bom par é fundamental ser um bom ímpar primeiro.
Imagina um baile, onde todos os casais dançam harmoniosamente, em que cada pessoa encaixa-se perfeitamente no ritmo da música com o seu par perfeito. No entanto, nesse salão, também estão aqueles que não aprenderam a dançar sozinhos, que não se sentem completos por si mesmos. São como números pares, esperando desesperadamente encontrar o seu correspondente.
O relacionamento amoroso é como essa dança. Antes de se unir a alguém, é necessário que o dançarino aprenda a dançar consigo mesmo. O amor-próprio e a autoestima são os passos iniciais dessa coreografia. Quando nos amamos a nós mesmos, tornamo-nos um número ímpar, independente e completo, capaz de dançar a dança da vida com graciosidade, mesmo sem um par.
Amar a si mesmo não significa ser egoísta ou narcisista. Significa reconhecer o próprio valor, cuidar de si mesmo e desenvolver uma relação saudável com o próprio eu. Tornar-se a sua melhor versão possível, nutrir a própria felicidade e bem-estar é um compromisso que cada um de nós deve assumir desde a mais tenra idade.
Somente quando somos ímpares confiantes podemos nos tornar pares que se complementam. Como tal, um relacionamento saudável requer duas pessoas ímpares, completas por si sós, unidas para criar algo ainda mais bonito. Em vez de depender um do outro para preencher vazios emocionais, eles compartilham as suas vidas, sonhos e alegrias.
Lamentavelmente, demasiadas vezes até, vemos relacionamentos onde um ou ambos os parceiros são números pares desesperados, buscando incessantemente validação, amor e felicidade no outro, esquecendo-se de que essas coisas devem primeiro vir de dentro. Relacionamentos assim frequentemente se tornam tóxicos e insatisfatórios, porque ninguém pode preencher permanentemente o vazio emocional de outra pessoa.
Como posso aprender a amar a mim mesmo antes de amar o outro, deves estar a perguntar-te. Começando por te conhecer profundamente. Explora os teus interesses, paixões e valores. Cuida da tua saúde física, mental, emocional e espiritual. Cultiva relacionamentos saudáveis com amigos e familiares. Define metas e trabalha para alcançá-las. E, acima de tudo, pratica a gratidão e a autocompaixão.
Lembrar que "quem não é bom ímpar jamais será bom par" é uma lição valiosa, já que quando somos bons ímpares, quando aprendemos a amar e respeitar a nós mesmos, estamos em muito melhor posição para construir relacionamentos amorosos saudáveis e duradouros. Lembra-te que a verdadeira felicidade está em encontrar alguém que partilha os mesmos valores e te completa, em vez de alguém que preenche as tuas necessidades.
Portanto, antes de saíres à procura do amor, dedica um tempo para te tornares um ímpar confiante. Dança contigo mesmo na pista da vida, aproveita cada passo e, quando encontrares alguém com quem desejas encetar uma dança a dois, a probabilidade de criarem uma coreografia que encantará todos que tiverem o privilégio de assistir à vossa performance é infinitamente maior. Jamais te esqueças que o verdadeiro amor começa em ti e floresce quando dois números ímpares se encontram numa harmoniosa dança de conexão e afeição.
Aquele abraço amigo e até à próxima!
Ora viva! 👋
A mulher cabo-verdiana celebra hoje o seu dia. Sim, nós as criolas somos tão especiais que temos um dia inteiramente dedicado a nós. Na verdade, festejamos a nossa condição três vezes ao ano: no dia 8 de março (Dia Internacional da Mulher), no dia 27 de março (Dia da Mulher Cabo-verdiana) e no dia 31 de julho (Dia da Mulher Africana). É meu bem, ser mulher, africana e... cabo-verdiana não é para todas. 😉
Em mais uma de muitas que vou fazendo, a crónica de hoje visa render homenagem às mulheres, independentemente do continente ou país onde tenham nascido, ainda que com uma ênfase propositada na mulher da minha terra, aquela que mais me inspira e pela qual tenho admiração e adoração infinitas.
Publicado há instantes no Balai Cabo Verde, portal para o qual colaboro como cronista, a (incrível) arte de ser MULHER é na verdade o meu contributo para o terceiro volume da antologia Mulheres e Seus Destinos, cujo lançamento deu-se no passado dia 8 de março, na Praia, minha cidade-natal.
a (incrível) arte de ser MULHER
Bebé. Criança. Menina. Moça. Jovem. Adulta. Idosa. Anciã.
Namorada. Noiva. Esposa. Amante.
Solteira. Casada. Amancebada. Divorciada. Viúva.
Filha. Mãe. Avó. Irmã. Tia. Sobrinha. Enteada. Neta. Nora. Sogra. Cunhada. Madrinha. Afilhada. Prima. Vizinha. Cumbossa.
Amiga. Colega. Companheira. Parceira. Aliada. Adversária. Rival.
Contente. Triste. Feliz. Desgostosa. Amada. Amargurada. Desejada. Rejeitada.
Madura. Infantil. Realizada. Frustrada. Confiante. Insegura.
Bazofa. Desleixada. Primorosa. Caprichosa. Afável. Arrogante.
Mansa. Braba. Humilde. Altiva. Convencida. Modesta. Descarada. Tímida.
Airosa. Desajeitada. Poderosa. Frágil. Subversiva. Encolhida. Orgulhosa. Despretensiosa.
Ativa. Sedentária. Trabalhadora. Preguiçosa. Empoderada. Incapacitada.
Segura. Acuada. Livre. Cativa. Emancipada. Oprimida.
Culta. Ignorante. Letrada. Analfabeta. Refinada. Impolida.
Sensível. Impiedosa. Permissiva. Castradora. Caridosa. Maldosa.
Sorridente. Chorosa. Otimista. Deprimida. Maravilhada. Desapontada.
Justiceira. Vingativa. Corajosa. Amedrontada. Heroína. Vilã. Guerreira. Pacificadora.
Moderna. Conservadora. Curiosa. Alienada.
Gentil. Hostil. Agressiva. Passiva. Doce. Amarga. Amável. Rude.
Preferida. Preterida. Prestigiada. Desrespeitada. Usada. Abusada. Estimada. Desapontada.
Ajuizada. Insensata. Sabida. Ingénua. Oportuna. Inconveniente.
Imprudente. Precavida. Teimosa. Dócil.
Abundante. Desvalida. Esfusiante. Contida. Abençoada. Amaldiçoada.
Íntegra. Desonesta. Sortuda. Azarada. Sorridente. Carrancuda.
Nobre. Plebeia. Distinta. Vulgar. Arretada. Cabisbaixa.
Vencedora. Sofredora. Afetuosa. Severa. Calorosa. Fria. Íntima. Distante.
Resistente. Débil. Mandona. Submissa. Amorosa. Odiosa.
Pura. Impoluta. Casta. Libertina. Íntegra. Devassa. Digna. Desonrada.
Virtuosa. Promíscua. Santa. Pecadora. Divina. Diabólica.
Negra. Branca. Amarela. Vermelha.
Africana. Europeia. Asiática. Americana. Latina. Indígena.
Grande. Pequena. Alta. Baixa. Magra. Gorda. Bonita. Feia. Rica. Pobre. Cosmopolita. Rural.
Princesa. Rainha. Presidenta. Ministra. Governadora. Gestora. Empreendedora. Subordinada. Serviçal. Doméstica.
Educadora. Educanda. Professora. Aluna. Mestra. Aprendiz.
Deusa. Mortal. Humana. Mulher!!!
A MULHER é o que ela quiser!
Uma vez MULHER, para sempre MULHER!
Por hoje é tudo. Regressarei amanhã com mais um episódio do podcast Ainda Solteiros, focado no meu plano 'Emagrece comendo de tudo, mas fazendo escolhas inteligentes'. Até lá, beijo em ti💋 e votos de uma semana esplendorosa.
Ora viva! 👋
A semana do amor, a de São Valentim, já está praticamente no fim. Contudo, ainda nos sobram motivos mais do que suficientes para prolongarmos o seu espírito, já que a sua estada no ar depende tão somente da nossa vontade em invocá-lo.
Como só o amor importa, a ti dedico este post, a minha mais recente crónica para o portal Balai Cabo Verde, publicada esta terça-feira, 14 de fevereiro, na expectativa de que te deixes inspirar pela sua magia.
Só o amor importa
Na semana mais amorosa do ano, convido-te a embarcar comigo numa crónica dedicada ao amor, naquela que será uma viagem com destino à felicidade, com escala no coração e desembarque no terminal 14, do aeroporto São Valentim, em Fevereiro.
Tanto se diz, escreve, disserta, especula e fantasia sobre o mais sublime dos sentimentos, aquele em nome do qual nascemos e pelo qual passamos o resto da vida a batalhar. Ainda assim, dificilmente saberemos tudo sobre ele, isto porque a sua intangibilidade o torna um tópico infinito na sua própria essência. Amar e ser amado é o propósito maior da existência humana, a razão pela qual nos é concedida a vida e pela qual devemos ser eternamente gratos.
Amar é, portanto, inerente à nossa própria condição, algo tão natural como qualquer outra necessidade fisiológica primária. No seu âmago, conceber a vida é o mais puro ato de amor, em que os laços que unem o criador e a criatura são indissociáveis, insolúveis, insubstituíveis. Basta presenciarmos um parto para termos a confirmação que precisamos para estar em paz com esta realidade.
Ora, se o amor é vida e a vida é amor, porque não amamos mais, porque não damos mais amor, porque não recebemos mais amor, porque não fazemos mais pelo amor, porque não vivemos mais em amor? Se o amor é assim tão natural, porque renegamos essa natureza, relegando-o a um plano menor da existência? Porque demonstramos cada vez mais dificuldade - resistência mesmo - em amar, em reconhecer que é a única forma de estar que dá sentido à vida? Porque não assumimos de uma vez por todas que só o amor importa?
No outro dia, a propósito do conflito armado que há quase um ano assola o leste europeu, Pedro Chagas Freitas, um autor que adoro, escreveu o seguinte: "Só faz guerra quem não sabe fazer amor!" De facto, onde ausenta o amor, impera a maldade, o ódio, o rancor, a intriga, a discórdia, a violência, a dor e a bestialidade, no fundo, a inumanidade.
Admita-se ou não, e acredita que há muita gente que faz questão de se opor a tal constatação, todos precisamos de amor. Todos precisamos sentir que somos merecedores de afeto, admiração, cuidado e respeito. Que necessitamos que nos queiram e desejem bem, que nos deem atenção, que cuidem de nós, que se importem connosco, ou seja, que nos amem.
O amor é mágico. Só ele, e tão somente ele, é capaz de curar, perdoar, proteger, incentivar, superar, acrescentar, enaltecer, extasiar, abençoar, dignificar. Por isso, não há que temê-lo, desmerecê-lo, renegá-lo ou dar-lhe as costas. Há que senti-lo, aceita-lo, aproxima-lo, abraça-lo, vivencia-lo, partilha-lo.
Desejo de todo o coração que te inspires na energia do São Valentim e te deixes contagiar pela magia do amor. Que te disponibilizes para amar. Que descubras forma de seres e dares amor. Que encontres coragem para abrires o coração ao amor. Que arranjes meio de trazeres (mais) amor para a tua vida. Acredita em mim, se o fizeres, o final feliz que tanto tens procurado chegará bem mais depressa do que imaginas.
Que o amor esteja contigo e que tu estejas com o amor. Feliz Dia dos Namorados!
Bem sei que o Dia dos Namorados 💌 já lá vai, mas vamos sempre a tempo de enviar energia positiva para aqueles que estimamos, como é o caso. Bom fim de semana e até para a semana!
Ora viva! ✌️
De modo a encerrarmos a semana cheias de power, convido-te a reavivar a magia do Empodera-te, através da minha crónica mensal para o portal Balai Cabo Verde, publicada na manhã desta fria e ensolarada sexta-feira.
Em nome do empoderamento feminino
Em nome do empoderamento feminino, nasceu o Empodera-te!, iniciativa que começou como um evento e que agora se assume como um movimento.
Em nome do empoderamento feminino, reuniu o Empodera-te!, no primeiro sábado deste janeiro de 2023, 110 pessoas, no CCCV – Centro Cultural de Cabo Verde, em Lisboa.
Em nome do empoderamento feminino, nesse dia, as profissionais Maria João Liso, Tercia Lima, Liliana Brazuna, Evódia Graça, Emilly Oliveira, Raquel Godinho, Georgina Angélica e Sara Sarowsky uniram-se num djunta mo inédito.
Em nome do empoderamento feminino, nessa tarde, uma centena de mulheres e uma dezena de homens acudiram ao chamamento de uma causa que é de todos e de cada um de nós.
Em nome do empoderamento feminino, temas palpitantes da atualidade – atividade física, sedentarismo, movimento corporal, liderança feminina, gestão emocional, autoconhecimento, desenvolvimento pessoal, felicidade, amor e inteligência emocional - foram trazidos à baila, com o único propósito de despertar o gosto pelo poder pessoal, em quatro áreas distintas: corpo, mente, espírito e coração.
Em nome do empoderamento feminino, naquele dia fez-se história, despertou-se consciências, ativou-se energias físicas, mentais, espirituais e emocionais, fez-se magia.
Em nome do empoderamento feminino, um programa de rádio vai estrear em breve, ambicionando, precisamente, a partilha de informações, estratégias, ferramentas e dicas sobre um dos temas mais em voga nas sociedades atuais.
Em nome do empoderamento feminino, uma comunidade mais desperta, consciente, empoderada, no fundo, começa a estruturar-se em Lisboa.
Em nome do empoderamento feminino, o Dino D’Santiago, através da sua iniciativa Batuku Roots, reforça o seu comprometimento com a causa.
Em nome do empoderamento feminino, mulheres de várias nacionalidades, origens e paragens assumem publicamente o compromisso de se ajudarem umas às outras rumo a uma vida mais feliz e realizada.
Em nome do empoderamento feminino, uma sólida rede de networking estabelece-se com o único propósito de estender as mãos umas às outras.
Em nome do empoderamento feminino, pessoas se inspiram, parcerias se formam, amizades se constroem, iniciativas se desdobram, posições se tomam, ativistas se assumem.
Em nome do empoderamento feminino, apoia o Empodera-te! a candidatura do batuco a património imaterial da humanidade. Esta forma de manifestação cultural típica da maior ilha do arquipélago de Cabo Verde, Santiago, é sobejamente reconhecida como aquela que melhor espelha a questão do empoderamento da mulher cabo-verdiana. Afinal, nem a proibição, menos ainda a censura, conseguiram calar a voz das criolas, as quais, com recurso a um finaçon único, choravam as suas mágoas, desabafavam as suas amarguras, choravam as suas separações, acalentavam as suas expectativas, confortavam as suas emoções, aplacavam a sua dor.
Em nome do empoderamento feminino, eu, Sara Sarowsky, reforço o meu compromisso, enquanto desencardidora de mentes, ativista pela causa feminina e cidadã consciente, que ambiciona - e para tal luta - uma sociedade mais consciente, mais justa, mais igualitária, mais participativa, mais empoderada.
Em nome do empoderamento feminino, desafio a todas e a todos a abraçarem esta causa e a contribuírem para a afirmação saudável e sustentável das mulheres das nossas vidas.
Em nome do empoderamento feminino, convido-te a juntares a tua voz e a tua ação a este movimento.
Em nome do empoderamento feminino, levantemos os braço direito e digamos a uma só voz: nu sta djuntu!
Estamos juntas! Bom fim de semana e até segunda!
Ora viva! 👋
Neste que será o último conteúdo do ano, apresento-te a nova crónica para o portal de notícias do meu país-natal, Balai Cabo Verde, na qual faço uma reflexão sobre o poder da atenção, ao mesmo tempo que lanço o desafio para, ao invés de prendas materiais, oferecermos sentimentos.
Aposto que vais gostar, já que acredito que, tal como eu, a sensibilidade seja a tua melhor conselheira. Boa leitura, Festas Felizes e até para o ano.
A festa maior da civilização moderna está mesmo à porta e variados são os desejos que queremos ver a atravessarem essa porta: reencontros, prendas, tradições, refeições, reuniões, convívios, abraços, partilhas, férias, viagens... no fundo, momentos prazerosos, capazes de renovar em nós a crença de que o amor, a comunhão e a solidariedade são tudo quanto precisamos para sermos e fazermos os outros felizes. Inebriada pela magia da época, dedico esta crónica a todos aqueles que estão dispostos a abrir o coração ao espírito de Natal.
Superada uma pandemia repentina, agressiva, restritiva e condenatória para milhares de vidas, 2022 prometia ser mais condescendente que os seus antecessores. Infelizmente, vimos goradas as nossas expectativas. Um conflito armado - inesperado, desnecessário e arbitrário - trocou-nos as voltas e restituiu às nossas mentes e aos nossos corações sentimentos que julgávamos ultrapassados: medo, incerteza, insegurança, desesperança.
Meses turbulentos (re)vivemos nós ao longo deste ano, quando tudo o que desejávamos era reconquistar a vida de outrora. Este Natal, o primeiro dos últimos dois anos em que não nos é imposto qualquer tipo de restrições, acaba por ter um sabor agridoce. Se, por um lado, recuperamos a liberdade para fazermos o que nos apetecer, irmos aonde quisermos, estarmos com quem desejarmos, por outro, vimo-nos privados da nossa liberdade financeira.
Com a inflação a colecionar recordes e as famílias a perderem poder de compra, esta época festiva está longe de ser aquela com a qual andámos a sonhar desde 2019. Em tempos de vacas magras, raquíticas para muitos, que engordem a criatividade e a solidariedade. Na impossibilidade - ou dificuldade - de podermos desfrutar da abundância e da fartura na sua plenitude, ou seja, de oferecermos prendas dispendiosas, desfrutarmos de uma mesa abastada ou irmos para perto daqueles que estão longe, ofereçamos o mais valioso de todos os presentes, aquele que nada custará e que toda a diferença fará na vida de quem o receber: atenção.
Sabias que, segundo o estudo global da Gallup de 2022, uma em cada cinco pessoas sente que não tem com quem contar; que, de acordo com o The Prince's Trust, 35% dos jovens britânicos entre os 16 e os 25 anos se sentem mais sozinhos que nunca; que o Reino Unido, tal como o Japão, criou um Ministério da Solidão para dar uma resposta concertada ao problema; e que Portugal é o 6º país europeu onde a solidão mais tem aumentado?
O parágrafo anterior é um inequívoco indício de que as pessoas nunca precisaram tanto de atenção, e que dá-la ao outro é de uma generosidade e humanidade ímpar. Oferecer é um ato de amor e o Natal mais não é do que uma festa de amor, em que cada um dá o que tem, pode ou está disposto. "Quem dá o que tem a mais não é obrigado", diz o ditado. Digo eu que "Quem dá o melhor que tem, a mais é obrigado a receber".
Quando damos o melhor de nós, pomo-nos a jeito para receber o melhor dos outros; como tal, quando dás a tua atenção, estás o oferecer o melhor de ti e a despertar o melhor no outro. Numa sociedade em que mal conseguimos ter tempo para nós mesmos, arranjar tempo para dar atenção ao outro é algo incalculável, inestimável, inolvidável.
Que não restem dúvidas de que o que realmente importa, não apenas no Natal, mas na vida, é a atenção, a intenção, a afeição, a presença. Por disso estar absolutamente convicta, desafio-te a, neste Natal, oferecer atenção, a tua atenção. A, neste Natal, oferecer intenção, a tua intenção. A, neste Natal, oferecer afeição, a tua afeição. A, neste Natal, oferecer presença, a tua presença.
Neste Natal, oferece-te! Que o (verdadeiro) espírito de Natal se faça presente na tua vida e que tu te faças presente, não somente de corpo, mas sobretudo de coração, na vida daqueles que importam. Será com toda a certeza a prenda mais valiosa que podes oferecer. Feliz Natal!
Ora viva! ✌️
Eis-me de volta, desta vez com a novel crónica para o Balai Cabo Verde, publicada há instantes. Boa leitura e, já agora, boa semana.
Preterida ou Preferida: eis a questão
Raras, para não dizer nenhumas, foram as vezes em que me senti preferida e não preterida. Não fui a filha preferida do meu pai (já falecido), não sou a filha preferida da minha mãe, tampouco sou a irmã preferida dos meus irmãos (e olha que tenho uns quantos, meia dúzia para ser mais precisa).
Enquanto catraia, em momento algum tive a noção de ser a preferida de um rapaz. Abro aqui um parêntesis para reconhecer que, além dos modestos atributos físicos que me caracterizavam na altura, esta minha personalidade reguila pouco ou nada ajudava. Devo ter sido das poucas raparigas que nunca tiveram um namoradinho de infância, nem mesmo nos tempos do liceu, já adolescente.
Os gaiatos pelos quais me interessava preferiam sempre as minhas amigas, na verdade, preferiam qualquer uma que não eu. Lembro-me de um deles dizer, em tom de brincadeira, que era um insulto pessoal dizer a um rapaz que a Sara estava interessada nele.
Cresci, portanto, com um enorme complexo de feiura, rejeição, inferioridade e desmerecimento. Já adulta, a minha versão pessoal da saga O Patinho Feio conheceu inúmeras temporadas, com um rol de pessoas próximas a serem preferidas, enquanto eu era preterida over and over and over again. Mesmo nos tempos académicos, eu era aquela que nunca era escolhida para integrar os grupos de trabalho. Até provar que era capaz de tirar boas notas, só era incluída mediante imposição expressa dos docentes.
O trauma atingiu tal proporção que cheguei ao ponto de recusar sair para a night na companhia de amigas mais vistosas do que eu. Houve uma em particular, a Natalie, que pela sua beleza estonteante acabava, ainda que sem intenção, por semanalmente me fazer reviver o pesadelo. De todas as vezes em que saímos juntas, o sentimento predominante era o mesmo de sempre: o patinho feio continuava a habitar em mim.
A baixa autoestima acompanhou-me praticamente a vida toda, precisamente por ter sido sempre preterida, a começar pela minha própria família, que nunca fez questão de me fazer sentir que pertencia àquele agregado, a começar pelo facto de o meu tom de pele ser diferente. Acredites ou não, na minha infância fui marginalizada, ostracizada até, por ser a mais "branquinha" do clã. Ouvi de tudo um pouco, "branca mo papaia azedo", "é filha do mesmo pai e da mesma mãe?", "de certeza que não foi trocada na maternidade?", "não se parece nada com os irmãos", "é tão deslavada", "coitadinha, não tem nada a ver com os outros" e por aí fora...
Não possuo uma única memória de ter sido a preferida de qualquer um dos meus familiares, pelo contrário. Até vir para Portugal estudar, a poucos dias de completar 20 anos de idade, nunca soube o que era ter a minha própria festa de aniversário. Se bem me lembro, e essas coisas jamais se esquecem, fui a única lá em casa que nunca teve direito a uma festa de anos, sequer um simbólico soprar de velas no dia de anos.
À custa disso, e de incontáveis sucedidos, cresci acreditando que ser preterida era o meu destino, era o que eu merecia. Hoje, a caminhar para os 45 anos de vida, detenho autoconhecimento, autoestima e autorrespeito suficientes para reconhecer que tal crença é falaciosa, limitadora, castradora. Hoje tenho maturidade de sobra para acreditar que o patinho feio sempre foi um cisne lindo.
Hoje ganhei consciência do meu valor, conheço a mim própria o suficiente para saber que cada um é como é e que eu sou única, especial, perfeita na minha imperfeição. Hoje sei que sentir-me preferida pouco tem a ver com os outros, mas antes comigo. Hoje sei que cabe a mim deter o poder de me preferir e não delegar essa responsabilidade a terceiros. Hoje sei que tudo aquilo que experienciei ao longo da vida só me tornou mais forte, mais resistente, mais preparada para ser aquilo que eu sou, para ser aquilo que eu quiser ser. Hoje tenho plena consciência de que sou aquela que eu mais prefiro no mundo.
Para além disso, hoje tenho ao meu redor pessoas incríveis que, todos os dias, me preferem. Que preferem estar comigo, que preferem falar comigo, que preferem celebrar comigo, que preferem chorar comigo, que preferem fazer parte da minha vida. Preferem tanto que muitas vezes não consigo dar vazão às suas solicitações. Esta crónica é, pois, um tributo a cada uma delas, uma forma de manifestar publica e inequivocamente o quão grata sou por ser a sua preferida e não a sua preterida.
Aquele abraço amigo e até à próxima!
Ora viva! 🫶
Que fim de semana, caramba! A Feira Anternativa de que te falei no último post foi uma experiência avassaladora, a vários níveis. Ainda estou a processar as vivências que por lá senti e testemunhei. Sobre isso falarei noutra oportunidade, que ainda estou fisica e espiritualmente estafada. A sessão com o Braco foi algo indescretível, adianto já.
De volta à rotina semanal, hoje trago a última crónica para o Balai Cabo Verde, publicada na passada sexta-feira. Quando nascem novos sonhos é assim o complemento da crónica anterior, Quando morrem os sonhos, publicada a 18 de agosto e partilhada contigo há uma semana.
Quando nascem novos sonhos
Seis semanas depois da sua chegada nessa terra longínqua, aninhada entre o oceano e a montanha, pegou ela em toda a sua bagagem e regressou à casa de partida, a cidade das sete colinas, aquela na qual um dia pensou fincar raízes por tempo indeterminado. O coração desta vez vinha vazio, frio, estéril.
Investira praticamente tudo nesses sonhos, ao ponto de já não possuir mais nenhum. Não fazia a menor ideia de onde poderia ir buscar outros. Quis o destino que as coisas não lhe corressem como planeado, reconheceu com a alma em chamas e o coração em pedaços. Sapiência e humildade tinha ela de sobra para saber que o momento da tal mudança pela qual tanto ansiara ainda não tinha chegado.
Era preciso aquietar o espírito, apaziguar o coração, aguardar que o tempo revelasse novos caminhos, que conduzissem a novos sonhos. Disposta a tal estava ela, já que, contra os desígnios do destino, mortal algum poderia atentar, muito menos contestar. Crente estava ela de que tudo acontece por um motivo, e mesmo que aquele que lhe dizia respeito não fosse de momento claro, queria acreditar que algo ou alguém detinha as respostas que tanto procurava.
"O que se faz quando morrem os sonhos", não se cansava de perguntar, a si e às entidades superiores. "O primeiro passo é fazer o luto", sussurrou-lhe a voz da razão, serena na sua sabedoria, paciente na sua fiabilidade. "E depois", questionou ela. "Depois é deixar que o tempo, o mais sábio de todos os mestres, se encarregue de por tudo no seu devido lugar, de dar a cada sonho a sorte que lhe cabe."
"Enquanto isso, como continuarei a viver se já não tenho os meus sonhos comigo", lamuriou-se. "Os sonhos não morrem jamais, eles transformam-se, reinventam-se, reajustam-se. Como a Fénix, eles possuem a magia de renascer das cinzas, ainda mais belos e fortalecidos. Mas para isso tens que dar tempo ao tempo, tempo para o tempo fazer o seu trabalho. Sem pressa nem pressão, apenas com amor e gratidão".
"Como assim com amor e gratidão", questionou ela. "Amor porque é profícuo e gratidão porque é benéfico. Se calhar a causa da morte dos teus sonhos foi insuficiência de amor, amor para acreditar que pudessem realizar-se. E de gratidão também. Provavelmente esqueceste de ser grata por deteres o poder de sonhar", esclareceu a sua voz interior.
"Para que nasçam novos sonhos é preciso que os antigos moram. Esses sonhos que agora pereceram vão abrir espaço para outros, ainda maiores e melhores. Acredita no poder dos teus sonhos, que o universo também acreditará, e a concretização deles será uma mera questão de tempo e de oportunidade", rematou a voz sábia da lua, que do alto do céu assistia ao seu diálogo interno.
Apegara-se tanto àqueles sonhos - afinal por muito tempo os cultivara, alimentara, estimara - que agora temia já não saber viver sem eles. "Desapego, é preciso praticar o desapego", recordou-se das palavras da sua terapeuta espiritual. "Para que algo novo entre na nossa vida é preciso que o velho saia", sussurraram por sua vez as estrelas.
"Sou jovem, saudável, capacitada, instruída, tenho tempo de sobra para criar novos sonhos, para voltar a olhar para a vida como a maior de todas as aventuras, aquela que vale sempre a pena", disse a si mesma. Nesse instante, um sorriso aflorou-lhe aos lábios e um brilho intenso acendeu-lhe os olhos. Novos sonhos estavam a caminho, pressentia. Perante essa convicção, deu as costas ao passado e concentrou-se no futuro, esse sim cheio de promessas.
Dia feliz e uma ótima semana!
Ora viva! 🫶
Uma mão cheia de semanas depois, eis-me de volta ao teu convívio, repleta de novidades, crónicas, planos e sonhos. E é precisamente sobre estes últimos que versa a minha última crónica para o portal Balai Cabo Verde, publicada a 18 de agosto, e que vou agora partilhar contigo.
Quando morrem os sonhos
Há muito que ambicionava dar um outro rumo à sua vida. A súbita morte do progenitor e, posteriormente, a inesperada pandemia da covid despoletaram nela a certeza de que desejava – na verdade, precisava - abraçar uma nova vida. Sabendo que o primeiro passo para a mudança prendia-se com o não mais querer estar onde estava, tornara-se evidente que a mudança era incontornável, imprescindível, inadiável.
Num belo e quente dia de verão, partiu à aventura, atrás do recomeço pelo qual há tanto ansiava. Consigo levou duas malas, uma grande e outra mais pequena, uma mochila, um saco e um coração a abarrotar de sonhos. Nesse coração cabiam sonhos de todo o tipo: novo país, novo idioma, nova casa, novo trabalho, novos amigos, novas relações, novos amores, nova dinâmica, no fundo nova existência.
Dias após dia, semana após semana, os seus sonhos foram-se vergando à dureza da realidade, rendendo-se à força do infortúnio. Nenhum deles, nem o mais insignificante de todos, se concretizou. Pelo contrário, a ausência de sorte era de tal modo constante que os mal-sucedidos acumulavam-se a uma frequência praticamente diária. Ainda antes da partida, o universo emitira sinais, vários até. Em nome de uma vontade irrefreável, não lhe deu ouvidos, com ele teimou, a ele ousou desafiar. Precisava fazê-lo, caso contrário arrepender se ia para o resto da vida.
O que não cogitou, ainda que intimamente o intuísse, era que a última palavra não seria a sua, jamais seria. Por muito que sonhemos, almejemos, planeemos ou façamos, a concretização do que quer que seja só acontece no espaço e no tempo entendido pelo destino, ou universo como preferia chamar às forças superiores que comandam as ações humanas e determinam a sua experiência terrena. De pouco ou nada adianta insistir em algo (ainda) não validado por ele, até porque o tempo divino e o tempo humano raramente coincidem; o primeiro é infinitamente mais sábio do que o segundo, bem mais ansioso e impaciente.
Em terra estrangeira, numa geografia aninhada entre o oceano e a montanha, encontrou consolo nas tardes passadas na praia, numa comunhão íntima e recíproca com a natureza, a qual testemunhava com apreensão o seu desassossego, com pesar a sua agonia. Assistir ao sucumbir dos sonhos alheios, sem que os envolvidos nada possam fazer para impedir tal desfecho, é algo a que a mãe de todas as criaturas dificilmente consegue manter-se insensível.
Com o sol, a praia, as dunas e o oceano partilhou ela os seus mais íntimos ensejos, anseios e frustrações. Com a lua chorou a morte desses sonhos, os quais iam perecendo à vez, à mercê de cada frustração, cada insucesso, cada contrariedade. O mar lambeu-lhe as feridas, a brisa secou-lhe as lágrimas, o sol aqueceu-lhe a alma, a natureza curou-lhe as mágoas, o tempo aliviou-lhe o sofrimento.
Despida de expectativas, despojada de ilusões e carente de sonhos - sonhos esses que a levaram a desafiar tudo e todos, a fizeram almejar vencer a maldição que pendia sobre si, fintar o azar e triunfar sozinha num país povoado de estranhos - retomou à procedência, de coração partido e alma fragmentada, sem a mais pálida ideia sobre que rumo haveria de dar à sua existência dali em diante. Sem outra opção que não fosse render-se às evidências, um passo atrás viu-se obrigada a dar, regressando à casa de partida, tal qual jogo de monopólio. Sim, muitas vezes é preciso dar um passo atrás, recuar, para poder avançar com mais vigor, mais sagacidade, mais sabedoria.
Continua...
Bem-vinda de volta ao blog. Regressarei na quarta, com mais uma crónica. Até lá, deixo-te com aquele abraço amigo só nosso!
Ora viva! 🫶
Hoje trago a minha última crónica para o Balai Cabo Verde, acabadinha de estrear na rede. Boa leitura e um ótimo dia.
Dedico esta crónica a todos aqueles que têm dificuldade em sentir, expressar ou acreditar no amor. E quando falo em amor refiro-me a todo o tipo de amor, ainda que o romântico possa, por motivos mais do que óbvios, assumir o protagonismo.
De origem latina, a palavra "amor" refere-se essencialmente a todo e qualquer sentimento de afeição, paixão ou grande desejo. Considera o dicionário da língua portuguesa que ela pode ser definida como "um sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração", "grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa" ou "ligação afetiva com outrem, incluindo geralmente também uma ligação de cariz sexual".
As definições acima citadas tornam evidente que existem várias formas de amar, ainda que a palavra capaz de as expressar na perfeição seja apenas uma: "amor". Os gregos, sábios desde os primórdios da civilização moderna, criaram oito palavras para descrever os diferentes tipos de amor que, ao longo da vida, vamos experenciando. São elas: Eros (amor apaixonado), Pragma (amor prático), Ludus (amor lúdico), Ágape (amor universal), Philia (amizade profunda), Philautia (amor-próprio), Storge (amor familiar) e Mania (amor obsessivo).
O ser humano, em algum momento da sua existência, experimentou ou experimentará a maior parte - se não mesmo todos - destes tipos de amor. A começar pelo Ágape, o primeiro que conhece mal acaba de nascer, o amor incondicional da sua mãe. Pela vida fora vai descobrindo as outras formas de amar, sendo o amor romântico (Eros) e o amor-próprio (Philautia) os que mais impacto terão na construção e na conservação da sua identidade e felicidade.
Para muitas pessoas, sobretudo aquelas que foram vítimas de algum desgosto amoroso ou presenciaram de perto uma dor de amor, talvez seja mais fácil não amar de todo, fechar o coração a qualquer tipo de afeição ou dependência emocional. É uma decisão sensata, contudo, inglória. Isto porque o amor é o que dá sentido, propósito e sabor à vida. Ele nutre, engrandece, embeleza, colore, preenche, cura, restabelece, fortalece, dignifica.
Independentemente da sua situação amorosa, familiar ou social, cada um de nós tem o poder de determinar a sua Philautia, ainda que reconheça que esta possa ser condicionada por factores externos à própria pessoa. A presença deste tipo de amor na vida de qualquer um de nós depende - e de que maneira - do amor que conhecemos desde a mais tenra idade. Depende, essencialmente, do Ágape. Quem nunca foi amado, terá grande dificuldade em amar, inclusive ama si propi cabeça, como dizemos em bom crioulo. Como poderia? Afinal, não se pode dar o que nunca se teve!
Ainda assim, garanto-te que é possível abraçar o amor e trazê-lo para a tua vida. Isto porque o amor não é algo que se procura ou que se encontra. É sim algo que se é, que se sente, que se vive, na qual se vibra. A correspondência por parte de outrem será consequência direta dessa forma de ser e estar na vida. Assim como a vida sem esperança assemelha-se à morte, um coração sem amor assemelha-se à decadência. O amor só precisa de coração, pelo que todo e qualquer ser humano é capaz de amar.
É por este motivo que jamais cansarei de apregoar que, de entre todos os tipos de amor possíveis, "sentíveis" e imagináveis, o mais importante seja o amor-próprio, aquela que depende única e exclusivamente da nossa vontade de vibrar em amor. Essencial é, pois, concentrarmo-nos em nós e estarmos felizes connosco, ao invés de delegarmos essa responsabilidade a terceiros.
O amor é bom! Ponto final, parágrafo, travessão. Por isso amemos, amemos muito. Amemos os nossos familiares, amemos os nossos amigos, amemos os nossos vizinhos, amemos os nossos colegas, amemos o nosso planeta, amemos a nossa vida e, acima de tudo, amemos a nossa pessoa, e tudo o que faz dela alguém tão especial, único.
Que o amor 🧡 esteja (sempre) contigo e até um dia destes!
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