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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!

17
Fev23

Só o amor importa

por Sara Sarowsky

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Ora viva! 👋

A semana do amor, a de São Valentim, já está praticamente no fim. Contudo, ainda nos sobram motivos mais do que suficientes para prolongarmos o seu espírito, já que a sua estada no ar depende tão somente da nossa vontade em invocá-lo.

Como só o amor importa, a ti dedico este posta minha mais recente crónica para o portal Balai Cabo Verde, publicada esta terça-feira, 14 de fevereiro, na expectativa de que te deixes inspirar pela sua magia. 

Só o amor importa

Na semana mais amorosa do ano, convido-te a embarcar comigo numa crónica dedicada ao amor, naquela que será uma viagem com destino à felicidade, com escala no coração e desembarque no terminal 14, do aeroporto São Valentim, em Fevereiro.

Tanto se diz, escreve, disserta, especula e fantasia sobre o mais sublime dos sentimentos, aquele em nome do qual nascemos e pelo qual passamos o resto da vida a batalhar. Ainda assim, dificilmente saberemos tudo sobre ele, isto porque a sua intangibilidade o torna um tópico infinito na sua própria essência. Amar e ser amado é o propósito maior da existência humana, a razão pela qual nos é concedida a vida e pela qual devemos ser eternamente gratos.

Amar é, portanto, inerente à nossa própria condição, algo tão natural como qualquer outra necessidade fisiológica primária. No seu âmago, conceber a vida é o mais puro ato de amor, em que os laços que unem o criador e a criatura são indissociáveis, insolúveis, insubstituíveis. Basta presenciarmos um parto para termos a confirmação que precisamos para estar em paz com esta realidade.

Ora, se o amor é vida e a vida é amor, porque não amamos mais, porque não damos mais amor, porque não recebemos mais amor, porque não fazemos mais pelo amor, porque não vivemos mais em amor? Se o amor é assim tão natural, porque renegamos essa natureza, relegando-o a um plano menor da existência? Porque demonstramos cada vez mais dificuldade - resistência mesmo - em amar, em reconhecer que é a única forma de estar que dá sentido à vida? Porque não assumimos de uma vez por todas que só o amor importa?

No outro dia, a propósito do conflito armado que há quase um ano assola o leste europeu, Pedro Chagas Freitas, um autor que adoro, escreveu o seguinte: "Só faz guerra quem não sabe fazer amor!" De facto, onde ausenta o amor, impera a maldade, o ódio, o rancor, a intriga, a discórdia, a violência, a dor e a bestialidade, no fundo, a inumanidade.

Admita-se ou não, e acredita que há muita gente que faz questão de se opor a tal constatação, todos precisamos de amor. Todos precisamos sentir que somos merecedores de afeto, admiração, cuidado e respeito. Que necessitamos que nos queiram e desejem bem, que nos deem atenção, que cuidem de nós, que se importem connosco, ou seja, que nos amem.

O amor é mágico. Só ele, e tão somente ele, é capaz de curar, perdoar, proteger, incentivar, superar, acrescentar, enaltecer, extasiar, abençoar, dignificar. Por isso, não há que temê-lo, desmerecê-lo, renegá-lo ou dar-lhe as costas. Há que senti-lo, aceita-lo, aproxima-lo, abraça-lo, vivencia-lo, partilha-lo.

Desejo de todo o coração que te inspires na energia do São Valentim e te deixes contagiar pela magia do amor. Que te disponibilizes para amar. Que descubras forma de seres e dares amor. Que encontres coragem para abrires o coração ao amor. Que arranjes meio de trazeres (mais) amor para a tua vida. Acredita em mim, se o fizeres, o final feliz que tanto tens procurado chegará bem mais depressa do que imaginas.

Que o amor esteja contigo e que tu estejas com o amor. Feliz Dia dos Namorados!

Bem sei que o Dia dos Namorados 💌 já lá vai, mas vamos sempre a tempo de enviar energia positiva para aqueles que estimamos, como é o caso. Bom fim de semana e até para a semana!

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27
Jan23

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Ora viva! ✌️

De modo a encerrarmos a semana cheias de power, convido-te a reavivar a magia do Empodera-te, através da minha crónica mensal para o portal Balai Cabo Verde, publicada na manhã desta fria e ensolarada sexta-feira.

Em nome do empoderamento feminino

Em nome do empoderamento feminino, nasceu o Empodera-te!, iniciativa que começou como um evento e que agora se assume como um movimento.

Em nome do empoderamento feminino, reuniu o Empodera-te!, no primeiro sábado deste janeiro de 2023, 110 pessoas, no CCCV – Centro Cultural de Cabo Verde, em Lisboa.

Em nome do empoderamento feminino, nesse dia, as profissionais Maria João Liso, Tercia Lima, Liliana Brazuna, Evódia Graça, Emilly Oliveira, Raquel Godinho, Georgina Angélica e Sara Sarowsky uniram-se num djunta mo inédito.

Em nome do empoderamento feminino, nessa tarde, uma centena de mulheres e uma dezena de homens acudiram ao chamamento de uma causa que é de todos e de cada um de nós.

Em nome do empoderamento feminino, temas palpitantes da atualidade – atividade física, sedentarismo, movimento corporal, liderança feminina, gestão emocional, autoconhecimento, desenvolvimento pessoal, felicidade, amor e inteligência emocional - foram trazidos à baila, com o único propósito de despertar o gosto pelo poder pessoal, em quatro áreas distintas: corpo, mente, espírito e coração.

Em nome do empoderamento feminino, naquele dia fez-se história, despertou-se consciências, ativou-se energias físicas, mentais, espirituais e emocionais, fez-se magia.

Em nome do empoderamento feminino, um programa de rádio vai estrear em breve, ambicionando, precisamente, a partilha de informações, estratégias, ferramentas e dicas sobre um dos temas mais em voga nas sociedades atuais.

Em nome do empoderamento feminino, uma comunidade mais desperta, consciente, empoderada, no fundo, começa a estruturar-se em Lisboa.

Em nome do empoderamento feminino, o Dino D’Santiago, através da sua iniciativa Batuku Roots, reforça o seu comprometimento com a causa.

Em nome do empoderamento feminino, mulheres de várias nacionalidades, origens e paragens assumem publicamente o compromisso de se ajudarem umas às outras rumo a uma vida mais feliz e realizada.

Em nome do empoderamento feminino, uma sólida rede de networking estabelece-se com o único propósito de estender as mãos umas às outras.

Em nome do empoderamento feminino, pessoas se inspiram, parcerias se formam, amizades se constroem, iniciativas se desdobram, posições se tomam, ativistas se assumem.

Em nome do empoderamento feminino, apoia o Empodera-te! a candidatura do batuco a património imaterial da humanidade. Esta forma de manifestação cultural típica da maior ilha do arquipélago de Cabo Verde, Santiago, é sobejamente reconhecida como aquela que melhor espelha a questão do empoderamento da mulher cabo-verdiana. Afinal, nem a proibição, menos ainda a censura, conseguiram calar a voz das criolas, as quais, com recurso a um finaçon único, choravam as suas mágoas, desabafavam as suas amarguras, choravam as suas separações, acalentavam as suas expectativas, confortavam as suas emoções, aplacavam a sua dor.

Em nome do empoderamento feminino, eu, Sara Sarowsky, reforço o meu compromisso, enquanto desencardidora de mentes, ativista pela causa feminina e cidadã consciente, que ambiciona - e para tal luta - uma sociedade mais consciente, mais justa, mais igualitária, mais participativa, mais empoderada.

Em nome do empoderamento feminino, desafio a todas e a todos a abraçarem esta causa e a contribuírem para a afirmação saudável e sustentável das mulheres das nossas vidas.

Em nome do empoderamento feminino, convido-te a juntares a tua voz e a tua ação a este movimento.

Em nome do empoderamento feminino, levantemos os braço direito e digamos a uma só voz: nu sta djuntu!

Estamos juntas! Bom fim de semana e até segunda!

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23
Dez22

Neste Natal, oferece atenção

por Sara Sarowsky

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Ora viva! 👋

Neste que será o último conteúdo do ano, apresento-te a nova crónica para o portal de notícias do meu país-natal, Balai Cabo Verde, na qual faço uma reflexão sobre o poder da atenção, ao mesmo tempo que lanço o desafio para, ao invés de prendas materiais, oferecermos sentimentos.

Aposto que vais gostar, já que acredito que, tal como eu, a sensibilidade seja a tua melhor conselheira. Boa leitura, Festas Felizes e até para o ano.

A festa maior da civilização moderna está mesmo à porta e variados são os desejos que queremos ver a atravessarem essa porta: reencontros, prendas, tradições, refeições, reuniões, convívios, abraços, partilhas, férias, viagens... no fundo, momentos prazerosos, capazes de renovar em nós a crença de que o amor, a comunhão e a solidariedade são tudo quanto precisamos para sermos e fazermos os outros felizes. Inebriada pela magia da época, dedico esta crónica a todos aqueles que estão dispostos a abrir o coração ao espírito de Natal.

Superada uma pandemia repentina, agressiva, restritiva e condenatória para milhares de vidas, 2022 prometia ser mais condescendente que os seus antecessores. Infelizmente, vimos goradas as nossas expectativas. Um conflito armado - inesperado, desnecessário e arbitrário - trocou-nos as voltas e restituiu às nossas mentes e aos nossos corações sentimentos que julgávamos ultrapassados: medo, incerteza, insegurança, desesperança.

Meses turbulentos (re)vivemos nós ao longo deste ano, quando tudo o que desejávamos era reconquistar a vida de outrora. Este Natal, o primeiro dos últimos dois anos em que não nos é imposto qualquer tipo de restrições, acaba por ter um sabor agridoce. Se, por um lado, recuperamos a liberdade para fazermos o que nos apetecer, irmos aonde quisermos, estarmos com quem desejarmos, por outro, vimo-nos privados da nossa liberdade financeira.

Com a inflação a colecionar recordes e as famílias a perderem poder de compra, esta época festiva está longe de ser aquela com a qual andámos a sonhar desde 2019. Em tempos de vacas magras, raquíticas para muitos, que engordem a criatividade e a solidariedade. Na impossibilidade - ou dificuldade - de podermos desfrutar da abundância e da fartura na sua plenitude, ou seja, de oferecermos prendas dispendiosas, desfrutarmos de uma mesa abastada ou irmos para perto daqueles que estão longe, ofereçamos o mais valioso de todos os presentes, aquele que nada custará e que toda a diferença fará na vida de quem o receber: atenção.

Sabias que, segundo o estudo global da Gallup de 2022, uma em cada cinco pessoas sente que não tem com quem contar; que, de acordo com o The Prince's Trust, 35% dos jovens britânicos entre os 16 e os 25 anos se sentem mais sozinhos que nunca; que o Reino Unido, tal como o Japão, criou um Ministério da Solidão para dar uma resposta concertada ao problema; e que Portugal é o 6º país europeu onde a solidão mais tem aumentado?

O parágrafo anterior é um inequívoco indício de que as pessoas nunca precisaram tanto de atenção, e que dá-la ao outro é de uma generosidade e humanidade ímpar. Oferecer é um ato de amor e o Natal mais não é do que uma festa de amor, em que cada um dá o que tem, pode ou está disposto. "Quem dá o que tem a mais não é obrigado", diz o ditado. Digo eu que "Quem dá o melhor que tem, a mais é obrigado a receber".  

Quando damos o melhor de nós, pomo-nos a jeito para receber o melhor dos outros; como tal, quando dás a tua atenção, estás o oferecer o melhor de ti e a despertar o melhor no outro. Numa sociedade em que mal conseguimos ter tempo para nós mesmos, arranjar tempo para dar atenção ao outro é algo incalculável, inestimável, inolvidável.

Que não restem dúvidas de que o que realmente importa, não apenas no Natal, mas na vida, é a atenção, a intenção, a afeição, a presença. Por disso estar absolutamente convicta, desafio-te a, neste Natal, oferecer atenção, a tua atenção. A, neste Natal, oferecer intenção, a tua intenção. A, neste Natal, oferecer afeição, a tua afeição. A, neste Natal, oferecer presença, a tua presença. 

Neste Natal, oferece-te! Que o (verdadeiro) espírito de Natal se faça presente na tua vida e que tu te faças presente, não somente de corpo, mas sobretudo de coração, na vida daqueles que importam. Será com toda a certeza a prenda mais valiosa que podes oferecer. Feliz Natal!

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10
Out22

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Ora viva! ✌️ 

Eis-me de volta, desta vez com a novel crónica para o Balai Cabo Verde, publicada há instantes. Boa leitura e, já agora, boa semana.

Preterida ou Preferida: eis a questão

Raras, para não dizer nenhumas, foram as vezes em que me senti preferida e não preterida. Não fui a filha preferida do meu pai (já falecido), não sou a filha preferida da minha mãe, tampouco sou a irmã preferida dos meus irmãos (e olha que tenho uns quantos, meia dúzia para ser mais precisa).

Enquanto catraia, em momento algum tive a noção de ser a preferida de um rapaz. Abro aqui um parêntesis para reconhecer que, além dos modestos atributos físicos que me caracterizavam na altura, esta minha personalidade reguila pouco ou nada ajudava. Devo ter sido das poucas raparigas que nunca tiveram um namoradinho de infância, nem mesmo nos tempos do liceu, já adolescente.

Os gaiatos pelos quais me interessava preferiam sempre as minhas amigas, na verdade, preferiam qualquer uma que não eu. Lembro-me de um deles dizer, em tom de brincadeira, que era um insulto pessoal dizer a um rapaz que a Sara estava interessada nele.

Cresci, portanto, com um enorme complexo de feiura, rejeição, inferioridade e desmerecimento. Já adulta, a minha versão pessoal da saga O Patinho Feio conheceu inúmeras temporadas, com um rol de pessoas próximas a serem preferidas, enquanto eu era preterida over and over and over again. Mesmo nos tempos académicos, eu era aquela que nunca era escolhida para integrar os grupos de trabalho. Até provar que era capaz de tirar boas notas, só era incluída mediante imposição expressa dos docentes.

O trauma atingiu tal proporção que cheguei ao ponto de recusar sair para a night na companhia de amigas mais vistosas do que eu. Houve uma em particular, a Natalie, que pela sua beleza estonteante acabava, ainda que sem intenção, por semanalmente me fazer reviver o pesadelo. De todas as vezes em que saímos juntas, o sentimento predominante era o mesmo de sempre: o patinho feio continuava a habitar em mim.

A baixa autoestima acompanhou-me praticamente a vida toda, precisamente por ter sido sempre preterida, a começar pela minha própria família, que nunca fez questão de me fazer sentir que pertencia àquele agregado, a começar pelo facto de o meu tom de pele ser diferente. Acredites ou não, na minha infância fui marginalizada, ostracizada até, por ser a mais "branquinha" do clã. Ouvi de tudo um pouco, "branca mo papaia azedo", "é filha do mesmo pai e da mesma mãe?", "de certeza que não foi trocada na maternidade?", "não se parece nada com os irmãos", "é tão deslavada", "coitadinha, não tem nada a ver com os outros" e por aí fora...

Não possuo uma única memória de ter sido a preferida de qualquer um dos meus familiares, pelo contrário. Até vir para Portugal estudar, a poucos dias de completar 20 anos de idade, nunca soube o que era ter a minha própria festa de aniversário. Se bem me lembro, e essas coisas jamais se esquecem, fui a única lá em casa que nunca teve direito a uma festa de anos, sequer um simbólico soprar de velas no dia de anos.

À custa disso, e de incontáveis sucedidos, cresci acreditando que ser preterida era o meu destino, era o que eu merecia. Hoje, a caminhar para os 45 anos de vida, detenho autoconhecimento, autoestima e autorrespeito suficientes para reconhecer que tal crença é falaciosa, limitadora, castradora. Hoje tenho maturidade de sobra para acreditar que o patinho feio sempre foi um cisne lindo.

Hoje ganhei consciência do meu valor, conheço a mim própria o suficiente para saber que cada um é como é e que eu sou única, especial, perfeita na minha imperfeição. Hoje sei que sentir-me preferida pouco tem a ver com os outros, mas antes comigo. Hoje sei que cabe a mim deter o poder de me preferir e não delegar essa responsabilidade a terceiros. Hoje sei que tudo aquilo que experienciei ao longo da vida só me tornou mais forte, mais resistente, mais preparada para ser aquilo que eu sou, para ser aquilo que eu quiser ser. Hoje tenho plena consciência de que sou aquela que eu mais prefiro no mundo.

Para além disso, hoje tenho ao meu redor pessoas incríveis que, todos os dias, me preferem. Que preferem estar comigo, que preferem falar comigo, que preferem celebrar comigo, que preferem chorar comigo, que preferem fazer parte da minha vida. Preferem tanto que muitas vezes não consigo dar vazão às suas solicitações. Esta crónica é, pois, um tributo a cada uma delas, uma forma de manifestar publica e inequivocamente o quão grata sou por ser a sua preferida e não a sua preterida.

Aquele abraço amigo e até à próxima!

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12
Set22

Quando nascem novos sonhos

por Sara Sarowsky

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Ora viva! 🫶

Que fim de semana, caramba! A Feira Anternativa de que te falei no último post foi uma experiência avassaladora, a vários níveis. Ainda estou a processar as vivências que por lá senti e testemunhei. Sobre isso falarei noutra oportunidade, que ainda estou fisica e espiritualmente estafada. A sessão com o Braco foi algo indescretível, adianto já.

De volta à rotina semanal, hoje trago a última crónica para o Balai Cabo Verde, publicada na passada sexta-feira. Quando nascem novos sonhos é assim o complemento da crónica anterior, Quando morrem os sonhos, publicada a 18 de agosto e partilhada contigo há uma semana.

Quando nascem novos sonhos

Seis semanas depois da sua chegada nessa terra longínqua, aninhada entre o oceano e a montanha, pegou ela em toda a sua bagagem e regressou à casa de partida, a cidade das sete colinas, aquela na qual um dia pensou fincar raízes por tempo indeterminado. O coração desta vez vinha vazio, frio, estéril.

Investira praticamente tudo nesses sonhos, ao ponto de já não possuir mais nenhum. Não fazia a menor ideia de onde poderia ir buscar outros. Quis o destino que as coisas não lhe corressem como planeado, reconheceu com a alma em chamas e o coração em pedaços. Sapiência e humildade tinha ela de sobra para saber que o momento da tal mudança pela qual tanto ansiara ainda não tinha chegado.

Era preciso aquietar o espírito, apaziguar o coração, aguardar que o tempo revelasse novos caminhos, que conduzissem a novos sonhos. Disposta a tal estava ela, já que, contra os desígnios do destino, mortal algum poderia atentar, muito menos contestar. Crente estava ela de que tudo acontece por um motivo, e mesmo que aquele que lhe dizia respeito não fosse de momento claro, queria acreditar que algo ou alguém detinha as respostas que tanto procurava.

"O que se faz quando morrem os sonhos", não se cansava de perguntar, a si e às entidades superiores. "O primeiro passo é fazer o luto", sussurrou-lhe a voz da razão, serena na sua sabedoria, paciente na sua fiabilidade. "E depois", questionou ela. "Depois é deixar que o tempo, o mais sábio de todos os mestres, se encarregue de por tudo no seu devido lugar, de dar a cada sonho a sorte que lhe cabe."

"Enquanto isso, como continuarei a viver se já não tenho os meus sonhos comigo", lamuriou-se. "Os sonhos não morrem jamais, eles transformam-se, reinventam-se, reajustam-se. Como a Fénix, eles possuem a magia de renascer das cinzas, ainda mais belos e fortalecidos. Mas para isso tens que dar tempo ao tempo, tempo para o tempo fazer o seu trabalho. Sem pressa nem pressão, apenas com amor e gratidão".

"Como assim com amor e gratidão", questionou ela. "Amor porque é profícuo e gratidão porque é benéfico. Se calhar a causa da morte dos teus sonhos foi insuficiência de amor, amor para acreditar que pudessem realizar-se. E de gratidão também. Provavelmente esqueceste de ser grata por deteres o poder de sonhar", esclareceu a sua voz interior.

"Para que nasçam novos sonhos é preciso que os antigos moram. Esses sonhos que agora pereceram vão abrir espaço para outros, ainda maiores e melhores. Acredita no poder dos teus sonhos, que o universo também acreditará, e a concretização deles será uma mera questão de tempo e de oportunidade", rematou a voz sábia da lua, que do alto do céu assistia ao seu diálogo interno.

Apegara-se tanto àqueles sonhos - afinal por muito tempo os cultivara, alimentara, estimara - que agora temia já não saber viver sem eles. "Desapego, é preciso praticar o desapego", recordou-se das palavras da sua terapeuta espiritual. "Para que algo novo entre na nossa vida é preciso que o velho saia", sussurraram por sua vez as estrelas.

"Sou jovem, saudável, capacitada, instruída, tenho tempo de sobra para criar novos sonhos, para voltar a olhar para a vida como a maior de todas as aventuras, aquela que vale sempre a pena", disse a si mesma. Nesse instante, um sorriso aflorou-lhe aos lábios e um brilho intenso acendeu-lhe os olhos. Novos sonhos estavam a caminho, pressentia. Perante essa convicção, deu as costas ao passado e concentrou-se no futuro, esse sim cheio de promessas.

Dia feliz e uma ótima semana!

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05
Set22

Quando morrem os sonhos

por Sara Sarowsky

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Ora viva! 🫶

Uma mão cheia de semanas depois, eis-me de volta ao teu convívio, repleta de novidades, crónicas, planos e sonhos. E é precisamente sobre estes últimos que versa a minha última crónica para o portal Balai Cabo Verde, publicada a 18 de agosto, e que vou agora partilhar contigo.

Quando morrem os sonhos

Há muito que ambicionava dar um outro rumo à sua vida. A súbita morte do progenitor e, posteriormente, a inesperada pandemia da covid despoletaram nela a certeza de que desejava – na verdade, precisava - abraçar uma nova vida. Sabendo que o primeiro passo para a mudança prendia-se com o não mais querer estar onde estava, tornara-se evidente que a mudança era incontornável, imprescindível, inadiável.

Num belo e quente dia de verão, partiu à aventura, atrás do recomeço pelo qual há tanto ansiava. Consigo levou duas malas, uma grande e outra mais pequena, uma mochila, um saco e um coração a abarrotar de sonhos. Nesse coração cabiam sonhos de todo o tipo: novo país, novo idioma, nova casa, novo trabalho, novos amigos, novas relações, novos amores, nova dinâmica, no fundo nova existência.

Dias após dia, semana após semana, os seus sonhos foram-se vergando à dureza da realidade, rendendo-se à força do infortúnio. Nenhum deles, nem o mais insignificante de todos, se concretizou. Pelo contrário, a ausência de sorte era de tal modo constante que os mal-sucedidos acumulavam-se a uma frequência praticamente diária. Ainda antes da partida, o universo emitira sinais, vários até. Em nome de uma vontade irrefreável, não lhe deu ouvidos, com ele teimou, a ele ousou desafiar. Precisava fazê-lo, caso contrário arrepender se ia para o resto da vida.

O que não cogitou, ainda que intimamente o intuísse, era que a última palavra não seria a sua, jamais seria. Por muito que sonhemos, almejemos, planeemos ou façamos, a concretização do que quer que seja só acontece no espaço e no tempo entendido pelo destino, ou universo como preferia chamar às forças superiores que comandam as ações humanas e determinam a sua experiência terrena. De pouco ou nada adianta insistir em algo (ainda) não validado por ele, até porque o tempo divino e o tempo humano raramente coincidem; o primeiro é infinitamente mais sábio do que o segundo, bem mais ansioso e impaciente.

Em terra estrangeira, numa geografia aninhada entre o oceano e a montanha, encontrou consolo nas tardes passadas na praia, numa comunhão íntima e recíproca com a natureza, a qual testemunhava com apreensão o seu desassossego, com pesar a sua agonia. Assistir ao sucumbir dos sonhos alheios, sem que os envolvidos nada possam fazer para impedir tal desfecho, é algo a que a mãe de todas as criaturas dificilmente consegue manter-se insensível.

Com o sol, a praia, as dunas e o oceano partilhou ela os seus mais íntimos ensejos, anseios e frustrações. Com a lua chorou a morte desses sonhos, os quais iam perecendo à vez, à mercê de cada frustração, cada insucesso, cada contrariedade. O mar lambeu-lhe as feridas, a brisa secou-lhe as lágrimas, o sol aqueceu-lhe a alma, a natureza curou-lhe as mágoas, o tempo aliviou-lhe o sofrimento.

Despida de expectativas, despojada de ilusões e carente de sonhos - sonhos esses que a levaram a desafiar tudo e todos, a fizeram almejar vencer a maldição que pendia sobre si, fintar o azar e triunfar sozinha num país povoado de estranhos - retomou à procedência, de coração partido e alma fragmentada, sem a mais pálida ideia sobre que rumo haveria de dar à sua existência dali em diante. Sem outra opção que não fosse render-se às evidências, um passo atrás viu-se obrigada a dar, regressando à casa de partida, tal qual jogo de monopólio. Sim, muitas vezes é preciso dar um passo atrás, recuar, para poder avançar com mais vigor, mais sagacidade, mais sabedoria.

Continua...

Bem-vinda de volta ao blog. Regressarei na quarta, com mais uma crónica. Até lá, deixo-te com aquele abraço amigo só nosso!

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25
Mai22

O amor é bom

por Sara Sarowsky

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Ora viva! 🫶

Hoje trago a minha última crónica para o Balai Cabo Verde, acabadinha de estrear na rede. Boa leitura e um ótimo dia.

Dedico esta crónica a todos aqueles que têm dificuldade em sentir, expressar ou acreditar no amor. E quando falo em amor refiro-me a todo o tipo de amor, ainda que o romântico possa, por motivos mais do que óbvios, assumir o protagonismo.

De origem latina, a palavra "amor" refere-se essencialmente a todo e qualquer sentimento de afeição, paixão ou grande desejo. Considera o dicionário da língua portuguesa que ela pode ser definida como "um sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração", "grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa" ou "ligação afetiva com outrem, incluindo geralmente também uma ligação de cariz sexual".

As definições acima citadas tornam evidente que existem várias formas de amar, ainda que a palavra capaz de as expressar na perfeição seja apenas uma: "amor". Os gregos, sábios desde os primórdios da civilização moderna, criaram oito palavras para descrever os diferentes tipos de amor que, ao longo da vida, vamos experenciando. São elas: Eros (amor apaixonado), Pragma (amor prático), Ludus (amor lúdico), Ágape (amor universal), Philia (amizade profunda), Philautia (amor-próprio), Storge (amor familiar) e Mania (amor obsessivo).

O ser humano, em algum momento da sua existência, experimentou ou experimentará a maior parte - se não mesmo todos - destes tipos de amor. A começar pelo Ágape, o primeiro que conhece mal acaba de nascer, o amor incondicional da sua mãe. Pela vida fora vai descobrindo as outras formas de amar, sendo o amor romântico (Eros) e o amor-próprio (Philautia) os que mais impacto terão na construção e na conservação da sua identidade e felicidade.

Para muitas pessoas, sobretudo aquelas que foram vítimas de algum desgosto amoroso ou presenciaram de perto uma dor de amor, talvez seja mais fácil não amar de todo, fechar o coração a qualquer tipo de afeição ou dependência emocional. É uma decisão sensata, contudo, inglória. Isto porque o amor é o que dá sentido, propósito e sabor à vida. Ele nutre, engrandece, embeleza, colore, preenche, cura, restabelece, fortalece, dignifica.

Independentemente da sua situação amorosa, familiar ou social, cada um de nós tem o poder de determinar a sua Philautia, ainda que reconheça que esta possa ser condicionada por factores externos à própria pessoa. A presença deste tipo de amor na vida de qualquer um de nós depende - e de que maneira - do amor que conhecemos desde a mais tenra idade. Depende, essencialmente, do Ágape. Quem nunca foi amado, terá grande dificuldade em amar, inclusive ama si propi cabeça, como dizemos em bom crioulo. Como poderia? Afinal, não se pode dar o que nunca se teve!

Ainda assim, garanto-te que é possível abraçar o amor e trazê-lo para a tua vida. Isto porque o amor não é algo que se procura ou que se encontra. É sim algo que se é, que se sente, que se vive, na qual se vibra. A correspondência por parte de outrem será consequência direta dessa forma de ser e estar na vida. Assim como a vida sem esperança assemelha-se à morte, um coração sem amor assemelha-se à decadência. O amor só precisa de coração, pelo que todo e qualquer ser humano é capaz de amar.

É por este motivo que jamais cansarei de apregoar que, de entre todos os tipos de amor possíveis, "sentíveis" e imagináveis, o mais importante seja o amor-próprio, aquela que depende única e exclusivamente da nossa vontade de vibrar em amor. Essencial é, pois, concentrarmo-nos em nós e estarmos felizes connosco, ao invés de delegarmos essa responsabilidade a terceiros.

O amor é bom! Ponto final, parágrafo, travessão. Por isso amemos, amemos muito. Amemos os nossos familiares, amemos os nossos amigos, amemos os nossos vizinhos, amemos os nossos colegas, amemos o nosso planeta, amemos a nossa vida e, acima de tudo, amemos a nossa pessoa, e tudo o que faz dela alguém tão especial, único.

 Que o amor 🧡 esteja (sempre) contigo e até um dia destes!

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04
Mai22

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Ora viva! 🫶

Hoje quero partilhar contigo a minha última crónica para o Balai Cabo Verde, publicada esta manhã, e na qual faço um apanhado das ocorrências mais marcantes deste quinto mês do ano.

Eis-nos chegados a um dos meses mais especiais do nosso calendário. Maio. Um mês que se conjuga essencialmente com M, não só por ser essa a primeira letra do seu nome, mas sobretudo porque é durante este quinto mês do ano que se celebram vários acontecimentos que levam esta letra nas suas iniciais. Versa, pois, esta crónica fazer um apanhado das mais relevantes, já que um pouco de cultura geral nunca fez mal a ninguém. Pelo contrário!

Quando penso no mês de maio ocorrem-me de imediato uma mão cheia de palavras: Mãe, Maria, Matrimónio, Mundo e Mudança. Mãe porque é no seu primeiro domingo que se rende homenagem àquela que concebe a vida. Maria porque é em meados desse mês que se celebram as aparições de Nossa Senhora, celebradas particularmente no Santuário de Fátima, mas extensíveis a outras geografias. Matrimónio por ser considerado o mês das noivas, muito provavelmente por causa das temperaturas amenas, dos cenários floridos e aromáticos. Mundo porque, à sua semelhança, somos um mundo de pessoas, emoções, sensibilidades, diversidades e culturalidades. Mudança porque é nos seus meados que a primavera atinge a sua plenitude e os padrões de vestuário mudam radicalmente.

Contudo, nem só de palavras começadas pela letra M - a décima terceira do alfabeto português, utilizada em 27,39% das palavras da nossa língua – reza a história deste mês. Vejamos:

- Logo no dia 1, assinala-se o Dia do Trabalhador, efeméride que visa lembrar que aqueles que trabalham merecem condições dignas de trabalho e de vida.

- Dois dias depois, dia 3, é a vez da Liberdade de Imprensa celebrar o seu dia mundial, assim como o astro responsável pela principal fonte de vida no planeta Terra: o Sol.

- A 5 celebra-se o Dia Mundial da Língua Portuguesa, data oficializada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), no ano de 2019, ainda que desde 2009 fosse comemorado pela Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP).

- A 8, é a vez da Cruz Vermelha, a maior organização humanitária do mundo, celebrar o seu dia mundial. Um dia mais tarde, a 9 de maio, é a vez da Europa a celebrar o seu dia, numa comemoração para a paz e a unidade do Velho Continente. 

- A 15, a família conhece o seu dia internacional, naquela que é uma data proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1993, como forma de destacar a importância das famílias como unidades básicas da sociedade. Dois dias antes, a 13, assinala-se o Dia Internacional do Enfermeiro.

- Na sua terceira semana, destacam-se o Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade de Informação (17), o Dia Mundial do Médico de Família (19) e o Dia Internacional dos Museus (20).

- A 25 celebra-se o dia de mais um continente: África. Na origem desta efeméride está a criação, em Addis-Abeba, no ano de 1963, da Organização de Unidade Africana (OUA). Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu esse dia como o Dia da África ou o Dia da Libertação da África.

- Já mais para o final, assinalam-se, a 29, o Dia Internacional dos Soldados da Paz das Nações Unidas e, a 31, o Dia Mundial Sem Tabaco.

Muito mais acontecimentos teria eu a imputar àquele que é também o mês que assistiu ao nascimento da minha irmã caçula, cujo nome começa precisamente pela letra M, e de muitos amigos. Quem sabe numa próxima oportunidade. Por ora, despeço-me com aquele abraço amigo e votos de que este mês faça jus à sua inicial: maravilhoso, magnífico, mágico!

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Ora viva! ✌️ 

Hoje partilho contigo a minha última crónica, uma original, para o Balai Cabo Verde, publicado ontem, 1 de março.

Querido 2022,

Há muito que estou para te escrever, só que, entre um afazer e outro, o tempo foi passando, sem que eu pusesse no papel aquilo que me ia na alma. Depois de ontem, não posso mais adiar esta missiva.

Sei que mal nos conhecemos, vimo-nos apenas 49 dias, mas já deu para perceber que não serás menos exigente que o teu antecessor. Pelo contrário, entraste logo a matar, literalmente falando.

Quero que saibas que estou ciente da tarefa dura, ingrata mesmo, que tens em mãos. Entraste em cena num período conturbado da história da humanidade, connosco cansados, devera desgastados, com um peso enorme nas costas e um grande aperto no coração. O que talvez não saibas é que, com a tua chegada, renovámos a esperança em dias melhores, crentes de que seríamos capazes de dar conta dos desafios que trarias.

"Pior do que 2021 não há de ser!", profetizamos. Como estávamos enganados. Mal começamos a acreditar que tínhamos encurralado o vírus do SARS-CoV-2, eis que no dia 24 de fevereiro nos acordas com um novo desafio. E que desafio. Uma guerra. Na Europa. Do Leste. Um território que é um barril de pólvora, como bem sabes.

Não sei quais os teus planos para os próximos 10 meses que faltam para dares por cumprida a tua missão. O que sei é que as tuas ações até ao momento não têm augurado nada de bom. Como se não bastasse uma luta implacável contra a covid-19, agora nos brindas com um conflito armado no velho continente.

Se permites que te diga, era a última coisa de que precisava o mundo numa altura em que as suas gentes estão por demais vulneráveis. Que grande trapalhada andas tu a fazer! Para além dos ucranianos que estão a sofrer horrores que apenas posso imaginar, as bolsas financeiras estão a afundar, o preço do petróleo e do gás a disparar em flecha e o clima de insegurança a alastrar. E não esqueçamos que o maldito bicho continua à solta, sedento de vidas humanas.

Estamos com o coração na mão, expectantes para saber quando voltaremos a viver sem (grandes) sobressaltos, num clima de paz e cooperação. Se não for pedir demais, intercede por nós junto de todos os deuses, santos, anjos, arcanjos e companhia limitada para que sejam cessadas de imediato as hostilidades. Diz a eles que queremos levar a nossa vida em segurança, que queremos voltar a ter prazer em ver os noticiários, que queremos celebrar a vida e não chorar a perda de vidas inocentes. Lembra a eles que a maioria de nós gosta de paz, amor, abraços e sorrisos e não de mortes, dor, sangue, medo ou insegurança.

Mal completaste dois meses de vida e já estou com a sensação de que não te posso mais aturar. Dá-nos uma trégua, imploro-te! Precisamos voltar a acreditar que vai tudo ficar bem e que voltaremos a viver, circular e desfrutar, sem barreiras nem fronteiras. Queremos que os nossos semblantes descarreguem, que os nossos sorrisos voltem a ser espontâneos, que as nações voltem a confiar umas nas outras e os povos a acreditar na paz.

Ao invés das imagens que conspurcam os nossos olhos desde ontem, queremos ver registos de crianças felizes, adultos alegres e entidades funcionais. Queremos que a sede de poder e autoafirmação de alguns se transforme em vontade de fazer o bem a todos. Queremos levar luz, esperança e conforto a todos os que nos rodeiam. Precisamos curar as nossas dores e não abrir feridas novas.

Termino dizendo que me sinto impotente por não conseguir atinar com o que estás a fazer da tua vida. O que sei é que estás a fazer merda com a nossa. Mais tenho eu para te dizer, quem sabe quando renovar em mim a crença de que és capaz de nos proporcionar dias mais leves.

Sem muita estima,
Sara

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28
Jul21

people-247459_1920.jpgOra viva! ✌️ 

Hoje trouxe a minha mais recente crónica para o portal de notícias Balai Cabo Verde, acabadinho de ser publicado. Bom proveito!

No outro dia, no decurso de um almoço com ex-colegas de trabalho, alguém perguntou-me se na verdade existem mais mulheres solteiras do que homens solteiros. A resposta que dei na altura serve de mote a esta crónica, a qual intenta lançar um olhar sobre a (aparente) discrepância entre os géneros no que toca à solteirice.

Dita a minha experiência que a percentagem de corações solitários está praticamente elas por eles, ainda que com uma ligeira vantagem do sexo feminino, facilmente explicado pela sua predominância em termos populacionais. O que acontece é que para a maioria dos indivíduos do sexo masculino estar solteiro não tem necessariamente que rimar com estar sozinho.

É bem mais fácil - e socialmente tolerável - que os celibatários tenham "amigas", as quais vão rodando consoante o estado de espírito ou apetência sexual. Muito mais à vontade do que nós mulheres em separar o coração da libido, eles lidam e gerem melhor o seu estado civil, mais não seja porque a sociedade é mais branda e condescendente com eles. "Ter alguém" sem assumir uma relação é melhor aceite quando se trata do género masculino; disso não tenhamos dúvida, ainda que nos console pensar o contrário.

Uma mulher que vai colecionando "amigos" é comum e inevitavelmente rotulada de "fácil", "leviana", "promíscua", para não dizer outra palavra de quatro letras começada por p. Nos nossos dez grãozinhos de terra, em que a dimensão do território é inversamente proporcional ao falatório sobre a vida alheia, esta é uma situação flagrante, condicionante, incapacitante. Com a mulher que vai fazendo a sua vida amorosa, à margem do seu celibato, a comunidade é implacável no criticismo, no julgamento, na condenação e na ostracização.

Com os homens a conversa é outra. Em inúmeras paragens deste planeta ficam até bem vistos; afinal, cultivar e perpetuar o dogma do macho alfa valoriza o seu passe perante tudo e todos. Ele é encarado como um servidor social, que mais não faz do que cumprir o seu papel de provedor da satisfação feminina e da perpetuação da espécie. Mulher que vai saltando de par em par de calças incomoda bem mais do que mulher que prefere aguardar pelo par de calças ideal. Homem que adota a mesma postura incorre no pecado mortal de ver sua masculinidade posta em causa.

A eles é permitido provar da doce fragrância do romantismo, desde que isso não comprometa a sua macheza, claro está. A elas injetam-se doses cavalares do mesmo elixir do amor, na expectativa de que se mantenham puras e castas até à chegada do tal dito cujo montado no cavalo branco, o qual, no final da estória, fica-se a saber que não passa de um sapo sob o encantamento de uma fada madrinha ressabiada. Mas isso já é assunto para outra ocasião.

Termino lembrando que, sobretudo no caso dos homens, estar solteiro não implica necessariamente estar sozinho, assim como não ter uma relação assumida não implica estar em abstinência sexual. As coisas são como são e, em matéria de solteirice, cada um conduz a sua vida da forma que melhor lhe convier, que ninguém tem nada a ver com isso. O importante é ser feliz e desfrutar da vida tal como ela se nos apresenta.

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