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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!

09
Nov19

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Ora viva! ✌️


Hoje, ainda que por pouco tempo, tive a oportunidade de privar com o lado desagradável do sucesso. 
Seguramente à conta do mediatismo dos últimos dias, fui despertada do meu descanso prolongado por uma avalancha de pedidos de amizade no meu perfil no Facebook.

 

Só para teres uma ideia, em pouco mais de uma hora este já contava com duzentos e tal novos amigos. Isto porque, de modo imprudente e impulsivo, fui aceitando os convites que me eram endereçados, sem parar para refletir sobre as implicações daquilo que estava a fazer. A ficha só caiu quando comecei a ser bombardeada pelo Messenger com chamadas e mensagens. Em questão de minutos, recebi pedidos de ajuda e de dinheiro, agradecimentos, piropos, elogios, conversa fiada e até uma imagem obscena. Com o mesmo frenesi, as chamadas não paravam. Nem bem acabava de rejeitar uma, lá vinha outra a clamar pelo ícone verde. Do mesmo "chamador" ou de outro qualquer, essas chamadas anunciavam que o ter aceite o convite de amizade foi interpretado como um convite ao engate. Ou que o facto de ser autora de um blog chamado Ainda Solteira significava que ando desesperada por um macho.

 

Abro aqui um parêntesis para esclarecer que a minha definição de privacidade há muito que determina que apenas amigo de amigo pode enviar-me convite de amizade. Quanto a isso sempre fui inflexível: impedir o acesso ao meu perfil a desconhecidos, pessoas com quem nunca tenha privado na vida real ou com quem não partilhe determinado círculo de amizade.

 

Na ressaca do meu recente sucesso na comunicação social cabo-verdiana, baixei a guarda e aceitei pedidos de amizade de pessoas alheias ao meu convívio. Foi quanto bastou para que amigos desses recém-amigos conseguissem chegar até mim.

 

A debandada desta manhã assumiu tal proporção que o próprio Facebook por duas vezes bloqueou-me o acesso à conta. Imagino que deva ter pensado que se tratava de um hacker ou de uma mobilização massiva do Daesh, já que, em 75 minutos, passei de utilizador com uma média de duas novas amizades por mês a utilizador com duas centenas de novas amizades, sendo 99% delas do sexo masculino, a maioria portadores de nomes árabes e muçulmanos. 

 

Porque aceitei estes pedidos de amizade? Porque a ingenuidade que insiste em não deixar-me ver as coisas como elas de facto são, pelo menos num primeiro momento, disse-me que estava aí uma boa oportunidade para angariar novos seguidores para a página do Ainda Solteira. Assim, dei por mim a batalhar em duas frentes: no tablet aceitava os pedidos de amizade e no telemóvel enviava convites para gostarem da página. Quanta ingenuidade minha! O número dos que aceitaram ser fã da página não atingiu sequer 10%.

 

Ao constatar que o interesse deles não estava em mim enquanto autora, e com cada vez mais requests a chegar, tomei a decisão de desferir o golpe fatal, sob pena de ver comprometida a guerra contra o assédio. O primeiro passo consistiu em bloquear os áudios. Depois "ignorei"  os textos, enviando-os para a pasta (oculta) dos pedidos de mensagem. A seguir, encetei a empreitada de remover todas essas amizades recentes. Por último, rejeitei todos os outros pedidos pendentes, que a essa altura já ultrapassavam as duas dezenas.

 

Mesmo sendo um processo moroso e enfadonho, nem um único perfil escapou à chacina. Dos cerca de 1.100 amigos que já tinha acumulado, sobraram 816, basicamente os mesmos que tinha antes da fama. Mais pedidos continuam a chegar, só que em menor quantidade, com todos eles a conhecerem o mesmo destino: "eliminado".

 

Quem quiser saber da minha vida enquanto blogger poderá fazê-lo através da página do Ainda Solteira. Gostando ou seguindo, será sempre bem-vindo, disso pode estar certo. Quanto ao meu perfil, a conversa é outra. Por ser pessoal, logo privado, só lá aceito aqueles que considero amigos, pessoas que conheço pessoalmente ou com quem tenha, no mínimo, 10 perfis em comum. Àqueles que não cumprem nenhum desses requisitos deixo o seguinte recado: "Não se deem ao trabalho de me enviar pedidos de amizade, pois estes serão impiedosamente rejeitados!"

 

A minha postura na vida sempre se pautou pela máxima "qualidade, em vez de quantidade" e não vai ser agora, por causa de três artigos em jornais, que dela vou abrir mão. Este lado da fama dispenso de bom grado. Termino lembrando que há uma linha que separa a minha vida pessoal da minha vida profissional e que essa linha está muito bem demarcada: o perfil é para a privada e a página para a pública. Fui clara?

 

Aquele abraço amigo e desejos de um ótimo fim de semana!

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06
Mar19

girl-1866959_960_720.jpgViva!

Meio a brincar meio à séria, quantas vezes não ouvimos – e replicamos – que só é assédio quando o gajo é feio? Por outro lado, quantas vezes não ouvimos tiradas tão foleiras que ficamos absolutamente sem reação tamanho o choque e a vergonha? É por isso que pergunto se saberemos nós (homens e mulheres) identificar a linha que separa o piropo elogio do piropo crime? Afinal, até que ponto podemos considerar o piropo um crime? É precisamente sobre todas estas questões que se debruça esta crónica.

Reza o artigo 170.º do código penal que "quem importunar outra pessoa, praticando perante ela atos de carácter exibicionista, formulando propostas de teor sexual ou constrangendo-a a contacto de natureza sexual, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias..." A moldura penal agrava-se no caso da importunação sexual ser cometida sobre menor de 14 anos. 

Desde agosto de 2016, que os piropos – aquelas "bocas" que todas nós mulheres, desde a mais tenra idade, ouvimos – têm, pelo seu caráter de "propostas de teor sexual", relevância criminal, ou seja, são considerados crime, mais concretamente crime de importunação sexual. Atenção que a lei ressalva que apenas os piropos que são propostas de teor sexual são criminalizadas. 

"Bocas" do tipo "és como um helicóptero: gira e boa"; "ainda dizem que as flores não andam"; "só a mim é que não me calha uma destas na rifa"; "diz-me lá como te chamas para te pedir ao Pai Natal" ou "acreditas em amor à primeira vista ou tenho que passar por aqui outra vez?" não são, aos olhos da lei, consideradas crime, uma vez que não expressam conteúdo sexual. Já as do tipo "deves ser boa naquilo", "tens uma boca de broche", "tu queres é levar com ele", "comia-te toda" e outras mais explícitas, são consideradas crime e podem ser denunciadas por qualquer cidadão que presencie o ato.

Aquando da discussão da lei, já lá vão quase três anos, a pergunta que quase todos se fizeram foi se fazia sentido incluir expressamente os comentários de teor sexual no crime de importunação. Muitos foram os que na altura consideraram a medida um exagero, um atentado contra o status quo cultural, contra a liberdade de expressão e por aí fora. Para alívio das mulheres, sobretudo das mais jovens, o legislador foi categórico no enquadramento, afirmando taxativamente que "todos os comentários que sejam afirmativos, e incluam teor sexual, implicando fazer qualquer coisa sexualmente" são passíveis de figurarem crime de importunação sexual.

Ainda que consistentemente satirizada como "exagero", "histeria feminista" e até "fim da sedução", o facto é que a criminalização do assédio sexual, quer na rua quer no trabalho, foi aprovada e está aí para "enquadrar" os idiotas que acham que podem dizer ordinarices a uma mulher só porque sim.

Pessoalmente, sempre abominei de morte os piropos, sobretudo os vindos de desconhecidos a quem nunca reconheci legitimidade para tal. Por ser portadora de atributos físicos muito cobiçados pelo sexo masculino (lábios carnudos, nádegas salientes, peito cheio e cintura fina, sem falar na cor da pele), ouvi coisas que me fizeram sentir pior que uma boneca insuflável. E o facto de nada puder fazer para evitá-los era-me ainda mais revoltante. Se reclamasse, quase certo que receberia de volta insultos e, provavelmente, ordinarices ainda mais ferverosas. Daí que a única solução sensata era fingir que não tinha ouvido, apressar o passo e afastar sem olhar para trás.

O que a lei veio estabelecer – tardiamente, diga-se de passagem – é que agora não temos que passar por isso, a não ser que queiramos, claro. Agora temos voz, agora temos arma para combater uma luta até então desigual, agora temos como responder à letra: denunciando às autoridades competentes.

Agora deixamos de ser impotentes para passarmos a ser importantes. Agora a nossa dignidade, o nosso sentimento e a nossa feminilidade importam. Agora, somos pessoas e não objetos sexuais à mercê da libido e da cobiça alheia. Agora só leva com piropos quem quer!

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