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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!


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Viva!

Single mine, vai uma pausa para pormos a conversa em dia? É que quero conversar contigo sobre um assunto que venho adiando há já algum tempo: stalking, para mim uma das palavras do momento na atual conjuntura das relações interpessoais.

A maioria de nós quando ouve essa palavra associa-a automaticamente ao contexto amoroso; ora acontece que o stalking extravasa a fronteira do amor. Eu, por exemplo, há coisa de um mês, passei por uma situação perfeitamente encaixável no seu conceito, ao ponto de ter que bloquear nas redes sociais, mudar de contacto telefónico, alterar o meu percurso e afastar-me de pessoas em comum.

 

Antes de entrar em mais detalhes, convém dizer que por stalking, perseguição ou importunação gravosa (na linguagem jurídica) entende-se os comportamentos de assédio persistente que visam perturbar, atemorizar e alarmar a vítima. Geralmente, o perseguidor partilha uma ligação com a vítima e o que origina este tipo de comportamento é um "rompimento indesejado" e consequentemente, um desejo de reconciliação – que acaba muitas vezes em vingança.

O parágrafo anterior narra com uma precisão alarmante o tal episódio de que te falei há pouco e que passo a descrever da forma mais sucinta que conseguir. 

 

Durante oito meses, vivi num apartamento que pertencia a uma conhecida, a quem cheguei a considerar amiga, ao ponto de irmos ao ginásio, sairmos para a noite, trocarmos confidências e tudo o mais que costuma pautar uma relação de convivência próxima.

 

Quando me mudei para a casa dela, juntamente com outra rapariga com quem já partilhava alojamento há alguns anos, ficou acordado entre as partes que o valor da renda seria simbólico, já que nenhuma de nós tinha condições de pagar o valor do mercado: ela auferia um salário que rondava os 500 euros e eu os 400.

 

Em agosto passado essa colega acabou por emigrar, ficando eu a residir sozinha na casa. Dado que, mesmo tendo arranjado um trabalho com um salário digno, não tinha como assumir na íntegra o valor da renda, ficou assente que iria partilhar a habitação de dois quartos de dormir e dois wc’s com outro inquilino, mantendo cada um a sua própria casa de banho.

 

Ora acontece que essa pseudoamiga/senhoria, à última da hora, decide aceitar não um mas sim dois inquilinos, sendo um deles do sexo masculino, quando desde a primeira hora deixei claro que não me agradava de todo essa possibilidade. Se eu quisesse dividir casa com um gajo, arranjava um para mim, certo? Como se não bastasse, ainda teria que passar a partilhar wc, esta segunda condição ainda mais penosa que a primeira.

 

Por sentir que já não tinha condições para continuar naquela casa, tive a infeliz ideia de ser sincera com essa pseudoamiga, que também era senhoria, comunicando-lhe que tinha decidido procurar outro sítio para viver. Mama mia, o que eu fui fazer. A dita cuja, numa reação absolutamente tresloucada, gritou-me, chamou-me de tudo e mais alguma coisa (mentirosa, mau-carácter, desleal e egoísta) e deu-me um prazo de 10 dias para deixar a casa. Só faltou bater-me.

 

Como isso aconteceu no dia 21 de dezembro, poucas horas antes da minha ida a Paris, de onde regressaria somente no dia 2 de janeiro, na prática a fulana deu-me dois dias negativos (sim leste bem) para arranjar um sítio para onde ir. Não obstante todos os meus apelos, numa das posturas mais malvadas que já tive o desprazer de presenciar num ser humano, ela foi irredutível: tinha até o fim do mês para "tirar as minhas coisas e a minha pessoa da casa", palavras da própria.

 

Em pânico, e a conselho de pessoas próximas, pedi perdão (mesmo achando que não tinha feito nada de errado), praticamente implorando por um prazo razoável para deixar a casa. De nada resultou. A dita cuja queria sangue, queria castigar-me por ter-me atrevido a contestar o seu desmando, queria ver-me na merda, sem casa, sem trabalho (estava em crer ela que a partir do dia 31 de dezembro estaria eu desempregada), sem família e sem amigos a quem recorrer, ou seja, sem ninguém que me amparasse naquela hora de aflição.

 

Mesmo me sabendo junto dos meus para passar a mais sagrada de todas as celebrações, o Natal, continuou implacável na sua sede de vingança. Exigiu que alterasse a data do meu regresso de modo a cumprir o prazo dado. Quando percebeu que eu não iria abrir mão de estar com a minha família, ao invés de estar com a dela (como era sua intenção), endureceu o ataque. Passou a enviar-me mensagens cada vez mais perturbadoras, ao ponto de eu preferir dormir num hostel quando regressei à cidade por medo que me fizesse algum mal.

 

Só para teres uma ideia da psicose dela, digo-te que primeiro deu-me até 15 de janeiro para sair da casa, depois até 4 de janeiro e por fim até meio-dia do dia 3; tudo isso em menos de 24 horas. Não satisfeita, e furibunda por eu não reagir aos seus ataques, exigiu que lhe transfirisse 150 euros de "despesas que só a mim cabiam", quando o combinado foi tudo incluído no valor da renda. Pelo meio, enviava mensagens a dizer que sempre me considerou uma amiga e que me desejava tudo de bom na vida, que a minha atitude de não lhe responder às mensagens era inaceitável. Enfim... o seu assédio obsessivo assumiu tal proporção que, temendo pela minha integridade física, recorri a um advogado para me orientar no processo de apresentar queixa por assédio moral e importunação gravosa.

 

Finalmente, dois dias depois de regressar a Lisboa, no dia 4 de janeiro, deixei a casa, não sem antes receber outra mensagem a avisar-me para não “levar nada que não me pertencia”. Quanto mais desprezo eu lhe dava – nunca respondi a nenhuma das suas mensagens – mais enfurecida ela ficava e mais violento se tornava o próximo ataque. Com o passar das investidas era-me cada vez mais óbvio que o que ela queria era a minha atenção, que lhe desse munição para continuar com os bombardeios, no fundo que lhe desse um pretexto para justificar a sua postura desprezível. Queria por tudo que eu me rebaixasse ao seu nível. 

 

Na altura não percebi isso; só depois quando fui pesquisar sobre o assunto é que encontrei uma explicação científica que refere que "as vítimas passam a ocupar uma importância muito grande no espaço mental do stalker que quer a sua atenção e, por vezes, alimenta o desejo de causar dano", in Stalking - Boas Práticas no Apoio à Vítima.

 

Só que a minha atenção ela não teve e nem nunca mais terá. Em momento algum revidei nem aceitei as suas provocações; primeiro porque temia as represálias, depois porque cheguei à conclusão que de mim ela não merecia absolutamente nada além de um profundo desprezo, pelo que me fez, mas sobretudo pelo tipo de pessoa que revelou ser: abjeta. 

 

Essa psicótica, desequilibrada, histérica e conflituosa causou-se tamanho abalo emocional que estive dias e dias sem conseguir dormir nem comer. De cada vez que recebia uma sms ficava num estado de nervos que, ainda antes de me instalar na casa nova, tratei de mudar o meu número de telefone.

 

Como o texto já vai para Atlas, o resto desta estória sórdida terá que ficar para uma próxima oportunidade. Antes de me despedir deixo-te com o perfil dos vários tipos de stalkers, para que consigas identificá-los antes que te aconteça o mesmo que a mim:

- Stalker rejeitado: é o tipo mais intrusivo e com mais probabilidades de se tornar violento. Pratica a perseguição numa tentativa de reatar uma relação terminada ou de se vingar da vítima, muitas vez um/ ex-companheiro/a.

- Stalker ressentido: a sua motivação é a vingança, sendo que recorre muitas vezes a ameaças, mas raramente à violência. O objetivo da perseguição é a intimidação da vítima, que geralmente já é sua conhecida.

- Stalker em busca de intimidade: o assédio persistente decorre de um ambiente de solidão e de ausência de um parceiro. As celebridades costumam ser as vítimas mais frequentes deste tipo de stalker.

- Stalker cortejador inadequadoperseguição inadequada da vítima com o objetivo de criar um relacionamento com a mesma.

- Stalker predadora perseguição é um dos estágios iniciais da relação que culmina em agressão sexual. Este é geralmente um desconhecido da vítima.

 

Até à próxima e que o universo te livre dos stalkers!

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29 comentários

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De Sara Sarowsky a 05.02.2019 às 17:43

Toda vez que me lembro desta estória, sinto uma gratidão imensa por já não ter que conviver com essa fulana.

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