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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!


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Viva!

Sei que hoje não é dia de nos encontrarmos, mas é que há pouco aconteceu-me uma que não consigo deixar para contrar amanhã ou depois. Se não escrever sobre isso já acho que sou capaz de explodir. Deixa-me só respirar fundo, tomar um (bom) gole de água que já te conto tudo.

À hora do almoço fui ver um quarto que fica na esquina da Artilharia 1 com a Joaquim António de Aguiar. Seguindo as instruções da pessoa com quem falei ao telefone 15 minutos antes, subi de elevador até o 5º andar. Chegada lá dei de caras com uma jovem negra a limpar o hall de entrada e uma senhora loira, ladeada por um rapaz na casa dos 30, que vim a saber pouco depois tratar-se do filho.

Fui convidada a entrar na casa, não sem antes ter-me apresentado e estendido a mão em jeito de cumprimento. Reparei que a senhora me olhou dos pés à cabeça de uma forma nada discreta, mas como estou habituada a que me tirem as medidas e reparem nas minhas vestes, não liguei muito. Só depois viria eu a perceber o porquê daquele olhar.

A senhora, a beirar os 60, mandou-me sentar enquanto ia buscar "onde tomar notas". Quando voltou, munida de papel e caneta, pediu-me que lhe recordasse o meu nome. "Sara", respondi-lhe com gosto, após o qual perguntou-me a idade e o telefone. Bem que estranhei aquelas questões todas, inéditas neste tipo de situação, mas pensei para comigo que deveria ser uma forma de ela depois se organizar e decidir qual o melhor candidato ao alojamento. Nisto, pergunta-me o que tinha na cara (as borbulhas mutantes voltaram ao ataque, para desgosto meu). Lá expliquei que, quando sob stress e ansiedade, ficava com borbulhas, ao que ela retorquiu que era psoríase. Intrigada com a abordagem, deveras despropositada e inconveniente, lá expliquei que se tratava de um descontrolo hormonal, ao que ela volta a diagnosticar como psoríase. Sabendo eu que não era de todo psoríase, perguntei-lhe delicadamente se era dermatologista, ao que retrucou: "Não sou, mas percebo do assunto!", para depois acrescentar que não era contagioso, portanto escusava de ficar preocupada (no comment).

Nisto, interrompe-a o filho para lhe pedir que vá até à cozinha porque ele acabou de entornou algo (no comment, again). Depois de explicar ao marmanjo de 1,80 que estava ocupada – como se não fosse óbvio – volta ela a concentrar-se na minha cada vez mais perplexa pessoa, deste feita para saber onde morava. Depois disso, se eu estava a trabalhar e qual o horário. Quando lhe disse, cada vez mais intrigada, "horário normal, de segunda a sexta, das 9 às 18", sai-me ela com esta:
- “Como vai trabalhar para mim se já trabalha noutro sítio?”
- “Desculpe, não percebo a sua pergunta”, balbuciei eu com ar de tótó.
Repete ela:
- “Como vai trabalhar para mim se já tem trabalho?”
Ao que eu respondo:
- “Mas eu não vim procurar trabalho, vim ver o quarto!”
Ela:
- “Ahhhh! É que eu pus dois anúncios, um para o quarto e outro para empregada e eu pensei que a Sara veio para a entrevista de empregada!”.

Ainda que de salto alto, saia charuto e blusa de seda, o lugar da preta será sempre na área de serviço. Mais não digo que ainda estou a digerir a coisa!

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25 comentários

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De Cappuccino a 05.02.2019 às 19:28

Claro que desististe do quarto, verdade?
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De Sara Sarowsky a 05.02.2019 às 20:47

Ainda que fosse um palácio (o que não era o caso)
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De Marta Elle a 05.02.2019 às 21:05

A senhora em questão não parece ter o juízo todo.
Se eu tivesse posto dois anúncios, fosse lá quem fosse que me aparecesse, perguntava a qual dos anúncios vinha.
O que mais há aqui na minha zona é malta de famílias endinheiradas, mas que andam com ar de janados. E muitas vezes, as pessoas mais humildes esforçam-se por andar limpas e arranjadas.
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De Sara Sarowsky a 05.02.2019 às 21:16

Oh Elle por muito que me custe afirmar, ainda há quem só olhe para a cor da pele. Não importa o quão bem vestida estás (e eu estava, de facto), ao "Preto" (como abomino essa palavra) será sempre associado o pior cenário, o inferior, o desvalorizado. Aposto que se tivesse aparecido uma loira, de olhos azuis, ainda que esfarrada, a senhora jamais iria "pensar" que está tinha ido por causa do anúncio de empregada.
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De Urso a 06.02.2019 às 01:16

Concordo em absoluto com a marta a senhora nao pode pressupor que alguém vsi para uma vaga de emprego seja pela cor pela forma como vai vestida ou por qualquer outra razão que não a simples pergunta inicial " a que anuncio é que vem?" tso simples e assim se evitavam tantas descriminação e e tanta estupidez
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De Marta Elle a 06.02.2019 às 09:08

Talvez não. Olha que há muitas senhoras da Europa de Leste a trabalharem como empregadas domésticas.
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De Charneca em flor a 05.02.2019 às 21:36

Custa a acreditar que estas coisas ainda acontecem.
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De Sara Sarowsky a 05.02.2019 às 21:37

Triste. Ainda nem quero acreditar
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De Mia a 05.02.2019 às 21:51

….tristes pessoas que não sabem mais.
Beijinhos
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De Alexandra a 05.02.2019 às 22:44

Inacreditável como as pessoas ainda são tão atrasadas mentais... e nem disfarçam. Tristes
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De Sara Sarowsky a 06.02.2019 às 09:57

Considero pessoas assim espíritos das trevas, à procura da primeira oportunidade para deitarem cá para fora a sua verdadeira essência: maldade. Eu, por mais que tenha ficado desiludida com uma amiga, por mais ofendida que me sentisse, por mais magoada que fosse, jamais faria isso com alguém a quem até uns dias atrás arrotava afeto absoluto. Poderia não querer mais saber dela na minha vida, poderia não mais dirigir-lhe a palavra, mas prejudicar-lhe deliberada e premeditadamente jamais. Essa é a diferença entre espírito de luz e espírito das trevas. E nessa estória ficou provado quem é quem. Obrigada pelo teu comentário.
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De Urso a 06.02.2019 às 01:12

Nem sei como comentar esta situação, gostava de acreditar que essa "confusão" foi só isso mesmo mas depois de ler as perguntas despropositadas que essa senhora fez (e despropositadas em qualquer dos contextos) fico com a certeza que se trata de um caso de racismo puro e duro que não deves passar incólume e triste que na sociedade de hoje cada vês mais multicultural haja ainda lugar para estas ideias.
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De Sara Sarowsky a 06.02.2019 às 09:59

É triste, mas é a realidade. Nunca me tinha acontecido de forma tão flagrante. O querer saber o que tinha na cara e dizer que não era contagioso, já ela estava a pensar se eu poderia "infetar" a família dela. Não há mesmo compreensão para tal.
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De Urso a 06.02.2019 às 11:07

São pessoas mesquinhas felizmente tu és bem resolvida e segura e não te de deixas afectar há quem deixe
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De Mariana a 06.02.2019 às 11:20

Olá! Não sei se será a mesma ou não, mas aposto o mindinho (aliás, a mão toda) em como essa senhora já foi minha senhoria. Uma mulher completamente louca e despropositada. Não dê importância a este episódio, esta personagem tem todo um catálogo deles... Só aguentei ficar naquela casa um mês! Altamente desagradável para toda a gente que lá estava. É uma mulher completamente ridícula.
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De Sara Sarowsky a 06.02.2019 às 11:25

Olha que coisa. É bem provável que sim. O número da porta é par e começa por 4?
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De Manuel de Marques a 06.02.2019 às 13:20

§ ==> «LAVAGEM CEREBRAL - Racismo é Burrice»

Olá "Sara"!

Resumindo, muito, e Bem, já aqui foi dito, no entanto, é bom que não nos esqueçamos, que neste país de "brandos costumes" (claro por esta Europa fora os há Bem PIORES) há ainda muita gente, presumivelmente de "bem" (muito pequenino, microscópico mesmo) que são Racistas, Xenófobos, Homofóbicos e mais trinta por uma linha, encapotados e encobertos por uma aureola de "bem pensantes - intelectualmente evoluídos", em que Preto é PRETO, altamente contagioso e muito perigoso, muito pior que criminoso e assassino branco, tipo, "comunista que come meninos ao pequeno almoço" e outras pérolas do género, por isso a estes Mentecaptos, Acéfalos e Retardados Mentais, só o Combate Violento e Extermínio Absoluto, É A SOLUÇÃO..., o inverso é igualmente Verdadeiro (eu sou Moçambicano branco, sei do que falo)!!!

* - «O PRECONCEITO É FILHO DA IGNORÂNCIA.»
(William Hazlitt, in 'Sketches and Essays')

* - «O PRECONCEITO É UMA DOENÇA DO CÉREBRO.»
("Pensamento rabínico" - Textos Judaicos)

* - «PURIFICANDO-TE DOS TEUS PRECONCEITOS E DESEMBARAÇANDO-TE DA MENTALIDADE QUE TE ENGANA, TORNA-TE UM HOMEM/MULHER RADICALMENTE NOVO.».
("Carta a Diogneto" - Textos Cristãos")





https://youtu.be/WZUycmYkT6M
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De Manuel de Marques a 06.02.2019 às 15:50

«...Combate Violento e Extermínio Absoluto, É A SOLUÇÃO...», talvez aqui, possa ter sido mal compreendido, confundido até com Nazi (Outra forma de opressão), pois não fui politicamente correcto, mas no meu entender, estas "forças de expressão" que utilizei, teem de estar ao "Nível" do crime e da pouca vergonha que é o racismo..., só isso!

As minhas sinceras desculpas se ofendi, e me expressei eventualmente mal!
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De Sara Sarowsky a 06.02.2019 às 17:12

É que as suas palavras davam azo a interpretações de extrema direita
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De Mamã Gansa a 04.06.2020 às 20:32

Estou sem palavras.A senhora perguntava ao menos a que anúncio estavas a responder se tinha dúvidas. Bem eu tenho psoríase bem visível e de facto piora com o stress, ( e também já me olharam de lado por causa disso várias vezes e também não é contagiosa), mas a psoríase é uma descamação e não borbulhas e a senhora nem tinha que teimar.Mas toda a atitude foi sim preconceituosa.
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De Sara Sarowsky a 05.06.2020 às 09:35

Essa senhora, infelizmente põe a nu um fenómeno que ainda está longe de ser erradicado da mentalidade portuguesa, sobretudo na daqueles que viveram antes da descolonização.
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De Mamã Gansa a 05.06.2020 às 13:00

Não seis e já te disse fui criada em África até aos 7 anos,felizmente em Angola onde andei na escola não havia aquela aberração do apatheid, por isso na escola estávamos todos juntos e brincávamos todos juntos. Quando regressámos a Portugal, eram os mesmos que diziam que não brincavam comigo acusando-me de racista e refugiada que chamavam pretos e punham de parte estes meninos e os professores juntavam-nos na carteira.

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