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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Ora viva!
Hoje vou dar uma de La Fontaine e dedicar-te esta fábula.
Era uma vez um verme chamado V (V de verme e não de outra coisa qualquer). O Verme V, não obstante a sua condição insignificante na cadeia alimentar, achava-se dono e senhor do mundo. Só que esse mundo resumia-se a meia dúzia de bananeiras, alguns coqueiros e umas quantas samambaias, espécies cujo único pecado resumia-se a lá estarem quando o Verme V se adonou daquele território.
O Verme V era uma criatura desagrável, mal educada, arrogante e inescrupulosa, que acreditava piamente que o despotismo e a prepotência eram a melhor forma de mesclar a sua profunda incompetência e incapacidade inata para ser um bom líder.
O Verme V, sexualmente amorfo, autoconsiderava-se um presente de Eros para as restantes espécies do seu reino. Olhava para a direita e... pisca pisca. Olhava para a esquerda e... pisca pisca. Os desafortunados habitantes daquele oco e moribundo império, esses coitados, só observavam as manobras infelizes do Verme V para conseguir acasalar.
Um belo dia, uma das bananeiras pariu uma banana diferente. Com a casca menos fulva, pintinhas mais acentudas e uma bonita curvatura, a banana despertou, de imediato, a cobiça do Verme V, que – quiçá por não ter tido sorte com tudo o resto – não hesitou em tentar rastejar para cima dela.
Só que a Banana S (S de saborosa e não de outra coisa qualquer) nutria um absoluto desprezo pelo Verme V. O Verme V de tudo fez para cativar a Banana S: fez piadinhas, elogiou, insinuou, convidou, sorriu, ofereceu usucapião, Mas nada. Não havia forma do objeto da sua cobiça se render aos seus encantos.
Plenamente consciente da personalidade traiçoeira e da falta de carácter do Verme V, a Banana S fingia não perceber as suas investidas. Além de não querer se indispor, sabia ela que novas e melhores paragens a esperavam, daí que seria só uma questão de tempo até conseguir livrar-se dele. Só que o Verme V era persistente, teimoso e não aceitava uma rejeição nem desistia facilmente.
A situação foi-se arrastando, até que um dia o Verme V, subestimando aquela que ele achava ser presa fácil, resolveu que era hora de se impor, de mostrar à Banana S a força do seu poder. Acostumado a não ser enfrentado nem desafiado, qual não foi o espanto (e indignação) do Verme V quando a Banana S não se deixou intimidar e enfrentou-o bravamente, para, de seguida, abandonar a República das Bananas e partir rumo ao desconhecido, de cabeça erguida e um enorme alívio por não ter mais que aturar semelhante invertido.
A sentir-se afrontado e desmoralizado perante as restantes bananas, sem falar no despeito por uma reles fruta atrever-se a questionar a sua autoridade de soberano de coisa-nenhuma, uma terrível vingança contra a Banana S resolveu o Verme V engendrar.
Sabes o que fez o nosso anti-herói? Eu também não, que ainda não pensei nisso. Aguarda pelas cenas do próximo capítulo. Até lá, uma radiante semana.
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