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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Viva!
Por esta altura do ano são inúmeros os media a fazerem um apanhado do que se passou em 2019. Também nós devemos fazer um balanço deste ano que caminha a passos largos para o seu término. No meu caso concreto tenho a dizer que foi um dos mais exigentes de sempre, cujo primeiro trimestre proporcionou-me as experiências mais traumáticas de toda a minha vida.
Vejamos (citando apenas os episódios mais relevantes, porque se for contar tudo o que me aconteceu nestes últimos 11 meses e 13 dias tão cedo não saimos daqui 🤦♀️):
Janeiro
O ano arrancou sob uma brutal carga de tensão, ansiedade e medo. Refiro-me ao ter ficado sem teto praticamente de um dia para o outro, sem falar do assédio de que fui vítima por parte de uma pessoa por quem tinha grande estima e consideração. À custa disso, deixei de dormir e de comer e esse estado de espírito repercutiu se me no rosto, com uma crise de acne aguda sem precedentes. Caso não estejas por dentro desse drama, deixo-te com o post que na altura escrevi dando conta do sucedido.
Fevereiro
Mal comecei a recuperar do episódio traumático de janeiro, eis que perco um dos dois trabalhos que tinha na época. Além do facto de ter sido dispensada por email, enviado às dez da noite de uma sexta-feira, dando conta que a partir da próxima segunda-feira ficaria sem trabalho, logo sem fonte de rendimento, o mais traumatizante foi a desconsideração total com que o assunto foi tratado. Depois de anos a vestir a camisola, onde sempre dei mais do que recebi, foi essa a paga que recebi. O facto de sequer terem tido a dignidade de me comunicar a cessação do contrato olhos nos olhos fez-me perder a confiança e o respeito naquela que é a representante máxima da minha pátria em Portugal.
Março
A crise dermatológica atingiu o seu apogeu, ao ponto de sentir vergonha em por o nariz para fora de casa. A depressão rondava-me sem dó nem piedade e só não conseguiu levar a melhor porque estava determinada em não deixar-me abater, não obstante todo o calvário porque passava. Poucas vezes vivenciei tamanho sentimento de solidão, desamparo e desânimo.
Abril
A morte do meu pai, vítima de um ataque cardíaco fulminante, e consequente cerimónia fúnebre, foi o culminar de um trimestre emocionalmente avassalador, em que experienciei os piores sentimentos que um ser humano é capaz. Sobre isso prefiro não me alongar muito, sob pena de reviver toda essa tragédia pessoal e familiar. Abril foi também o mês em que questionei como nunca dantes o propósito da vida e o conceito de felicidade e realização.
Maio, junho e julho
Estes três meses trouxeram a acalmia necessária ao meu estado de espírito para fazer o luto, curar as feridas, lamber as cicatrizes e recuperar a alegria de viver, numa lógica "um dia de cada vez". Foram tempos de (re)aprendizagem, introspeção, reflexão, ponderação e maturação. O desgaste psíquico-emocional foi tanto que o corpo acusou um cansaço físico até então desconhecido por mim.
Agosto
O melhor mês desde há muito muito tempo, durante o qual pude desfrutar de umas merecidas férias numa cidadezinha francesa aninhada nos Pirenéus, entre o país basco gaulês e o país basco espanhol. Foram semanas inesquecíveis, em que, conforme escrevi na altura, "nas cálidas águas do oceano atlântico banhei até mais não, em lagos chapinhei pela primeira vez, em rio molhei ineditamente os pés, em piscinas mergulhei, em florestas embrenhei, no alto-mar aventurei (à procura de golfinhos), no paddle e na gaivota iniciei, ao circo (finalmente) cheguei, ao zoo e ao oceanário turismei, fogo de artifício visionei, concertos assisti, a Espanha dei um saltinho, os Pirenéus atravessei e até à Cimeira do G7 dei uma espreitadela."
Setembro
O mês da rentrée não registou grande agitação, exceto o regresso ao ginásio, que obrigou o meu património genético, confortavelmente acomodado ao sedentarismo, a um esforço extra, do qual se ressentiu durante semanas. Fora isso, foi um período tranquilo, mas deveras solitário. A ausência de uma vida social ativa é um dos itens a dedicar especial atenção em 2020.
Outubro
Tirando o anúncio, of record, de que o AS estava novamente nomeado para melhor blog (não comercial) do ano, outubro não trouxe grande alteração à rotina do mês que lhe precedeu: casa-trabalho-ginásio-casa. Mal sabia eu que o melhor estaria reservado para o fim. Foi também neste mês que tive um sério percalço: uma sessão de depilação a laser mal sucedida que me deixou ambas as pernas serveramente queimadas.
Novembro
O mês que me viu nascer ficou marcado por momentos de intensas emoções, todas elas de alegria, orgulho e reconhecimento. Logo no dia 1, arrancou a corrida aos Sapos do Ano e na sua sequência conheci uma inédita exposição mediática que me rendeu sentimentos inversamente proporcionais aos do início do ano. Foram momentos de puro êxtase, em que vi reconhecido todo o meu talento, empenho e dedicação. Foi também nesse mês que foi dado à luz o meu primeiro projeto literário, no qual participei com a prosa Quisera eu ser como tu mulher, como te dei a conhecer neste post. Novembro terminou com o meu aniversário, em que proporcionei à minha pessoa uma estada de uma noite num hotel 5*, com direito a tudo o que o corpo e a alma precisam para saciarem a sua fome de bem-estar (leia-se, sauna, banho turco, hidromassagem, spa e afins).
Dezembro
Este último mês de 2019 trouxe de volta mais algum mediatismo, bem como a perspetiva (renovada) de um segundo Sapo do Ano. Pelo dia 17– data prevista para o anúncio dos vencedores – tenho aguardado com ansiedade e pensamento positivo. Dezembro impôs-me uma reflexão profunda sobre a minha relação com a entidade para a qual exerço funções há quase dois anos. E o balanço, a bem da verdade, não foi abonatório. Do nosso DR (discutir a relação) ficou claro que voltei a dar mais do que recebia. Por isso quando me propuseram renovar nas mesmas condições, não hesitei em recusar. Convicta de que é hora de recuperar o comando da minha vida, bem como a gestão das minhas prioridades, resolvi fazer-me (novamente) à estrada da vida, desta vez focada em tornar-me autora a tempo inteiro, não só deste blog, mas também de um novo projeto literário (desta vez a solo) no qual venho trabalhando há um ano, sem nunca ter encontrado tempo nem motivação para me dedicar a fundo. A hora é essa, e tanto assim é que consegui despertar o interesse de uma editora, a qual me convidou para uma reunião no início do ano.
Ciente que a extensão desta crónica ultrapassou há muito o recomendável, termino frisando o seguinte: por piores coisas que nos aconteçam nunca devemos perder a esperança, pois dias melhores virão; sempre. No meu caso, um ano que começou da pior forma está prestes a terminar em grande. Um ano que, a princípio parecia condenado ao fracasso, acabou por se revelar espetacular.
Espero de todo o coração que esta crónica reforce em ti a convicção de que, independentemente dos seus dissabores (que podem ser inúmeros, violentos e injustos), a vida vale sempre a pena. Por mais traumático que tenha sido o teu passado, por mais desafiante que esteja sendo o teu presente, o futuro pode ser surpreendentemente generoso para contigo. Queres melhor prova que este meu testemunho?
Vou ali gozar o fim de semana e já volto. Até lá fica com aquele abraço amigo de sempre!
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