
Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Ora viva! 👋
Neste que será o último conteúdo do ano, apresento-te a nova crónica para o portal de notícias do meu país-natal, Balai Cabo Verde, na qual faço uma reflexão sobre o poder da atenção, ao mesmo tempo que lanço o desafio para, ao invés de prendas materiais, oferecermos sentimentos.
Aposto que vais gostar, já que acredito que, tal como eu, a sensibilidade seja a tua melhor conselheira. Boa leitura, Festas Felizes e até para o ano.
A festa maior da civilização moderna está mesmo à porta e variados são os desejos que queremos ver a atravessarem essa porta: reencontros, prendas, tradições, refeições, reuniões, convívios, abraços, partilhas, férias, viagens... no fundo, momentos prazerosos, capazes de renovar em nós a crença de que o amor, a comunhão e a solidariedade são tudo quanto precisamos para sermos e fazermos os outros felizes. Inebriada pela magia da época, dedico esta crónica a todos aqueles que estão dispostos a abrir o coração ao espírito de Natal.
Superada uma pandemia repentina, agressiva, restritiva e condenatória para milhares de vidas, 2022 prometia ser mais condescendente que os seus antecessores. Infelizmente, vimos goradas as nossas expectativas. Um conflito armado - inesperado, desnecessário e arbitrário - trocou-nos as voltas e restituiu às nossas mentes e aos nossos corações sentimentos que julgávamos ultrapassados: medo, incerteza, insegurança, desesperança.
Meses turbulentos (re)vivemos nós ao longo deste ano, quando tudo o que desejávamos era reconquistar a vida de outrora. Este Natal, o primeiro dos últimos dois anos em que não nos é imposto qualquer tipo de restrições, acaba por ter um sabor agridoce. Se, por um lado, recuperamos a liberdade para fazermos o que nos apetecer, irmos aonde quisermos, estarmos com quem desejarmos, por outro, vimo-nos privados da nossa liberdade financeira.
Com a inflação a colecionar recordes e as famílias a perderem poder de compra, esta época festiva está longe de ser aquela com a qual andámos a sonhar desde 2019. Em tempos de vacas magras, raquíticas para muitos, que engordem a criatividade e a solidariedade. Na impossibilidade - ou dificuldade - de podermos desfrutar da abundância e da fartura na sua plenitude, ou seja, de oferecermos prendas dispendiosas, desfrutarmos de uma mesa abastada ou irmos para perto daqueles que estão longe, ofereçamos o mais valioso de todos os presentes, aquele que nada custará e que toda a diferença fará na vida de quem o receber: atenção.
Sabias que, segundo o estudo global da Gallup de 2022, uma em cada cinco pessoas sente que não tem com quem contar; que, de acordo com o The Prince's Trust, 35% dos jovens britânicos entre os 16 e os 25 anos se sentem mais sozinhos que nunca; que o Reino Unido, tal como o Japão, criou um Ministério da Solidão para dar uma resposta concertada ao problema; e que Portugal é o 6º país europeu onde a solidão mais tem aumentado?
O parágrafo anterior é um inequívoco indício de que as pessoas nunca precisaram tanto de atenção, e que dá-la ao outro é de uma generosidade e humanidade ímpar. Oferecer é um ato de amor e o Natal mais não é do que uma festa de amor, em que cada um dá o que tem, pode ou está disposto. "Quem dá o que tem a mais não é obrigado", diz o ditado. Digo eu que "Quem dá o melhor que tem, a mais é obrigado a receber".
Quando damos o melhor de nós, pomo-nos a jeito para receber o melhor dos outros; como tal, quando dás a tua atenção, estás o oferecer o melhor de ti e a despertar o melhor no outro. Numa sociedade em que mal conseguimos ter tempo para nós mesmos, arranjar tempo para dar atenção ao outro é algo incalculável, inestimável, inolvidável.
Que não restem dúvidas de que o que realmente importa, não apenas no Natal, mas na vida, é a atenção, a intenção, a afeição, a presença. Por disso estar absolutamente convicta, desafio-te a, neste Natal, oferecer atenção, a tua atenção. A, neste Natal, oferecer intenção, a tua intenção. A, neste Natal, oferecer afeição, a tua afeição. A, neste Natal, oferecer presença, a tua presença.
Neste Natal, oferece-te! Que o (verdadeiro) espírito de Natal se faça presente na tua vida e que tu te faças presente, não somente de corpo, mas sobretudo de coração, na vida daqueles que importam. Será com toda a certeza a prenda mais valiosa que podes oferecer. Feliz Natal!
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.