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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Viva!
Conforme prometido, eis-me aqui para partilhar contigo uma crónica do Spirit_Kind, a tal alma nobre que conheci no curso de coaching espiritual. Espero que gostes da sua narrativa e que o ajudes a analisar com coerência e discernimento o que lhe sucedeu.
Chego a casa e a minha mulher pergunta-me como está a correr o curso de software para a minha empresa.
"Excelente", respondo eu. "Dá para aplicar a quase tudo", remato.
Nisto, os olhos dela fixam-se no crachá que trazia ao peito, no qual era perfeitamente visível o meu nome e o da formação.
"Com que então o software chama-se coaching espirtual?"
Ao dizer isso, afasta-se e vai sentar-se no sofá com uma cara... aquela que as mulheres fazem quando… bem, quando apanham os homens a mentir.
Parecia que o seu sorriso tinha mudado de planeta. Partiu-se-me a alma ver aquele esgar triste, que sabia eu ter sido invocado pela minha mentirinha. Nem tive coragem de dizer mais nada; tinha sido apanhado. Ficámos sem trocar palavra durante um bom tempo. Ao retirar-me para o quarto, despeço-me dela, como de habitual. Da sua boca ouço que sou um mentiroso. “Já não confias em mim, por isso escondeste a verdade de mim”, acusa-me ela.
Respondo:"Pensas que não sei que também me mentes para fumar. Não sou o único mentiroso por aqui!"
E fui-me deitar. Antes de dormir, ainda consegui reunir energia e ânimo para fazer a minha meditação noturna de todo o dia, atento ao facto do despertador tocar dali a menos de sete horas. Mais um dia do curso (da discórdia) aguardava por mim. De manhã, em plena prática da minha rotina matinal de todo dia, eis que, de repente, puff, a resposta chega pela via da intuição. Tinha de ir ter com ela e contar toda a verdade. Ela pensava que eu lhe tinha mentido porque não confiava nela. E não era nada disso. A razão do agir do homem raramente é a mulher. No meu caso era mesmo por egoísmo (será que só penso em mim???).
Passo a explicar. Eu sou uma pessoa muito ocupada e quando paguei o curso estava com saldo negativo na conta. Por estar crente de que conseguiria transformar a desmotivação para não ir em motivação para ir, lá consegui arranjar tempo e forma de acrescentar mais alguns dígitos ao já negativo saldo da conta bancária. Nada muito dramático, afinal o que são 100 euros quando comparados com a expectativa de uma transformação na nossa vida?
Para não ter que justificar o rombo financeiro, menos ainda o interesse em frequentar um curso focado no espiritual, lembrei-me de dizer que o curso era de âmbito profissional. E mais, que seria inteiramente custeado pela entidade patronal. Como temos contas bancárias separadas, pensei que ela não daria pela saída do dinheiro. Fixe! Boa desculpa, não fosse o crachá ao peito atestar o contrário. Era minha intuição contar-lhe tudo isso, de preferência ainda antes de sair de casa, por isso às 07h55 lá fui eu ter com ela. "Sabes, tenho de te dizer a verdade". E acabei mesmo por abrir o coração. Feito isso, despeço-me com um: "Tchau, volto às 22 horas". E lá saí porta fora, rumo ao meu curso, que a bem da verdade era o tudo o que me interessava naquele momento.
Ora acontece que este meu "Tchau, volto às 22 horas" não foi uma pérola, já que poderia ser interpretado como um descaso da minha parte, dando azo a que ela se focasse mais no eu ir estar ausente durante um domingo inteiro – ainda para mais num curso de coaching espiritual – do que propriamente no meu pedido de desculpas. Novo problema tinha eu agora para resolver. A meio da formação senti que devia ligar-lhe a perguntar se estava bem, dizer que se me fosse possível voltar atrás teria contado a verdade desde a primeira hora e que me preocupava com a opinião dela.
À tarde, por volta das 16 horas, lá me aventurei a pegar no telemóvel e esclarecer o mal-entendido de uma vez por todas. O desconforto dela pareceu ultrapassado, não sem o previsível "Podias ter dito a verdade. Podes confiar em mim!" Claro que sim! Claro que sei que posso confiar nela e se não o fiz foi porque não quis correr o risco de ser julgado. Assim lá me saí com uma mentirinha, que poderia ter assumido contornos mais sérios, caso não tivesse a esposa que tenho. Logo eu que detesto mentir. Uma mentirinha por mais inocente que seja será sempre uma nódoa no branco pano da verdade. Uma nódoa que se nota logo. Já passou. Está tudo bem.
Gostaria de saber que leitura fazes tu deste meu pequeno drama doméstico: procedi bem, procedeu ela bem, que terias tu feito para "dar a volta" a uma situação destas?
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