
Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Viva!
Farta de levar com palpites alheios, mudei o discurso em relação ao meu estatuto amoroso-sexual. Antes, quando questionada porque não tenho ninguém, apelava a uma série de argumentos, todos eles lógicos e politicamente corretos, contudo facilmente refutáveis pelas mentes mais persistentes, e inconvenientes, diga-se de passagem. Quase sempre, familiares mais velhos e amigos próximos que se sentem no direito de dissecar a minha vida amorosa.
Nessas ocasiões, os meus argumentos – quando ficar calada ou desconversar não era opção – não fugiam muito ao repertório da praxe: porque acreditava num amor maior; porque não queria acabar largada e com filho(s) para criar sozinha (como a esmagadora maioria das mulheres que conheço); porque não era um bom momento; porque o amor não era prioridade; porque ainda estava traumatizada com a última relação; porque não queria estar com alguém só por estar; porque tinha medo de me entregar novamente e sair magoada; porque tinha deixado de acreditar no amor; porque gostava de ser leve, livre e solta; porque estava habituada à solteirice; porque não queria levar com os cornos; porque isto; porque aquilo; porque aqueleoutro.
E assim tem sido a minha vida de desemparelhada nos últimos anos. Aliás, foi precisamente esse cenário que despoletou a criação do Ainda Solteira. Com o blog ao menos teria um espaço onde poderia assumir a minha solteirice sem sentir que estava a desonrar as convenções sociais. Agora, ao atingir as quatro décadas de vida, estou-me lixando ainda mais para a opinião alheia, inclusive daqueles a quem devo algum respeito e satisfação, como os parentes mais próximos.
O chorrilho de contra argumentos com que costumo levar a seguir é digna de registo, de tão inabaláveis que são: porque o meu prazo de validade para procriar vai-se esgotando no passar dos anos; porque mulher sem homem é como sapato sem meia; porque é um desperdício alguém com tantos predicados estar sozinha; porque todas conseguem; porque os meus irmãos mais novos já cumpriram o seu papel na sociedade; porque quando ficar velha não terei ninguém para cuidade de mim; porque "os outros" podem pensar que tenho uma relação clandestina (com algum homem casado ou, pior ainda, com outro alguém do mesmo sexo); e por aí fora.
Por mais que se tente, não há volta a dar à coisa: volta e meia, leva-se com este tipo de cenas. E a não ser que sejamos estúpidos ou indelicados, convém ser criativo nas justificações. Ainda ontem, assisti a mais um episódio da saga Porque Estás Solteira. Só que aí saiu-me uma resposta que até eu tive que tirar (mentalmente) o chapéu à minha adorável pessoa. Ei-la: "A esta altura do campeonato, ter um homem na minha vida depende unica e exclusivamente da beleza dele. Se a beleza for física, como e vou à minha vida. Se a beleza for monetária, como e faço a minha vida". Havias de ver a cara da fulana. Até eu tive uma nesguinha de pena dela.
Perante o meu despudor em assumir-me como uma libertina assanhada ou uma mercenária descarada (dependendo para que lado pendia a beleza do macho alfa), a minha situação amorosa deixou de ser tema do seu interesse. Ficou claro que para ela, pior do que eu estar sem par, é conviver com a ideia de que a pessoa ao seu lado (neste caso, eu) deixou-se corromper pela libido ou pelo materialismo.
Por ter constatado que a minha resposta acertou na muche, fica lacrado que, a partir desta data, esta solteira aqui só quer saber de homens com muita beleza. Fica a saber quem não tem um físico espetacular ou uma conta bancária recheada que nem vale a pena estar a nutrir pretensões para com a minha pessoa, pois não terá a mínima chance. Agora já não há cá essa estória de amor. Dos homens eu só quero a beleza. E tenho dito!
E com esta me despeço com um até à próxima!
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.