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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Um brilhante texto da Nat Medeiros, publicado domingo no Já Foste, a propósito de se estar solteira. Como indentifico-me totalmente com ele, sem falar que tem tudo a ver com o alinhamento deste caderno digital, é com todo o gosto que o partilho contigo.
Eu sei que isto pode parecer um tanto contraditório. Mas calma e senta-te que eu explico. Também quero deixar claro que não estou a querer dizer que quem está a namorar não acredite no amor. Só estou a dizer que eu estou solteira porque acredito no amor.
Estar solteiro nem sempre é uma escolha. Eu mesma já estive solteira mesmo querendo o contrário. Mas a vida é isso mesmo… Querer e nem sempre ter. Só que hoje, após tantas situações, eu escolhi não estar num relacionamento apenas por estar; e escolhi isso com toda a minha alma e coração.
Quando a pessoa não me tratou com respeito, eu escolhi ficar solteira porque eu acreditava no amor e eu sabia que amor não era aquilo. Quando o outro me proibiu de viver, eu escolhi estar solteira porque eu acreditava no amor e o amor não era aquilo. Quando o outro falou demais de si e não quis ouvir-me, ou quando ele falou de menos e omitiu que tinha uma namorada… Em inúmeros casos, eu escolhi estar solteira porque eu acreditei que o amor estava longe de ser aquilo.
Acontece que muitas pessoas se acostumam com migalhas, com relacionamentos abusivos, com traições e descaso e acham que sacrifício é amor. Aceitam qualquer coisa que lhes ofereçam e esquecem do próprio valor.
Não acho que dominemos os nossos sentimentos, mas nós temos que aprender a levantar-nos da mesa quando o amor não está mais a ser servido. Nós temos toda e total capacidade de fugir das armadilhas disfarçadas de 'Amor'. Na verdade, nós temos mais que a capacidade de fazê-lo. Nós temos é a OBRIGAÇÃO. Somos responsáveis pelas nossas escolhas e decisões…
Há algum tempo, apaixonei-me. Apaixonei-me de tal modo que comecei a sonhar acordada e escrever poesias. Paixão é tórrida, uma coisa meio urgente, algo que não sabe esperar. Paixão é igual a uma criança: quer porque quer, deita no chão e esperneia.
Eu não tinha olhos para mais ninguém, essa era a verdade. E eu não tinha como mudar esse sentimento. Fugir do que eu estava a sentir era como fugir de mim mesma. Só que há algo muito bom na paixão: ela por si só é fugaz. O véu da ilusão sempre cai. Paixão é um fogo que não se sustenta sozinho. Ou se transforma em amor ou acaba. Transforma-se em amor quando há reciprocidade, quando há conquista contínua, respeito e admiração por quem está ao nosso lado. Mas se o respeito acaba, se a vontade de conquistar termina, se os argumentos se tornam fracos… até o desejo diminui. A paixão é frágil porque não é construída em cima de alicerces sólidos e sim em cima de desejo, atração, situação… E tudo isso pode acabar bem rápido.
O meu coração foi desapaixonando dessa tal pessoa. Nada mais naquela "relação" me fazia suspirar. O prato que antes me atraía já não me era mais servido. E eu resolvi afastar-me daquilo porque eu acreditava no amor e eu sabia que aquilo que eu estava a viver e a sentir estava longe de ser amor. Era dor, carência e apego. E então eu optei mais uma vez por ficar solteira. Fácil não foi, mas foi o que me permitiu cair fora de algo ilusório.
Por ser uma romântica e acreditar no amor, eu tenho me tornado mais exigente. Amor não sobrevive e nunca sobreviveu com falta de consideração, falta de interesse real na vida do outro e muito menos com falta de respeito.
Amor não nasce de conversa fiada nem de ausências seguidas de aparecimentos repentinos. O amor está naquilo que é constante. Para haver amor é preciso sintonia também. Sintonia das ideias. É preciso admirar quem está ao nosso lado. É preciso ser amigo, parceiro, companheiro. Não que eu exija um tipo específico de pessoa para amar.
Muito pelo contrário, eu quero mais é que a vida me surpreenda. Mas eu exijo que para estar ao meu lado, o outro esteja não só disposto a receber mas a oferecer também.
Então, quando alguma tia, algum colega ou quem quer que seja me diz: "Então, tu és tão interessante, inteligente, simpática, bonita… Porque estás solteira?". Eu apenas respondo: "Eu estou solteira porque eu acredito no amor".
E assim permanecerei até que um dia apareça aquele alguém que faça o meu coração acelerar, e as pupilas dilatarem e que, sobretudo, decida ficar. Até que apareça aquele alguém com quem eu vou ter tanta sintonia e conversa que o relógio perderá a sua utilidade quando estivermos juntos. Até que apareça aquele alguém que esteja disposto a respeitar e a aceitar os meus defeitos, medos, qualidades e a minha essência. Corpo com Corpo. Mente com Mente. Alma com Alma. Coração com Coração.
Mas enquanto ele não vem, eu sigo solteira. E eu sigo solteira porque eu acredito no amor.
Está tudo dito!
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