Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!


23
Jun21

people-3104635_1920.jpgOra viva! ✌️

Hoje trouxe a minha última crónica para o Balai Cabo Verde, publicada ontem. Boa leitura e, mais do que isso, boa reflexão.

A notícia do falecimento de uma colega da faculdade, no auge dos seus 40 anos, vítima de um tumor cerebral, a par de tantas outras - demasiadas - de que vou tomando conhecimento, impele-me a dedicar esta crónica à vida, mais concretamente ao desfrutar dela, sem adiamento, culpa ou pudor.

Este despertar de consciência arrancou há pouco mais de dois anos, com o desaparecimento físico do meu pai, vítima de doença súbita, fulminante, fatal. Pessoa de trato fácil, sorriso constante e alegria contagiante, partiu aos 63 anos, a escassos meses de alcançar a tão ansiada reforma. Para esse momento marcante na vida de qualquer trabalhador tinha ele planeado dedicar-se à vida do campo, viajar, passear, ou seja, curtir a vida, na convicção de que para isso tinha feito durante quase quatro décadas.

É neste contexto que, após meses e meses de reflexão, ponderação e procrastinação, tomei a decisão de passar a desfrutar (ainda) mais da vida. O primeiro passo para a concretização desse objetivo foi a desvinculação do emprego por conta de outrem. O derradeiro passo será a mudança, em breve, para um novo país. Estar mais próxima daqueles que amo e beneficiar do contacto permanente com a natureza - sobretudo o mar, que eu tanto adoro - é o que mais desejo a esta altura da vida. Mais do que fama, sucesso, dinheiro ou até mesmo amor.

Esse acontecimento, marcante na vida de qualquer pessoa que perde um ente tão próximo, veio por a nu algumas questões para as quais estava consciente, ainda que sem assumir uma posição firme. Até que chegou uma altura em que adiar a decisão de mudar de vida deixou de fazer sentido. O último ano veio apenas dar o empurrão final para uma tomada de posição, definitiva, irrevogável.

Para a costa gaulesa pretendo eu rumar, atrás de um sonho (possível) de uma vida pacata, num sítio tranquilo, longe do rebuliço e do stress de uma capital. Só assim conseguirei estar mais conectada com a minha essência, mais alinhada com a vida que realmente desejo, mais consciente de que o que realmente importa são os momentos que vivemos, as pessoas que amamos, os lugares que visitamos, os corações que tocamos, as experiências que vivemos.

Vivemos tempos conturbados, a todos os níveis e em todas as esferas. A pandemia mais não fez do que agudizar um quadro há muito precário e incerto. Sempre ouvi dizer que a certeza de que estamos a envelhecer chega quando assistimos à morte de pessoas conhecidas. Pela quantidade de conhecidos cujo passamento vou acompanhando, cada vez mais pesarosa, é caso para dizer que me sinto à beira do centenário.

Afinal, quem melhor do que a morte, a mais contundente de todas as certezas, para nos fazer lembrar que da vida só levamos o que vivemos? Haverá sempre outra oportunidade, outra amizade, outro amor, mas nunca outra vida, daí que jamais deixe passar uma oportunidade para aconselhar, para alertar: amemos hoje, perdoemos hoje, beijemos hoje, abracemos hoje, demonstremos hoje, vivamos hoje. Devemos fazer tudo hoje, não deixar nada para amanhã. Porque somos instantes e num instante deixamos de ser.

Autoria e outros dados (tags, etc)


5 comentários

Sem imagem de perfil

De Eugénio a 23.06.2021 às 10:27

que bouquet tão bonito :)
Imagem de perfil

De André a 23.06.2021 às 10:56

Uma história que nos faz parar e pensar no que realmente é importante enquanto passamos nesta vida.
Muita força no caminho que está a fazer e que continuaremos a acompanhar.
Imagem de perfil

De Sara Sarowsky a 23.06.2021 às 11:04

Bom ler o teu comentário. Nunca fui pessoa virada para o “ter”, mas agora só quero saber de “ser”. Abraço 🤗
Imagem de perfil

De André a 23.06.2021 às 13:05

"Ser" em vez de "ter", em vez de "fazer". Abraço

Comentar post



Mais sobre mim

foto do autor


Melhor Blog 2020 Sexo e Diário Íntimo


Melhor Blog 2019 Sexo e Diário Íntimo


Melhor Blog 2018 Sexualidade





Pesquisar

  Pesquisar no Blog

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D