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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Viva!
Depois de quase uma semana sem dar as caras por aqui, eis-me de volta ao teu convívio. Por estes dias o tempo anda tão minguado que me foi de todo impossível reunir as condições desejáveis à boa escrita. Caprichosa como ela só, a vida tem dessas coisas: quando é para acontecer vem tudo em catadupa, sem hora marcada.
O tempo livre, até então dedicado em regime de exclusividade ao Ainda Solteira, sofreu uma drástica redução. Como mais vale tarde que nunca, parece que é desta que, finalmente, me tornarei uma orgulhosa portadora de outro cartão rosa, só que que desta vez emitido pelo IMT, em vez do SEF.
Diz-se que à terceira é de vez, por isso não tenho desculpa, dinheiro e muito menos descaramento, para não picar o ponto na escola de condução durante as próximas semanas.
Como uma mudança (seja ela boa ou má) de solitária só acusa uma costela, estou de malas, caixas e sacos aviados rumo a um novo código postal. É, meu bem, depois de década e meia, vou deixar os domínios da Estefanilândia. O que me consola é que a separação será uma mera questão de localização geográfica, já que faço questão de manter-me por perto, não vá o bairro entrar em depressão por saudade minha.
Agora que já te fiz um breve apanhado do que tem sido a minha rotina nos últimos dias, permita-me partilhar contigo a estória do Bruno M., um militar da marinha e bombeiro voluntário que rompeu com o espartilho social do preconceito e assumiu a sua paixão (e talento) pela arte do bordado em ponto cruz. Sim, leste bem!
Porque a arte não deve (nem pode) ter género e porque sei reconhecer uma boa oportunidade para chegar aos meus leitores masculinos, fica aqui o poderoso testemunho de quem fez de um passatempo pouco comum uma forma de estar na vida e na sociedade.
Ola, bom dia.
Sou o Bruno, tenho 36 anos, sou casado, tenho dois lindos filhos, um de dois anos e meio e outra de cinco anos. Sou militar da marinha há 16 anos, sou bombeiro voluntario, sou pai, marido e tudo o mais que um homem com família é. Mas para além disso tenho um "hobbie" muito pouco comum para um homem: faço ponto cruz…
Projeto este que começou com uma simples oferta a um familiar há cerca de sete anos e aos poucos foi crescendo, ao ponto de atualmente eu ter o certificado de artesão do IEFP bem como a UPA (Unidade de Produção Artesanal). Todo este projeto é dividido a dois, pois a esposa também faz parte dele.
Este meu mail vai ao encontro de duas ideias nossas: levar este nosso projeto o mais longe possível e desmistificar que fazer ponto cruz é só para senhoras.
Somos criadores de muitas peças de designer único (a esposa é formada em designer de equipamentos), bem como outras personalizadas ao pormenor. O cliente pode pedir tudo ao seu gosto. Fazemos de tudo um pouco, pois só assim angariamos alguns euros para desenvolvermos os nossos projetos mais arrojados. Como pegar numa cadeira com mais de cem anos e bordar ponto cruz no acento em palhinha de origem.
Durante estes sete anos andei sempre escondido atrás da nossa marca 'Bis Ponto Cruz', pois tinha medo que as pessoas me descriminassem, o que, de facto aconteceu algumas vezes. Mas aos poucos os amigos foram passando a palavra, ao mesmo tempo que iam dando apoio no sentido de eu olhar em frente e falar abertamente desta minha paixão. O maior salto foi dado quando fomos contactados para irmos a um programa de televisão. De início, recusámos o convite, mas, também aí, os amigos fizeram grande pressão no sentido de darmos a cara e falarmos abertamente do assunto. Foi aí que decidimos avançar e "dar o corpo às balas" pelo nosso projeto e eu sair da sombra da marca e avançar sem medo.
Nesse sentido estou aqui a dar a conhecer um pouco o nosso projeto e a saber em que sentido nos pode ajudar a chegar mais longe. Estamos de mente aberta e recetivos a todas as propostas."
Agora que te inteiraste do caso na íntegra, é fácil perceber porque não poderia deixar de atender ao apelo do Bruno. Afinal, a causa é nobre e a diginificação das escolhas menos convencionais uma prioridade para este blogue.
Noite feliz e uma ótima Semana Santa!
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