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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!


03
Out22

Até sempre papá!

por Sara Sarowsky

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Ora viva! ✌️ 

Com toda a certeza, já deves ter reparado que raramente falo da minha família. Bons motivos tenho eu para tal, acredita em mim. Na próxima crónica para o Balai Cabo Verde, a sair daqui a uma semana, levanto um pouco mais o véu sobre esta questão.

Mesmo zelando pela discrição em relação à minha vida privada, há coisas que não tenho como deixar de partilhar, como é o facto de já não ter pai vivo, e cujo falecimento dei conhecimento no post Hoje faço a viagem mais triste da minha vida.

É justamente a ele, ao meu saudoso progenitor, que dedico esta crónica, em forma de carta, à semelhança das incontáveis que lhe escrevi ao longo das mais de três décadas apartados pela emigração. Como sou pessoa de celebrar a vida, e não a morte, reservei a homenagem para o dia em que nasceu e não para o dia em que desapareceu, como faz tanta gente.

Papá,

Hoje são os teus anos, parabéns! No dia 3 de outubro de 1954 vieste ao mundo, com o firme propósito de o tornar um lugar mais divertido, animando todos aqueles que tiveram a sorte de cruzar o teu caminho. Essa característica herdei de ti, também sou assim, por onde vou faço questão de espalhar alegria e boa disposição. Obrigada por me ensinares como deixar marcas no coração dos outros.

Foste embora de repente, sem anúncio nem despedida. Além da saudade, imensa, infinita, eterna, ficaram os risos que não partilhamos, as paródias que não fizemos, as palavras que não dissemos, os perdões que não pedimos, o orgulho que não superamos, os abraços que não demos, o amor que não declaramos. Ficou também por dizer que sempre foste o meu herói, o amigo das brincadeiras, aquele que fazia da nossa vida uma festa sempre que por perto estava.

Em criança, era contigo, e só contigo, que as minhas irmãs e eu íamos à Praínha, comíamos fora (sempre churrasco) e visitávamos a tua família "la fora". Convivemos pouco, como o lamento, mas a vida tem dessas. Em busca de uma vida melhor para todos nós, partiste para longe, tinha eu 8 anos. Desde esse dia, que só te via uma vez por ano (quando desse para ires à terra ver os teus), e nunca mais do que durante quatro semanas, quase sempre coincidente com o período de Natal.

Mesmo por tão pouco tempo, eram os tempos mais felizes. Eram os tempos do Lindinho ou Lindos Melia, como carinhosamente eras tratado. Para além das tão ansiadas prendas que trazias na mala, era a tua presença a mais desejada. Garboso e charmoso, eras um chamariz por onde passasses. De porte atlético, com uma vaidade que eu tão bem entendo e uma boa disposição constante, não havia quem te resistisse. Afável e nada violento (não fazes ideia de quão grata te sou por isso), com todos te relacionavas na base do respeito e da brincadeira.

De ti herdei a predisposição para ser feliz, e pelo caminho fazer os outros felizes. Porque na vida é o que mais importa: as pessoas que cativamos, os corações que tocamos, as almas que inspiramos. Não foi por acaso que, no teu funeral, eu tenha visto catraios a chorar baba e ranho a tua partida. Digo partida e não perda, porque não te perdemos, apenas partiste para outro plano, onde quero acreditar que tenhas conquistado um lugar no regaço divino.

Tanto mais tenho para te dizer, para te transmitir, só que tratando-se de um desabafo público, convém que o resto seja dito no silêncio do pensamento. Termino dizendo que guardo-te no coração, que tenho-te como a minha maior inspiração, o meu maior orgulho, o meu amor maior.

Beijo 💋 em ti e até sempre meu querido papá!

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