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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!


21
Nov18

IMG_6970.JPGViva!

Só agora – passados três dias – decidi pronunciar-me publicamente sobre o acidente na estrada nacional 255, que liga Borba a Vila Viçosa, no Alentejo. Dois motivos me impediram de fazê-lo antes: consternação e alívio. Confusa? Já explico, mas antes deixa-me contextualizar o assunto.

Para quem não está inteiramente a par, partilho um pequeno excerto de uma notícia a propósito: "Esta segunda-feira, 19 de novembro, pelas 15h45, houve um aluimento de um troço da Nacional 255, que provocou a queda de dois veículos civis para dentro de uma pedreira com 50 metros de profundidade e o deslocamento de uma retroescavadora com o maquinista e auxiliar."

A esta altura da leitura deves estar a perguntar o que é que o c* tem a ver com as calças. Ora acontece que há apenas três semanas estive precisamente naquela zona, tendo transitado por aquela mesma estrada (quatro vezes, para ser mais precisa), tendo inclusive visitado aquela pedreira.

A propósito de uma visita técnica à zona dos mármores, a 27 de outubro, lembro-me (como se fosse ontem) do grupo passar por aquela estrada, num autocarro de 34 lugares, e da engenheira responsável ter comentado sobre a perigosidade da via, dizendo com todas as letras que aquela estava para ruir a qualquer momento e que seria preciso acontecer uma desgraça para que alguém tomasse uma providência. Lembro-me, inclusive, do motorista ter perguntado, meio a brincar meio a "trelicar", se iríamos despencar por ali abaixo, após o qual um dos geólogos que nos acompanhava (que agora foi chamado à baila para dar o seu parecer sobre uma fatalidade por ele anunciada faz tempo) responder que ainda ia demorar algum tempo até tal suceder. Mal sabia o engenheiro que esse "algum tempo" resumia-se a uns míseros 18 dias.

Imagina tu qual não foi o meu espanto – e choque – ao tomar conhecimento que o pior tinha realmente acontecido. Nem queria acreditar, e as pessoas que estiveram comigo nesse dia ficaram tão ou mais atordoadas com a notícia. Genuinamente abalados pela tragédia e profundamente sentidos com as vidas humanas ceifadas, o sentimento de alívio que nos assola é inebriante; infinitamente mais forte que a nossa comoção pela dor alheia.

É nestas horas que constatamos o quão maquiavélica pode ser a vida, com a alegria de uns a representar a tristeza de outros. O nosso alívio por não ter sido conosco é inversamente proporcional à dor daqueles que perderam os seus entes queridos.

Fiquei de tal forma abalada que a imagem daquela estrada não me sai da cabeça, por mais que tente. Revejo-a vezes e vezes na tentativa de me consciencializar da sorte que tivemos por aquilo ter acontecido esta segunda-feira e não há três sábados atrás. Desta foi por pouco!

Até à próxima, altura em que conto trazer-te uma crónica bem mais descontraída!

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59 comentários

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De Maria a 22.11.2018 às 17:01

Quando caiu a ponte de entre-os-rios tinha lá passado no fim de semana antes. Percebo-te porque sei que andei uns tempos com aquilo no pensamento, incrédula claro.
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De Maria a 22.11.2018 às 17:54

Claro e mesmo tantos anos depois, sempre que lá passo é inevitável não me lembrar do choque que foi ver aquela notícia.
Nem tanto por lá ter passado algumas vezes, mas pela segurança que uma pessoa anda sem saber dos perigos...
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De Sara Sarowsky a 22.11.2018 às 18:03

É mesmo. Ainda bem que estamos aqui para contar isso.
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De Charneca em flor a 22.11.2018 às 22:29

Realmente, que situação. Imagino o que deves ter sentido. Aconteceu-me algo parecido quando caiu a ponte de Entre-os-Rios. Tinha lá passado uns meses antes. E aquela zona de Borba e Vila Viçosa também conheço bem. Começamos a duvidar da segurança de todas as nossas estradas, pontes ou viadutos.
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De Sara Sarowsky a 23.11.2018 às 09:32

Outro testemunho, cujo destino cruzou-se com aquela estrada. Obrigada pela partilha.
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De José Coelho a 22.11.2018 às 23:21

Foi mesmo por pouco, mas a vida é mesmo assim, recheada de boas e de más surpresas. Resta pensar que lição tiramos de tudo isto que aconteceu, porque motivo não houve diligências no sentido de melhorar esta estrada, é preciso sempre acontecer uma desgraça para se fazer alguma coisa neste país. Esperemos que tomem consciência de uma vez por todas e façam algo para melhorar as infraestruturas do nosso país.
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De Sara Sarowsky a 23.11.2018 às 09:36

A lição que eu tirei de tudo isto é uma imensa gratidão. Agora o que quem de direito tirará só o futuro o dirá. Cheira-me que continuará tudo na mesma.
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De André a 25.11.2018 às 09:26

Impressionante, é preciso mesmo acontecer algo com um impacto grande para ter "toda" a atenção.

São estes momentos que nos fazem questionar, e perceber o quão efémero é a nossa vida.

Força e coragem!
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De Sara Sarowsky a 25.11.2018 às 09:43

Obrigada André. Quando deixei de ver as notícias, o aperto no peito foi-se afrouxando. Longe dos olhos...
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De Anónimo a 25.11.2018 às 15:57

Todas as pessoas que não tomaram devidas providências necessárias e sabiam que
esta estava em risco de ruir têm uma cota parte de iresponsablidade.Nuno
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De blackened a 25.11.2018 às 21:18

Wuuuuuuuut??? Esse senhor que disse que isto ainda ia demorar a acontecer era geólogo ou engenheiro?? E disse isso???!! Há 10 anos que andam os geólogos e os engenheiros a fazer avisos sobre o perigo da estrada... Eu por acaso sou formada em engenharia geológica, custa-me mesmo acreditar que alguém da área, supostamente com conhecimentos específicios sobre as condições geológicas daquela zona, tenha dito tal coisa... mesmo sendo um dos profissionais responsáveis pelas obras, e compreendendo que poderia estar a tentar tranquilizar os visitantes, opá, realmente afirmar com tanta segurança que ainda ia demorar algum tempo, quando bastava a alguém simplesmente olhar para aquele aparato para perceber que as coisas não estavam assim tão seguras quanto isso... mais valia ter estado calado.
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De Sara Sarowsky a 26.11.2018 às 09:36

Acredites ou não, este engenheiro geólogo esteve envolvido em estudos sobre aquela zona, tendo sido, inclusive, entrevistado na semana passada, justamente a propósito desta tragédia. Acredito que ninguém (os profissionais, os políticos e os transeuntes) quiseram acreditar na iminência do perigo. Essa é que é essa. Obrigada pelo teu achega.
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De Lígia Fernandes a 25.11.2018 às 23:01

É preocupante e chocante! Mas afinal quem cuida de nós? Estamos entregues a quem?
Os meus sentimentos às famílias.
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De Sara Sarowsky a 26.11.2018 às 09:37

Pelos vistos, estamos entregues ao destino e a Deus, para quem acredita.
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De manuel machado a 26.11.2018 às 10:11

Ninguém é responsável!!!
O Primeiro-Ministro a atirar as culpas para o Presidente da Câmara e táo fácil!
O Presidente da Câmara pretence a um movimento de Cidadãos independentes, se fosse de um partido! a coisa já seria assim!!!
Viva a república da inresponsabilidade!!! vivam todos os políticos!!! e eu não sou contra os políticos. Mas sou contra os inresponsáveis, ocupem eles os lugares que ocupem!
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De Sara Sarowsky a 26.11.2018 às 10:39

Estou contigo MM. Infelizmente, assim é e penso que continuará a ser por muitos e longos anos.
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De Nuno a 26.11.2018 às 16:04

I felizmente o que se advinha a aconteceu é ceifou vidas infelizmente mais una vez apesar dos muitos alertas nada foi feito felizmente não te tocou a ti
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De Anónimo a 26.11.2018 às 17:36

É UMA VERGONHA NACIONAL
NAO SE REPARAR QUANDO SE TEM QUE REPARAR
NÁO É DEPOIS DE TEREM FALECIDO 5 OU 6 PESSOAS E MAIS
SE PASSASSEM NA ALTURA
A CULPA É DO PRESIDENTE DA CAMARA QUE É O CHEFE
DA PROTECÇÃO CIVIL, ENTÃO ESTÁ NUMA ACTA QUE TEM QUE
AGRADAR A 3 OU 4 SENHORES DOS MÁRMORES E NÃO FECHA A ESTRADA TENHA VERGONHA A CONSCIENCIA DELE DEVE ESTAR É PESADA
PAZ AS SUAS ALMAS DOS QUE INFELIZMENTE PARTIRAM
ELES SALVARAM OS QUE PASSAVAM ALI TODOS OS DIAS
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De Sara Sarowsky a 26.11.2018 às 17:53

Infeluz mente, assim é. Contudo, existem mais entidades com responsabilidade na matéria que sacudiram a água do seu capote. Obrigada pelo teu comentário.

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