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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!


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Viva!

Não há coincidências! E a prova é que, depois da minha passagem (ontem) pela Feira do Livro de Lisboa, chega-me à vista (hoje) o resultado de uma sondagem levada a cabo em 13 países que concluiu que as pessoas que leem regularmente (71% dos inquiridos) são bem mais felizes que o resto da população que não o faz.

De viva voz, confirmo tal coisa. Desde a minha mais tenra idade que me recordo de gostar de ler. Lia tudo que me viesse parar às mãos. Quando digo tudo é mesmo tudo. Quando a nada mais conseguia deitar a mão, até à Bíblia me fazia, logo eu que de crente não possuo uma única molécula.

Na minha meninice em Cabo Verde não havia televisão por cabo, muito menos internet. Na verdade, mal havia televisão, e a que havia, um único canal público, só transmitia das 18 às 23 horas. Assim, a leitura, a par das brincadeiras de rua com os vizinhos, era o meu único divertimento. Por isso, lia, lia e lia.

Lia de tal maneira que quando chegava o início das aulas, já eu tinha devorado o conteúdo de todos os manuais escolares. Fui a melhor aluna do meu liceu a história e a política e uma das melhores a geografia e fisico-química à conta disso. Nas férias grandes, sem nada mais para fazer, pegava nos livros e ia lendo, como forma de passar o tempo e matar o enfado de semanas intermináveis de reclusão domiciliária forçada.

Devo ser das poucas criaturas deste planeta para quem as férias grandes eram temidas ao invés de ansiadas. Rezava para que acabassem logo. Isto porque passava três meses enfiada em casa, só saindo para ir ao mercado, fazer recados, visitar parentes e pouco mais. Nem à praia (tão bela, tão morna e tão perto) me era permitido ir. Viajar então… era coisa que só constava do meu imaginário.

Portanto, o meu único entretenimento a solo era a leitura. Chegava a ler dois romances por dia. E à noite, quando a minha mãe me obrigava a desligar a lâmpada por ser tão tarde, passava madrugadas inteiras a ler à luz de vela, com a cabeça coberta com o lençol, que era para ela não se aperceber da sombra da chama.

Vibrava a cada novo livro. Cheirava, apalpava, folheava e delirava perante a expectativa de uma nova estória, um novo capítulo, novos personagens, novas tramas. Quando vim para cá, continuei a cultivar essa paixão. Todo o santo sábado lá ia eu a caminho da Feira da Ladra para adquirir mais livros. Romance, banda desenhada, infanto-juvenil, didático e mistério eram os meus géneros preferidos. Era tão cliente assídua que cheguei a um ponto em que já nem comprava mais, trocava antes por novos exemplares.

De regresso à base, concluída a missão que me trouxe a terras lusas – tirar a licenciatura – a única carga que despachei por via marítima foi uma enorme caixa de livros, que ainda hoje conservo com o maior cuidado na casa que me viu crescer, do lado de lá do Atlântico.

Atualmente, um dos meus maiores lamentos é já não ler com assiduidade. A bem da verdade, não me lembro sequer da última vez que li um livro do princípio ao fim. A televisão e a internet, a par do meu próprio desleixo, são as grandes vilãs desta estória com um final infeliz, mas que pretendo a curto prazo converter num happy end.

A estada no Parque Eduardo VII parece que acordou o bichinho da leitura, adormecido há muito tempo, demasiado até. Tanto assim é que hoje lá pretendo voltar, não só para adquirir mais uns quantos exemplares para a minha coleção de cabeceira, mas também para me deliciar com aquelas porcarias gastronómicas que tanto dano causam à silhueta mas que tão bem fazem à alma.

Só desta vez. Porque é sexta-feira, porque está um calor descomunal, porque feira rima com gula e porque da vida só levamos o que vivemos.

Aquele abraço amigo de sempre!

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8 comentários

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De Rute Justino a 02.06.2019 às 16:28

Ler faz bem à saúde não tenho qualquer dúvida disso!
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De Luísa de Sousa a 03.06.2019 às 18:21

Aí está uma das razões porque sou muito feliz!!!
Adoro ler!
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De Sara Sarowsky a 03.06.2019 às 18:24

Como adorooooo 🥰🥰🥰gente que se assume feliz 😁, sem qualquer pudor. Obrigada 🙏🏾 por me lembrares o quão bom isso é 😘
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De Ana Mestre a 06.06.2019 às 14:47

Adoro livros ... não vou á feira do livro para não ficar com o orçamento em perigo !
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De Sara Sarowsky a 06.06.2019 às 16:08

Boa estratégia Ana. Porque não ires e deixares o multibanco em casa e só levares uma quantia razoável? Pensa nisso
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De Amélia a 10.06.2019 às 09:42

Também gosto muito de ler, mas já não tenho espaço em casa. Passei a usar os empréstimos, as bibliotecas e os clubes de leitura, onde podemos largar os livros lidos e que não queremos guardar e trazer outros mais fresquinhos.
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De Sara Sarowsky a 10.06.2019 às 11:13

Está é uma boa estratégia. Tenho que adotá-la 😉
Obrigada 🙏🏾 pelo teu comentário e um bom feriado

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