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Crónicas, contos e confissões de uma solteira gira e bem resolvida que não cumpriu o papel para o qual foi formatada: casar e procriar. Caso para cortar os pulsos ou dar pulos de alegria? Provavelmente, nem uma coisa nem outra!
Não há alergia (sim, ando, novamente, a braços com uma violenta reação alérgica, ao que tudo indica a um medicamento), braço paralisado (por causa deste novo trabalho tenho tido preocupantes episódios em que perco totalmente a sensibilidade do braço direito), cansaço (depois de mais uma extenuante noite, desta feita dedicada em exclusivo a inventário e auditoria), desmotivação, preguiça ou outro motivo qualquer que me tem impedido de aqui vir com mais frequência que me impeçam de expressar o que me vai na alma neste dia em que o mundo, e eu, voltou a testemunhar novo acontecimento, impensável até um dia atrás.
Choque, incredulidade, preocupação e repúdio são apenas algumas das palavras que me vem à cabeça toda vez que me lembro que o Donald Trump – Trash, para mim – é o novo presidente eleito dos Estados Unidos. E o que mais dói é que ele foi democraticamente eleito. Como é possível?
Tu que me segues há já algum tempo sabes que não sou muito dada a trazer politiquices para este blog, até porque acredito que existam sítios melhores e pessoas mais qualificadas para tal. Sem falar que o mote deste é outro, a solteirice.
Aprecio convictamente a política, a ciência e não o sistema, convém ressalvar. Para desgosto meu tenho acumulado desilusão atrás de desilusão com o estado atual do panorama político, dentro e fora de portas. O sucedido neste histórico dia 8 de novembro de 2016 é, a meu ver, o atestado-mor do estado periclitante e desnorteado da política que se faz nos dias de hoje. O que o mundo assistiu na madrugada desta quarta-feira é demasiado importante (e grave) para não ser merecedor de um post.
Depois do Brexit, que não acreditei ser possível, hoje a minha alma volta a apalermar-se e o meu espírito de cidadã deste mundo global e sem fronteiras volta a vivenciar novo fenómeno estapafúrdio.
Alguém consegue fazer-me entender como uma personagem caricata; uma figura grotesca; um político de quinta, declaradamente xenófobo e fascista; um tarado, para não dizer predador sexual; um gajo simplesmente repugnante consegue chegar à Casa Branca?
E o mais grave é que não foram somente os americanos estúpidos e iletrados que nele votaram. Pelo contrário, a massa eleitoral que o elegeu é composta por pessoas que sabiam muito bem o que estavam a fazer. O que me leva a uma indagação ainda mais arrepiante: se votaram nele é porque concordam, e se identificam, com as ideias delirantes e surrealistas do Trash.
O meu medo, que a cada dia ganha contornos alarmantes, é que a maior economia mundial esteja a enveredar por um caminho perigoso e sem retorno, que pode desembocar num futuro de incertezas, conflitos e intolerância extrema.
O ultra nacionalismo que, de algum tempo para cá, vem ganhando rosto, voz e assento político no velho continente pelos vistos sobrevoou o Atlântico e aterrou na torre de Trump, o aspirante mais improvável da história moderna americana, mas que acaba de receber as chaves do poder.
Talvez um dia a história consiga explicar-me como é que um candidato com o discurso mais arrogante e provocador que alguma vez se assistiu, tratado como uma celebridade inofensiva, uma personagem pitoresca, vai passar a mandar e desmandar nos Estados Unidos, a curto prazo, e em mais de metade do mundo em vias de desenvolvimento e um terço dos já desenvolvidos, a médio prazo.
É com esta hecatombe, um autêntico tsunami político de proporções imprevisíveis e claramente catastróficas, em mente que vou deixar-te. O corpo já reivindica o sono perdido em mais uma noite de labuta. Sei, com toda a certeza, que o corpo vai ceder ao cansaço, mas a cabeça esta deverá permanecer alerta, divagando sobre a improvável vitória da abominável criatura da media, que, a partir de janeiro próximo, atenderá pelo nome de The President of United States of America.
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